Fortaleça o jornalismo: Assine a partir de R$5,99
Continua após publicidade

Artigo: É preciso planejar a retomada

Na crise, deve-se adotar uma atitude pragmática. Agora mais do que nunca, não há vantagem em se prender a conceitos absolutos de liberalismo ou estatismo

Por Robson Braga de Andrade*
Atualizado em 4 jun 2024, 14h04 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Está mais do que na hora de setores públicos e privados se unirem para elaborar um planejamento estratégico, com vistas a viabilizar uma retomada gradual das atividades produtivas, a partir do momento em que as autoridades sanitárias considerarem mais adequado e seguro. As medidas que têm sido implementadas pelo governo — várias delas sugeridas pela Indústria —, vem ajudando as empresas a suportar o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, incluindo a preservação de grande parte dos empregos. Entretanto, não podemos esperar de braços cruzados a hora da reativação da produção, sob pena de a volta às atividades ocorrer de maneira improvisada.

    É necessário que seja elaborado, urgentemente, um plano consistente, que projete cenários e preveja a realização de ações efetivas no pós-pandemia. Como os recursos privados serão limitados, em razão da brusca interrupção de empreendimentos comerciais e industriais, o Estado terá papel fundamental para uma retomada sustentável na economia. Nesse sentido, é urgente facilitar o acesso ao crédito, pois os recursos liberados pelo governo não estão chegando no caixa das empresas. O governo precisa, ainda, sinalizar como pretende criar as condições necessárias para aumentar a produção industrial, que, de acordo com o IBGE, acumulou uma queda de 26% em março e abril. Recente pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que apenas 13% das empresas do setor não sentiram efeitos econômicos negativos da pandemia, enquanto 84% foram prejudicadas.

    ASSINE VEJA

    Governo Bolsonaro: Sinais de paz
    Governo Bolsonaro: Sinais de paz Leia nesta edição: a pacificação do Executivo nas relações com o Congresso e ao Supremo, os diferentes números da Covid-19 nos estados brasileiros e novas revelações sobre o caso Queiroz ()
    Clique e Assine

    Para fazer frente a esse desafio, consideramos que as iniciativas governamentais deverão priorizar o reaquecimento do setor de construção civil; a atração de investimentos em infraestrutura, em especial com concessões na área de transportes; a implementação do novo marco legal do saneamento básico, aprovado recentemente pelo Congresso Nacional; e a expansão do setor elétrico. A mobilização das cadeias produtivas desses e de outros setores, no cenário da severa recessão que se anuncia, será essen­cial para a sobrevivência das empresas e, por consequência, para a preservação de empregos.

    “O governo deve agir de modo a melhorar as condições de financiamento emergencial para as empresas”

    Continua após a publicidade

    Em todas as épocas, sobretudo em períodos de crise, deve-se adotar uma atitude pragmática. Por isso, agora mais do que nunca, não há vantagem em se prender a conceitos absolutos de liberalismo ou estatismo. Sem a participação ativa do Estado, o Brasil e o mundo não conseguirão superar essa grave crise. Em grandes turbulências anteriores, instrumentos e recursos disponibilizados pelos governos foram imprescindíveis para que os países resgatassem o caminho da expansão. Foi assim na Grande Depressão de 1929, quando o governo do presidente americano Franklin Delano Roosevelt implementou o New Deal, ambicioso programa de medidas econômicas e sociais que viabilizou a recuperação da economia dos Estados Unidos e de outras nações afetadas.

    Processo semelhante ocorreu durante o caos financeiro iniciado em 2008, que levou bancos centrais dos principais países a injetar trilhões de dólares na economia global para minimizar o tamanho da queda das atividades econômicas. Naquela ocasião, mesmo o governo americano, acostumado a práticas mais liberais, deixou de lado vários tabus econômicos. Com aporte de recursos públicos, salvou da falência diversas instituições financeiras, seguradoras, companhias aéreas e mesmo segmentos da indústria, como o automotivo.

    No Brasil, para ajudar o país a enfrentar as consequências econômicas da atual pandemia, governo e Congresso já tomaram duas medidas relevantes. A primeira foi o auxílio de 600 reais mensais para trabalhadores informais ou que perderam o emprego — o que está permitindo que as famílias mais pobres se sustentem. A outra foi o programa que autoriza empresas a fechar acordo com empregados para reduzir a jornada de trabalho, com diminuição proporcional no salário. A iniciativa preserva empregos e dá um alívio temporário ao caixa das empresas.
    No atual estágio, a indústria considera que, além da facilitação do acesso ao crédito, é necessário que o governo aja para melhorar as condições de financiamento emergencial para o capital de giro das empresas. Obrigadas a suspender suas atividades, em decorrência da pandemia e das restrições ao comércio, as indústrias tiveram uma queda drástica de receitas, que se mostram insuficientes para pagar despesas fixas, elevando a possibilidade de inadimplência. Essas medidas são essenciais para que os recursos cheguem a tempo de evitar a desestruturação maciça do setor produtivo nacional.

    Continua após a publicidade

    O planejamento estratégico para a superação da crise deve prever ainda a retomada da agenda de reformas estruturais, especialmente a tributária, interrompida devido à eclosão da pandemia. Outras prioridades são a reestruturação do setor elétrico, a atualização de normas para o licenciamento ambiental e o aumento de investimentos em tecnologia e inovação. O combate à insegurança jurídica também é crucial para a recuperação dos investimentos, em particular os estrangeiros; a formação de um ambiente mais propício para negócios; e o aumento da competitividade do país com relação a outras economias. Caso não tome essas providências, o Brasil poderá ficar a reboque na nova ordem mundial que, certamente, emergirá no pós-­pandemia.

    * Robson Braga de Andrade, empresário, é presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)

    Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 9,98 por revista)

    a partir de 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.