Após prisão, presidente afastado da Coreia do Sul é interrogado sobre lei marcial
Yoon Suk Yeol, que também sofreu impeachment, está sob duas investigações que o acusam de tentativa de golpe de Estado

Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul afastado do cargo por impeachment, foi interrogado por autoridades da agência anticorrupção nesta quarta-feira, 15, após ser preso no âmbito de uma investigação que o acusa de golpe de Estado pela tentativa de imposição de lei marcial no país. Ele afirmou estar cooperando com o que chamou de “investigação ilegal” somente para evitar violência.
Sua prisão, a primeira de um presidente sul-coreano em exercício, foi aprovada por um tribunal sul-coreano após ele ignorar uma série de intimações para comparecer a interrogatórios do Escritório de Investigação de Corrupção para Oficiais de Alto Nível (CIO). Uma tentativa anterior de detê-lo foi frustrada, quando guardas presidenciais barraram o acesso dos investigadores à sua residência na área conhecida como Beverly Hills de Seul, onde está escondido desde que foi afastado por impeachment – também devido ao decreto de lei marcial em 3 de dezembro, de curta vigência.
Ele finalmente se entregou e concordou em comparecer para interrogatório depois que mais de 3 mil policiais determinados a prendê-lo marcharam até sua residência nas primeiras horas desta quarta-feira.
“Decidi responder à investigação do CIO — apesar de ser uma investigação ilegal — para evitar derramamento de sangue desagradável”, disse Yoon em uma declaração.
Defesa da lei marcial
Em uma carta publicada na sua página no Facebook nesta quarta-feira, horas depois de ser preso, Yoon defendeu a decisão de declarar lei marcial, segundo ele “uma medida para proteger a soberania e restaurar a ordem”.
“Foi uma resposta necessária para garantir que nossa democracia e o governo funcionassem adequadamente durante este período turbulento”, afirmou o líder, acrescentando que a atuação dos militares naquele momento “foi limitada e precisa” e não violou princípios constitucionais.
Durante o breve período em que a lei vigorou, tropas tentaram invadir o Congresso para impedir que ela fosse votada. A investida fez o prédio ser palco de embates entre assessores munidos de extintores de incêndio e os militares, numa amostra do caos no qual o país mergulhou após o decreto.
Além disso, as forças disseram ter recebido ordem de retirar parlamentares do plenário e autorização para disparar para entrar no local se necessário.
Resistência ao interrogatório
Um promotor acompanhou Yoon na viagem de carro de sua casa até os escritórios do CIO, onde ele entrou por uma porta dos fundos, evitando a mídia. As autoridades agora têm 48 horas para interrogá-lo, após o que devem pedir um mandado para detê-lo por até 20 dias, ou libertá-lo.
No entanto, um funcionário da agência anticorrupção afirmou que Yoon está se recusando a falar e não concordou em gravar as entrevistas com investigadores. O interrogatório foi pausado para o jantar – sopa de pasta de feijão – e pode ser retomado ainda nesta quarta.
Os advogados de defesa chamaram o mandado de prisão de ilegal, denunciando que a equipe criada para investigá-lo não tinha jurisdição legal para pedir sua detenção.
Guardas presidenciais se posicionaram no andar do CIO onde Yoon está sendo interrogado, segundo a Reuters, mas ele provavelmente será mantido no Centro de Detenção de Seul, onde outras figuras relevantes, incluindo a ex-presidente Park Geun-hye e o presidente da Samsung Electronics, Jay Y. Lee, também passaram um tempo.
Separadamente da investigação criminal, o Tribunal Constitucional sul-coreano também está deliberando se deve manter seu impeachment pelo parlamento, ou restaurar seus poderes presidenciais. Yoon faltou a uma audiência na terça-feira 14, adiando o processo que deve durar no máximo 180 dias.