Assange andava de skate, jogava bola e dava festas em embaixada
Fundador do Wikileaks recebia muitos convidados na representação diplomática equatoriana em Londres e deixava o local sujo
O fundador do Wikileaks, Julian Assange, preso na última quinta-feira 11, incomodava os funcionários e diplomatas da embaixada do Equador em Londres com alguns de seus hábitos, durante os sete anos em que passou refugiado no local.
Segundo reportagem do El País, o jornalista deixava os cômodos da representação diplomática sujos, andava de skate e jogava bola dentro da embaixada, organizava festas e recebia muitas visitas, atrapalhando o dia a dia dos funcionários.
O jornal ouviu depoimentos de alguns dos muitos guardas espanhóis que cuidavam da segurança do local. Eles são funcionários da UC Global, uma empresa de defesa e segurança privada registrada em Cádiz, no sul da Espanha.
Os guardas observaram em Assange comportamentos que consideraram excêntricos. O jornalista fazia da embaixada sua própria casa, ao dar entrevistas vestido só da cintura para cima e de cueca para televisões.
Alguns funcionários também se queixaram que o australiano deixava o banheiro sujo após utilizá-lo e usava o fogão elétrico da cozinha pequena e sem exaustor para preparar refeições.
O fundador do Wikileaks também desafiava normas que exigiam que ele pagasse por suas contas médicas e telefônicas, assim como fizesse a limpeza de seu gato de estimação.
Um vídeo divulgado pelo jornal mostra Assange andando de skate em um pequeno quarto.
A grande quantidade de visitas que recebia também incomodava os diplomatas equatorianos. O embaixador aprovava cada um dos convidados. Lady Gaga, o ator John Cusack, Yoko Ono e a modelo Pamela Anderson foram alguns dos que passaram pela embaixada.
Segundo o El País, Assange também organizava pequenos eventos e festas de aniversário no local.
Os guardas relataram como o confinamento trazia angústia para Assange. Certa vez, os agentes tiveram de entrar em seu quarto para tranquilizá-lo. “Hóspede” é o termo que os seguranças usavam para se referir ao jornalista. Coloquialmente, alguns o chamam de Juli.
O jornalista também era sempre monitorado por câmeras. Uma investigação do jornal The Guardian calculou em 5 milhões de dólares (19,4 milhões de reais) o custo da operação realizada pela embaixada equatoriana para proteger e vigiar Assange.
O caso
Assange foi detido na quinta-feira 11 na embaixada do Equador em Londres, onde havia obtido asilo há sete anos para escapar de uma ordem de detenção britânica por acusações de estupro e agressão sexual na Suécia, que ele sempre negou.
Apesar dos casos terem sido engavetados, promotores suecos sinalizaram uma possível reabertura do inquérito após o anúncio de sua detenção. A advogada do réu, Jennifer Robinson, afirmou que ele está disposto a cooperar com as autoridades suecas caso a reabertura aconteça.
O australiano de 47 anos também é alvo de um pedido de extradição dos Estados Unidos. No ano de 2010, o WikiLeaks divulgou mais de 90.000 documentos confidenciais relacionados a ações militares de Washington no Afeganistão e cerca de 400.000 documentos secretos sobre a guerra no Iraque, em um dos maiores vazamentos de dados secretos da história.
Em entrevista ao The Guardian, o presidente equatoriano, Lenín Moreno, explicou que retirou o asilo político de Assange porque o australino teria criado um “centro de espionagem” na embaixada em Londres.
O líder equatoriano afirmou, ainda, que o governo anterior ofereceu equipamentos que permitiram a Assange “interferir nos assuntos de outros Estados”.
“Não podemos permitir em nossa casa, a casa que abriu suas portas, nos tornarmos um centro de espionagem. Essa atividade viola as condições de asilo”, acrescentou, assegurando que a decisão de retirar o asilo de Assange “não é arbitrária, mas se baseia no direito internacional”.