Após o anúncio da renúncia da primeira-ministra britânica Theresa May, o líder da oposição, o trabalhista Jeremy Corbyn, pediu a convocação de uma eleição geral.
May anunciou que deixará seu cargo de líder do Partido Conservador e, consequentemente, de premiê, em 7 de junho. A decisão foi tomada após a primeira-ministra sofrer enorme pressão de membros da oposição e de sua própria legenda por conta do impasse para chegar a um acordo sobre a saída do Reino Unido da União Europeia (UE).
Na sua conta do Twitter, Corbyn afirmou que May “aceitou somente agora o que o país sabe há meses: não pode governar nem liderar o seu dividido e desintegrado partido.”
Segundo o líder do Partido Trabalhista, quem se tornar o novo líder conservador “deve deixar o povo decidir o futuro do nosso país, por meio de uma eleição geral imediata.”
“O Partido Conservador fracassou completamente com o país em relação ao Brexit e é incapaz de melhorar a vida das pessoas ou lidar com as suas necessidades mais urgentes. O Parlamento vive um impasse e os conservadores não oferecem soluções para os outros grandes desafios que o nosso país enfrenta”, acrescentou.
Os conservadores têm maioria no Parlamento britânico, por isso o líder da legenda tem direito de ocupar o cargo de primeiro-ministro. Com a saída de May, o partido deve realizar uma eleição interna para escolher seu sucessor.
Corbyn, contudo, pede a realização de novas eleições legislativas, com a esperança de conquistar mais assentos para os trabalhistas em uma Casa renovada.
O mandato de Theresa May, cheio de adversidades, críticas e até mesmo conspiração dentro de seu próprio partido, entrará para a história como um dos mais curtos na Grã-Bretanha desde a Segunda Guerra Mundial.
May é a segunda mulher a ocupar o cargo de premiê no país. Ela chegou ao poder em julho de 2016 e, antes dela, apenas a também conservadora Margaret Thatcher havia ocupado esse cargo, entre 1979 e 1990.
May continuará no cargo para receber o presidente dos Estados Unidos, que realizará uma visita de Estado ao Reino Unido de 3 a 5 de junho.
Sucessor
O ex-ministro de Relações Exteriores e rosto da campanha a favor do Brexit, Boris Johnson, já havia anunciado o desejo de concorrer ao cargo de May. O conservador confirmou nesta sexta suas intenções.
Johnson, de 54 anos, afirmou que o discurso de anúncio da renúncia de May foi “digno” e destacou o “serviço estoico” da premiê à sua legenda e ao país. “É momento de cumprir o que ela pediu: nos unir e realizar o Brexit”, escreveu, no Twitter.
Na mesma rede social, o atual titular de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, fez uma homenagem a May e afirmou que ela abordou com “determinação e coragem o enorme trabalho de concretizar a saída” do Reino Unido da União Europeia (UE). Hunt é apontado como outro possível sucessor ao cargo de primeiro-ministro.
O líder dos conservadores na Escócia, David Mundell, elogiou também a “dignidade” do discurso de despedida de May, mas fez um pedido para que ela “se concentre em encontrar um sucessor”.
Mundell afirmou que, “talvez injustamente”, a primeira-ministra tenha se transformado em um “impedimento para a resolução do Brexit”, ao perder sua autoridade no parlamento.
Andrea Leadsom, que na quarta-feira renunciou como líder conservadora na Câmara dos Comuns por desacordos com May, e a secretária do Tesouro Liz Truss – ambas possíveis candidatas à liderança conservadora e do Governo – também destacaram a “dignidade” de sua renúncia.
O ex-ministro do Brexit Dominic Raab, outro concorrente ao cargo de premiê, ressaltou a “integridade” da sua antiga chefe e a descreveu como “uma funcionária dedicada, patriota e leal conservadora”.
A primeira-ministra da Escócia, a independentista Nicola Sturgeon, admitiu que teve “profundos desacordos” com a líder conservadora, mas disse que “ser líder é difícil” e desejou a May “o melhor”.
Por parte dos sindicatos, Tim Roache, secretário-geral do GMB, comparou as batalhas internas dos conservadores com a série Game of Thrones.
“Os trabalhadores estão fartos de que os conservadores se concentrem em quem vai suceder May no seu cargo quando milhares de pessoas em todo o país estão perdendo o emprego”, disse Roache.
Posição da UE
A posição da União Europeia sobre os termos da saída do Reino Unido não mudou apesar do anúncio da renúncia de May, afirmou a porta-voz da Comissão Europeia, Mina Andreeva.
“O presidente (da Comissão Europeia, Jean-Claude) Juncker acompanhou o anúncio da primeira-ministra May nesta manhã sem alegria”, disse ela em entrevista coletiva. “O presidente gostou muito e apreciou trabalhar com a primeira-ministra. Ele também respeitará e estabelecerá relações de trabalho com qualquer novo primeiro-ministro, seja quem for”, disse Andreeva.
A porta-voz reiterou que o bloco não mudará o acordo de retirada, mas poderá ajustar a declaração política que o acompanha sobre os laços entre a UE e o Reino Unido depois do Brexit.
(Com EFE e Reuters)