Começou nesta quarta-feira, 26, na Argentina, o julgamento do brasileiro Fernando Sabag Montiel pelo crime de tentativa de homicídio contra a ex-presidente argentina Cristina Kirchner. Em setembro de 2022, enquanto ela cumprimentava apoiadores em Buenos Aires, ele disparou o gatilho a centímetros do rosto da então vice, mas a arma falhou. O atentado chocou a sociedade.
O Tribunal Oral Federal 6 aceitou uma lista de 230 testemunhas, entre as quais Kirchner foi solicitada. O julgamento centra-se em três réus – o agressor, sua ex-namorada, Brenda Uliarte, e o seu empregador, Nicolás Carrizo –, sem abordar possíveis apoios financeiros. Além disso, a promotora por trás da acusação, Gabriela Baigún, não conseguiu incluir a denúncia de suposta motivação política do crime nas acusações.
Os três réus sentaram-se em lugares diferentes do tribunal, cada qual com seus advogados. Sabag Montiel estava com cabelos e barba compridos e uma jaqueta bordada. Uliarte vestia uma jaqueta em tons violeta e Carrizo, jaqueta e camisa branca. Este último, segundo sua equipe jurídica, quer testemunhar em julgamento para provar sua inocência.
O processo contará com audiências semanais de quatro horas e pode durar até um ano.
Relembre o caso
Em 1º de setembro de 2022, Cristina cumprimentava apoiadores em frente ao seu apartamento em Buenos Aires quando o brasileiro Fernando Sabag Montiel tentou atirar duas vezes contra sua cabeça. A arma emperrou e ele foi detido pela multidão.
Mais tarde, a polícia prendeu sua namorada, Brenda, e, semanas depois, Nicolás, amigo e empregador do casal acusado de ser um participante no ataque fracassado. A juíza María Eugenia Capuchetti os indiciou por tentativa de homicídio.
Sabag Montiel, também motorista ocasional de uma locadora de veículos e cheio de de tatuagens com símbolos nazistas, tem uma personalidade “narcisista” e um discurso “extravagante” com elementos de hostilidade a Kirchner, segundo especialistas. Por sua vez, Uliarte é acusada de ser “coautora” e de instigadora, enquanto Carrizo é acusado de cumplicidade.
Kirchner nunca aceitou que o trio, que sobrevivia vendendo algodão-doce na rua, fosse capaz de planejar um assassinato sem apoio.
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Durante a investigação, os advogados da vice-presidente pediram que os promotores investigassem se eles receberam financiamento externo. Foram citados um legislador da oposição, Gerardo Milman, e uma organização de extrema direita chamada Revolução Federal.
Milman está ligado à candidata presidencial Patrícia Bullrich, ministra da Segurança do governo de Javier Milei. Já a organização ficou famosa por lançar tochas contra a Casa Rosada e fazer uma manifestação contra Kirchner com uma imagem de sua cabeça decapitada por uma guilhotina.
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No entanto, segundo o procurador Carlos Rívolo, responsável pela investigação, os responsáveis pelo crime “não receberam qualquer quantia em dinheiro durante os dois anos anteriores ao ataque que sugerisse que tivessem sido financiados para a prática de um ato como o aqui investigado”.
Kirchner não aceitou o desfecho e voltou à narrativa de perseguição política: “Toda a investigação foi caracterizada por evitar saber a verdade”, escreveu nas redes sociais.