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As políticas que estão em jogo nas eleições presidenciais no Paraguai

Continuidade de política de 70 anos do Partido Colorado se opões a mudanças propostas pelo Partido Liberal que podem afetar o Brasil e vizinhos

Por Carolina Marins Atualizado em 22 abr 2018, 06h59 - Publicado em 22 abr 2018, 06h59

Os paraguaios vão às urnas hoje (22) para escolher o presidente que vai governar o país pelos próximos cinco anos. Embora o pleito conte com dez candidatos, apenas dois despontam como favoritos: Mario Abdo Benítez, o Marito, candidato do Partido Colorado, e Efraín Alegre, candidato pelo Partido Liberal. Os dois apresentam propostas políticas consideravelmente distintas, com consequências que podem afetar seus vizinhos, inclusive o Brasil.

Marito, empresário de 46 anos, é favorito segundo as pesquisas eleitorais mais recentes, com quase 20 pontos percentuais de vantagem. No entanto, rachas dentro do partido Colorado e uma nova união entre o partido liberal e a esquerda podem trazer surpresas nos resultados.

Se eleito, Marito precisará tomar decisões importantes em nome da governabilidade. Apesar de pertencer ao mesmo partido do atual presidente, Horácio Cartes, os dois fazem oposição um ao outro e a continuidade das políticas de Cartes não está assegurada. Durante as primárias, o atual presidente apoiou a candidatura de Santiago Peña, seu ministro das Finanças, que acabou derrotado por Marito.

Antes disso, em 2017, Cartes tentou aprovar uma emenda constitucional que permitiria a reeleição no Paraguai –as regras do país vizinho determinam que uma pessoa pode exercer um único mandato presidencial durante sua vida– amplamente criticada pela população. Na época, Marito se opôs à emenda e ficou contra o presidente. No entanto, os dois trocaram apoio e buscaram passar uma imagem de um Colorado unido durante a campanha presidencial.

“Os partidos políticos paraguaios, especialmente os tradicionais (Colorado e Liberal), aparentam ser unificados, mas apenas aparentam. Eles são a soma de facções que coexistem dentro de si. Se aliam a cada eleição e, uma vez terminada a disputa eleitoral, retornam aos seus cursos, mesmo com suas próprias agendas sendo diferentes das de seus partidos”, explica Marcos Perez Talia, cientista político pela Universidade de Salamanca, na Espanha, e advogado pela Universidade Nacional de Assunção, no Paraguai.  Segundo o especialista, para governar, Marito terá que escolher entre dois cenários possíveis: ou concordar com Cartes ou formar uma coalizão parlamentar com facções opostas.

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Marito representaria para o Paraguai e para os seus vizinhos uma continuação dos ideais do Partido Colorado, no poder há 74 anos, com um único hiato de 4 anos durante o governo de Fernando Lugo. Poucas mudanças são esperadas para seus cinco anos na presidência. “A vitória de Mario Abdo garantiria a continuidade do modelo conservador do partido Colorado: estabilidade macroeconômica, impostos baixos –especialmente para os agro-exportadores– e dívida externa com títulos soberanos para financiar o déficit de infraestrutura. Entre suas propostas, não estão previstas mudanças substanciais para os próximos cinco anos”, afirma Perez Talia.

Efraín Alegre, por outro lado, representaria mudanças importantes no país que poderiam afetar inclusive Brasil e a Argentina. Dentre suas principais proposta estão mudanças nas políticas tributária e energética do Paraguai. Seu objetivo é baixar drasticamente o preço das contas de luz –algo que o atual presidente considera impossível de ser feito sem sérias consequências econômicas– e recuperar a soberania energética paraguaia.

“Em 2023, Paraguai e Brasil terão que se sentar para renegociar o tratado de Itaipu. Se Alegre vence, ele promete recuperar a soberania energética. É preciso lembrar que a maior produção das usinas hidrelétricas de Itaipú e Yacyretá vai para o Brasil e para a Argentina”, explica o cientista político.

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Colorados e Liberais

Uma mudança importante na eleição deste ano é a união entre as legendas paraguaias de esquerda com o Partido Liberal em apoio a Alegre de forma a fazer frente ao partido Colorado, sempre muito forte no país e no poder desde 1947, inclusive durante o período de ditadura militar. Desde a redemocratização, os colorados têm vencido com folga os pleitos presidenciais.

Fernando Lugo é desde então a única exceção à regra: ele conseguiu se eleger pelo Partido Liberal em 2008. Na época, seu partido e as esquerdas também haviam se unido buscando derrotar os colorados. A união esquerdista garantiu sua chegada ao poder. Quatro anos mais tarde Lugo foi destituído do cargo através de processo de impeachment.

O fato provocou rachaduras no relacionamento entre os liberais e a esquerda, pois votos aliados foram decisivos na hora de impedir Lugo em 2012. Além disso, a união do ex-presidente com Horácio Cartes durante a votação da proposta de emenda pela reeleição incomodou a esquerda.

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Segundo Peres Talia, muito trabalho foi necessário para apagar essas pendências do passado em nome da eleição de Alegre. “Eles [os grupos] decidiram fazer uma “limpa” [nesse passado] na esperança de que seus eleitorados entendessem que apenas unidos têm chances reais de derrotar o poderoso partido Colorado”.

Uma diferença fundamental em relação à união em torno da campanha de Alegre e àquela de Lugo, em 2008, é a unidade do Partido Colorado: há 10 anos, o partido enfrentava uma crise interna muito forte. “No cenário atual, O Partido Colorado está unido em torno da candidatura de Mario Abdo. Isso não garante necessariamente o triunfo do Colorado, já que Efraín Alegre também conseguiu unir toda a oposição. No entanto, as margens de triunfo de um ou outro seriam menores que dez anos atrás”, afirma o cientista político.

Além do presidente, os paraguaios também escolhem hoje seu futuro vice-presidente –que também mostra uma vantagem dos colorados–, 45 senadores, 80 deputados e 17 governadores, todos para mandatos de cinco anos. Espera-se que 70% dos cidadãos aptos a votar compareçam às urnas — o voto é facultativo no Paraguai.

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