As dores de cabeça de Zelensky antes de um Natal atribulado
Presidente ucraniano viaja aos EUA para suplicar por financiamento e apoio, em meio a escassez de suprimento de armas e avanços no campo de batalha
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vive um de seus piores momentos desde o início da invasão russa, em fevereiro do ano passado. Por quase 22 meses, a resistência ucraniana contou com o apoio irrestrito de seus aliados no chamado mundo ocidental para conter os avanços do exército da Rússia em seu território, mas impasses políticos no Congresso americano fecharam a torneira da preciosa ajuda bélica que fluía quase ininterruptamente dos Estados Unidos até então. Nesta terça-feira, 12, o líder de Kiev pousa em Washington, D.C., para renovar o suplicante apelo aos senadores e deputados do país, sob pressão de evitar reveses no campo de batalha.
A caminho do inverno, com dezenas de milhares de ucranianos mortos, um enorme déficit orçamental e avanços russos no leste do país, Zelensky coleciona uma série de dores de cabeça antes do que deve ser um Natal atribulado. Em visita ao Capitólio, o presidente ucraniano deve pressionar os legisladores americanos a renovarem o financiamento quase esgotado, antes de se reunir com o presidente Joe Biden na Casa Branca.
“Se há alguém que se beneficie por questões não resolvidas no Capitólio, é apenas [o presidente russo Vladimir] Putin e sua camarilha doente”, disse Zelenskiy em discurso em Washington, na segunda-feira 11, para uma audiência composta por militares americanos.
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Vantagem russa
Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, afirmou na segunda que documentos da inteligência dos Estados Unidos mostram que “a Rússia parece acreditar que um impasse militar durante o inverno drenará o apoio ocidental à Ucrânia” e, em última análise, dará à Rússia uma vantagem na guerra.
Segundo Watson, a Ucrânia ainda tem tido sucesso em conter avanços das forças russas. No entanto, Putin continua a enviar soldados para o campo de batalha ininterruptamente, mesmo com pesadas baixas e perdas de equipamento desde outubro, o que vem colocando pressão sobre o exército ucraniano.
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O tempo é curto. A Casa Branca disse ao Congresso na semana passada que o governo não terá mais fundos para ajudar Ucrânia após o final do ano. O Congresso aprovou mais de US$ 110 bilhões (R$ 543 bilhões, aproximadamente) para a Ucrânia desde a invasão russa, mas não houve novos financiamentos desde que o Partido Republicano assumiu o controle da Câmara em janeiro, após obterem maioria nas eleições do ano passado.
Impasse no Congresso
A viagem de Zelensky ocorre apenas três dias antes do recesso anual do Congresso, que começa nesta sexta-feira, 15. Até agora, porém, os republicanos na Câmara dos Deputados e no Senado recusaram-se a aprovar um projeto de lei que desbloquearia mais US$ 60 bilhões (R$ 296 bilhões) em ajuda à Ucrânia.
Biden, um importante aliado do líder ucraniano, é a favor da continuidade dos aportes, mas o montante ficou retido devido a uma disputa partidária no Congresso. Deputados e senadores republicanos, que vêm pressionando o governo por mais austeridade financeira, defendem que se algum dinheiro deve ser gasto é com a segurança interna dos Estados Unidos, com foco na proteção da fronteira sul com o México, para conter a entrada de imigrantes ilegais no país.
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Na semana passada, uma votação no Senado viu um pacote que incluía o financiamento à Ucrânia ser bloqueado. Por isso, na visita, Zelensky marcou uma reunião com o republicano Mike Johnson, o presidente da Câmara. Biden expôs a situação em termos severos, dizendo que “a história julgará severamente aqueles que virarem as costas à causa da liberdade”.
Temor de uma guerra mais ampla
Putin, que declarou na semana passada que vai concorrer novamente à presidência da Rússia em 2024, aposta que conseguirá obter uma grande vitória estratégica contra o Ocidente se vencer a guerra na Ucrânia, contando com a fadiga do Ocidente em relação ao apoio a Kiev. A opinião é partilhada por Biden, Zelensky e legisladores europeus, que se juntarão ao apelo do presidente ucraniano ao Congresso nesta terça-feira.
O líder da Casa Branca acredita que, em último caso, o exército dos Estados Unidos poderá ser forçadas a combater a Rússia caso um Putin descontrolado e empoderado decida invadir um aliado europeu da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), aliança militar liderada pelos americanos. A regra é que se um dos membros do grupo é atacado, todos os outros colegas são obrigados a defendê-lo com seu poderio militar.
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Reveses no campo de batalha
Apesar da ajuda militar dos americanos e europeus ter permitido que a Ucrânia resistisse às investidas iniciais da Rússia, Kiev não conseguiu romper as linhas defensivas do inimigo com uma alardeada contraofensiva, lançada no início do ano. Agora, Moscou voltou a realizar ataques massivos no leste do país, sem que os ucranianos registrassem os ganhos esperados.
“À medida que o inverno se aproxima, estamos observando um aumento dos ataques de mísseis e drones por parte das forças armadas russas contra infraestruturas civis”, disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, na segunda-feira. “Isso deve continuar, especialmente em relação à infraestrutura energética”.