Em uma mudança impulsionada pelo príncipe Mohammed bin Salman bin Abdulaziz Al Saud, o novo governante da Arábia Saudita, o governo local emitiu carteira de habilitação para dez mulheres na segunda-feira (4), com validade a partir de 24 de junho, e deverá autorizar outras 2.000 a dirigir pelas ruas e estradas do país, segundo o Ministério de Imprensa.
A Arábia Saudita é um dos países muçulmanos que mais restringe os direitos das mulheres. Atualmente, elas não são autorizadas a dirigir e a tomar qualquer decisão importante em suas vidas – como viajar, casar-se, divorciar-se, assinar contratos – sem a permissão de um guardião, que pode ser seu pai, marido, irmão, tio ou filho.
Cobertas por um manto negro, com a cabeça coberta e apenas com os olhos à mostra, elas não são autorizadas a frequentar piscinas públicas, a usar adornos nas roupas ou maquiagem que realce seus traços, competir em atividades esportivas nem interagir com pessoas do sexo masculino em público.
Apesar de o governo ter anunciado em setembro de 2017 que acabaria com a proibição, várias ativistas dos direitos das mulheres foram presas nos últimas semanas por cobrar essa promessa, segundo a rede de televisão americana CNN.
No último sábado (02), o governo saudita liberou temporariamente oito dos 17 ativistas presos em maio – cinco mulheres e três homens. A concessão da habitação para dirigir às dez primeiras postulantes parece confirmar a orientação do governo em abrir algumas brechas em favor das mulheres.
Segundo a CNN, o príncipe Mohammed bin Salman incluiu o aumento da participação feminina no mercado de trabalho em seu plano de reforma econômica até 2030. Nos últimos anos, o reino suavizou algumas das restrições à vida das mulheres sauditas, em especial as relacionadas à sua educação. Também as autorizou a frequentar cinemas e estádios esportivos. Em 2015, mulheres foram eleitas como vereadoras, pela primeira vez na história do país.
Segundo a CNN, as dez mulheres autorizadas a dirigir a partir de 24 de junho já tinham carteira de habilitação emitidas por outros países. Tahani Aldosemani, professora assistente na Universidade Príncipe Sattam Bin Abdulaziz, em Al-Kharj, obteve sua habilitação nos Estados Unidos, onde fez pós-graduação.
“Para as mulheres, dirigir não é apenas conduzir um carro. Isso aumenta sua força de caráter, sua auto-estima, sua capacidade de tomar decisões”, disse ela, em declaração divulgada pelo governo.
Pelo Twitter, entretanto, algumas mulheres advertiram que a Arábia Saudita ainda está longe de uma mudança substancial e se mostraram pessimistas quanto, por exemplo, o fim de restrições ao trabalho de mulheres nas áreas da Educação e do Direito. “Isso é ainda uma ditadura opressiva. Para ser honesta, isso tudo não passa de uma propaganda”, escreveu uma mulher identificada no Twitter como Nai.
A reação de leitores à edição de junho da revista Vogue Arabia deixou claro que a permissão para mulheres dirigirem não tem gerado otimismo no mundo feminino saudita. A capa da revista traz a princesa saudita Hayfa bint Abdullah al-Saud, filha do último rei, dirigindo um carro conversível vermelho. Hayfa está vestida de acordo com os preceitos religiosos e mostra apenas parte do seu rosto.
A revista publicou a reportagem como “uma celebração do pioneirismo das mulheres na Arábia Saudita”. Mas, segundo a CNN, leitoras apontaram para a prisão das mulheres que se manifestaram em favor de seus direitos em maio.
Na outra mão, a imprensa estatal as chamou de “traidoras” e de “agentes das embaixadas”. Um porta-voz da área de segurança do governo as acusou de “desestabilizar o reino, violar a sua estrutura social e estragar a consistência nacional”.