Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Argentina: a crise permanente mora ao lado

Por um momento, o combate eficiente ao novo coronavírus amealhou simpatias para o presidente Fernández. Mas agora o pesadelo da economia volta à tona

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 14h06 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

Ao completar 200 dias de governo confinado na Quinta de Olivos, sob quarentena, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, está deixando para trás a prazerosa sensação de alta popularidade que o combate à pandemia lhe trouxe e mergulhando de volta, mascarado, na desastrosa situação econômica do país. Atolado em dívidas por todo os lados, o presidente que se julgava moderado e hábil nos acordos de bastidores vai mostrando a sua cara, e ela é parecidíssima — metaforicamente, claro — com a da vice Cristina Kirchner. Isso se evidencia no congelamento de vários preços, no gasto desenfreado de dinheiro público e até em uma rumorosa tentativa de estatização, que acabou abortada.

Com poucos casos de Covid-19, a Argentina chegou a ser apontada como exemplo no combate à doença. A aprovação de Fernández bateu em impressionantes 82%, em abril, mas caiu quinze pontos em junho e tem se deteriorado na medida em que a economia afunda. A rígida quarentena começou a ser relaxada, mas a contaminação aumentou, o governo voltou atrás e endureceu mais ainda as regras. Na Grande Buenos Aires, 70 000 estabelecimentos comerciais voltaram a fechar. Os bônus de ajuda financeira de 10 000 pesos (750 reais) beneficiaram 9 milhões de pessoas, mas esta e outras medidas do gênero elevaram a dívida pública em 1,2 bilhão de pesos em apenas três meses. No meio do furacão, Fernández determinou a expropriação das ações da Vicentin, exportadora de cereais falida, em nome da preservação de empregos. Nos bairros abastados, ressoaram novamente os cacerolazos, como é chamado lá o ato de bater panelas. No fim, o governo provincial propôs encampar a Vicentin na base de uma parceria público-privada.

ASSINE VEJA

Governo Bolsonaro: Sinais de paz
Governo Bolsonaro: Sinais de paz Leia nesta edição: a pacificação do Executivo nas relações com o Congresso e ao Supremo, os diferentes números da Covid-19 nos estados brasileiros e novas revelações sobre o caso Queiroz ()
Clique e Assine

O nó da dívida externa, maior ponto de estrangulamento do país, permanece em compasso de espera. Em maio, o governo suspendeu o pagamento de títulos públicos comprados por investidores e fundos privados que somam 64 bilhões de dólares. Desta vez, até o FMI entrou na torcida contra o nono calote. Tecnicamente, a Argentina, que no total deve mais de 300 bilhões de dólares (90% do PIB), já entrou em default, mas nenhum credor oficializou a situação. O governo tem prazo até o fim do mês para chegar a um acordo sobre um pagamento dos papéis negociados há vinte anos em Nova York. Depois disso, os credores podem mover ações na Justiça americana que virão a complicar ainda mais a situação fiscal do país.

No âmbito comercial, o Brasil acaba de perder a posição de maior parceiro da Argentina para a China — um dos poucos países que se arriscam a financiar a longo prazo as compras argentinas. “A indústria automotiva, uma das mais importantes para o país, está parada. Há mais de três meses não se manda um carro de lá para o Brasil”, diz Federico Servideo, presidente da Câmara de Comércio Argentino-­Brasileira. Enquanto a antipatia entre o peronista Fernández e Jair Bolsonaro não dá sinais de arrefecer, a Casa Rosada nomeou um político de peso para sua embaixada no Brasil: Daniel Scioli, ex-governador da província de Buenos Aires. A missão dele em Brasília é considerada quase tão difícil quanto a recuperação da economia argentina.

Continua após a publicidade

Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

a partir de 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.