Dezenas de caminhões, veículos blindados e navios transportaram durante a noite desta quinta-feira, 29, tropas chinesas a Hong Kong, dois dias antes de uma manifestação que foi proibida pela polícia da ilha sob o argumento de que poderia terminar em violência.
Segundo a imprensa de Pequim, a movimentação militar faz parte de um rodízio de tropas de rotina. “É uma rotação anual normal das tropas do Exército Popular de Libertação”, informou a agência estatal Xinhua.
O Exército da China mantém milhares de soldados em Hong Kong desde a devolução da ex-colônia britânica a Pequim, em 1997. As novas unidades chegaram por terra, mar e ar, completou a agência.
Os militares chineses não devem, a princípio, intervir em Hong Kong, mas podem assumir tarefas de ordem pública em caso de pedido das autoridades locais da megalópole.
No início de agosto, um vídeo que mostrava soldados do quartel de Hong Kong durante exercícios de dispersão de um protesto foi interpretado como uma advertência aos manifestantes pró-democracia, que se opõem ao Executivo local vinculado a Pequim.
Proibição a protesto
A substituição de tropas acontece no mesmo dia em que a polícia de Hong Kong proibiu uma nova manifestação pró-democracia convocada para sábado 31, alegando razões de segurança e eventuais atos de violência.
A manifestação foi convocada pela Frente Civil dos Direitos Humanos (FCDH), uma organização pacífica responsável pelas maiores concentrações dos últimos meses na ex-colônia britânica, sobretudo a de 18 de agosto, quando reuniu 1,7 milhão de pessoas, sem causar incidentes.
Em uma carta dirigida ao FCDH, a polícia afirma temer que alguns manifestantes cometam “violência ou atos de destruição”.
A polícia destacou que em protestos anteriores, alguns participantes provocaram “incêndios, bloquearam avenidas, usaram bombas incendiárias, tijolos, barras de metal e diversas armas artesanais para destruir bens públicos em grande escala, perturbar a ordem social e provocar ferimentos em outros”.
A proibição foi anunciada quatro dias depois do uso por parte da polícia de jatos de água e, pela primeira vez, de um tiro de advertência com arma de fogo em um protesto autorizado que havia resultado em violência.
A manifestação de sábado marcaria o quinto aniversário da recusa da China em aceitar as reformas políticas em Hong Kong. A resistência do governo a aplicar o sufrágio universal e outras demandas da população desencadeou o chamado Movimento dos Guarda-chuvas, com protestos que ocuparam as ruas da megalópole durante 79 dias, sem nenhuma concessão por parte de Pequim.
“Podem ver que a polícia acelera seu plano de ação e que Carrie Lam (chefe do Executivo de Hong Kong) não tem nenhuma intenção de permitir que Hong Kong recupere a paz. Pelo contrário, busca atiçar a ira dos cidadãos com medidas duras”, declarou Jimmy Sham, líder da FCDH, que pretende apelar contra a decisão.
A Frente Civil convocou os manifestantes para uma concentração no sábado no centro de Hong Kong e uma passeata em direção ao Escritório de Representação, o órgão chinês responsável pelas relações com a megalópole. Mas as duas atividades foram proibidas.
Hong Kong, região semiautônoma do sul da China, vive sua maior crise política desde a devolução pelo Reino Unido, em 1997, com ações quase diárias nas quais os manifestantes denunciam um retrocesso das liberdades e uma crescente interferência de Pequim.
Os protestos começaram com as críticas a um projeto de lei que autorizaria extradições à China. Apesar da suspensão do mesmo pelas autoridades de Hong Kong, o movimento ampliou as reivindicações para pedir mais democracia e a proteção das liberdades.
(Com AFP)