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Após separação forçada por imigração americana, bebê não reconhece sua mãe

Criança de um ano e dez meses fica paralisada ao reencontrar a mãe após separação forçada de 85 dias sob custódia das autoridades migratórias

Por Da redação
27 jun 2018, 11h57

Depois de quase três meses separado da mãe pelas autoridades migratórias americanas, um bebê não conseguiu reconhecê-la ao ser reunificado à família. A salvadorenha Olga Hernandez abraçava-o após 85 dias sem vê-lo ––a criança foi separada originalmente do pai quando tentavam entrar ilegalmente nos Estados Unidos atravessando a fronteira com o México––, mas o pequeno continuava paralisado como se estivesse congelado de medo.

“Ele quando me viu não me reconheceu, estava assustado e eu lhe dizia: ‘meu amor, não me reconhece?’. E ele só me olhava, com seus grandes olhos, ficava olhando como se dissesse: ‘O que está acontecendo, um dia me deixam e agora aparecem?”, relatou à Olga, que pede para ser identificada com um nome falso por temer represálias.

O pequeno, que agora tem um ano e dez meses, mudou de atitude quando viu seu irmão mais velho, de cinco anos. Seus olhos brilharam ao ver o brinquedo que havia lhe trazido: um boneco de Stitch, o extraterrestre que se faz passar por um cachorro no filme de animação da Disney “Lilo & Stitch”. O mais velho tinha um soldadinho de brinquedo e, fazendo ruídos, o aproximou lentamente do boneco de Stitch: “Vou comer Stitch, meu soldado vai comer Stitch!”, gritava.

“O pequeno reagiu nesse momento, quando os dois começaram a interagir com os bonecos. Parece que é aí que já foi entendendo e entrando em si, vendo que estava outra vez com seu irmão e sua mãe”, contou Olga, cujo marido está há meses detido em um centro para imigrantes ilegais em San Diego, na Califórnia.

O reencontro de Olga com seu filho ocorreu em fevereiro deste ano em um aeroporto de Los Angeles, depois de o bebê ficar detido em Los Fresnos, no Texas. As informações só foram reveladas agora.

Olga, seu marido e seus dois filhos saíram em 8 de outubro de 2017 da cidade de Santa Ana, em El Salvador e se integraram a uma caravana de imigrantes centro-americanos conhecida como “Viacrucis Migrante“, que percorre o México anualmente e que neste ano recebeu fortes críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Primeiro viajaram a pé durante dias inteiros e, depois, na Cidade do México, embarcaram em um dos perigosos comboios de mercadorias apelidados de “La Bestia”, que os levou até o norte do país, de onde é possível se aproximar da fronteira com os Estados Unidos de ônibus.

O preço da passagem era alto, mas o bebê, que na época tinha um ano e dois meses, ficou doente e, como não podiam pagar para toda a família, pensaram que era melhor que o pai e o pequeno fossem na frente de ônibus.

O marido de Olga e o bebê chegaram em 12 de novembro de 2017 a um dos postos de entrada nos Estados Unidos e pediram formalmente asilo, mas tiveram uma surpresa: os agentes disseram que eles não tinham os documentos necessários para provar seu parentesco e, portanto, deviam ser separados.

Quando o pequeno foi afastado do pai, Olga ainda estava no México com seu filho mais velho. Em 28 de dezembro, ela e o menor chegaram a um posto fronteiriço dos Estados Unidos para pedir asilo e, depois de serem retidos durante algum tempo, foram liberados e viajaram a Los Angeles, onde vivem alguns de seus tios.

Então, Olga solicitou a custódia de seu filho mais novo, um processo que descreve como “desgastante”, mas que finalmente teve seu momento de “alívio” no encontro do aeroporto.

A família de Olga está atualmente preparando um pedido de asilo para poder ficar nos Estados Unidos e se afastar da violência das gangues em El Salvador. “Tinha medo de que matassem um dos dois ou que os meninos fossem criados sem o pai ou a mãe. E que fossem criados em um ambiente tão violento, que não tivessem infância, porque não se pode ir a um parque ou estar tranquilo fora de casa por medo de um tiroteio”, explicou.

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Olga e seu marido foram separados do bebê como consequência da política de tolerância zero nos Estados Unidos, através da qual o país processa criminalmente os adultos que chegam irregularmente –– isso acaba provocando a separação de famílias, uma vez que as crianças não podem ser privadas de liberdade durante o longo período de tempo em que os adultos aguardam seus julgamentos em centros de detenção formais.

Oficialmente, o governo começou a implementar esta política em abril deste ano, embora supostamente já no final de 2017 as autoridades tenham começado a separar famílias em algumas partes da fronteira. Olga afirma que seu caso foi um dos primeiros e que sua família sofreu “represálias” por denunciar o tratamento recebido.

A política passou a ser fortemente criticada após imagens de crianças sendo abrigadas em jaulas foram publicadas pela imprensa. A divulgação de áudio dessas crianças chorando presas em abrigos que aparentam separá-las em gaiolas, bem como a foto de uma menina hondurenha chorando em frente à guardas de fronteira deram impulso à indignação doméstica e internacional, forçando Trump a recuar. Desde a semana passada, as famílias não podem mais ser separadas e, hoje, um juiz da Califórnia ordenou que o governo reunifique essas famílias em até 30 dias.

(Com EFE)

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