Argentina e Irã acordaram em pedir a retirada dos alertas de captura dos iranianos acusados do ataque ao prédio da Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA) em Buenos Aires, em 1994. O trato fazia parte do pacto bilateral assinado em 2013, pelo qual a ex-presidente Cristina Kirchner é acusada de traição à pátria.
Segundo a agência EFE, a informação teria sido confirmada pelo governo do Irã, em uma carta dirigida ao chanceler argentino Jorge Faurie em 4 de novembro. A mensagem aponta que, após a assinatura do Memorando de Entendimento entre os dois países, ambas chancelarias solicitaram à Interpol tirar os alertas vermelhos sobre os iranianos acusados na Argentina pelo atentado, que deixou 85 mortos e segue impune.
O Memorando foi declarado inconstitucional na Argentina e nunca chegou a ser ratificado no Irã.
“Imediatamente depois da assinatura do memorando, os então ministros de Relações Exteriores do Irã e da Argentina, cumprindo com o artigo 7 do mesmo, enviaram uma carta conjunta ao Secretário-Geral da Interpol se referindo ao acordo alcançado entre os dois países para colaborar em nível bilateral (e) solicitaram à Interpol pôr fim às obrigações com relação à causa AMIA”, afirma o texto.
A informação sobre o conteúdo da carta foi confirmada pela Delegação de Associações Israelitas da Argentina (DAIA), um dos autores do processo de investigação do acordo bilateral. A mensagem já foi incluída como evidência no caso dirigido pelo juiz Claudio Bonadio.
No entanto, o ex-Secretário-Geral da Interpol Richard Noble revelou no Twitter que os pedidos de captura contra os iranianos sempre estiveram vigentes e que a Argentina nunca solicitou suspendê-los.
O caso
Em 7 de dezembro, Bonadio determinou a prisão de Cristina, atual senadora, por traição à pátria derivada do suposto encobrimento dos cidadãos acusados do ataque à AMIA por meio desse pacto com o Irã. O juiz pediu ao Senado a eliminação da imunidade parlamentar da ex-presidente.
O expediente judicial foi aberto após a denúncia do promotor Alberto Nisman, realizada em janeiro de 2015 contra ela e vários membros de seu Governo. Segundo Nisman, o pacto entre Irã e Argentina pretendia encobrir os acusados iranianos a fim de melhorar a relação comercial bilateral entre os dois países.
O promotor foi encontrado morto em seu apartamento quatro dias após entregar a denúncia. As condições de sua morte ainda são investigadas.
Cristina e sua equipe negam as acusações desde o início e insistem que o único objetivo do pacto era chegar à verdade do atentado. Em entrevista coletiva na semana passada, a ex-presidente disse que o que realmente foi acordado com o Irã era garantir que os acusados de participação no ataque prestassem depoimento, já que a causa está “totalmente paralisada” porque o Irã não os extradita.
O atentado contra a AMIA, que a comunidade judaica atribui ao Irã e ao grupo xiita Hezbollah, foi o segundo contra judeus na Argentina, depois da morte de 29 pessoas em uma explosão de bomba diante da embaixada israelense. Esse caso também não foi esclarecido até hoje.