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Assessor da Casa Branca: ‘Trabalho para bloquear a agenda de Trump’

Autor de artigo anônimo, publicado pelo 'New York Times', diz não estar sozinho na 'resistência silenciosa' ao presidente 'amoral'

Por Denise Chrispim Marin
Atualizado em 5 set 2018, 21h02 - Publicado em 5 set 2018, 20h31
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  • Em uma iniciativa inédita, o jornal The New York Times publicou nesta quarta-feira artigo de opinião de uma autoridade anônima do governo de Donald Trump que admite ser parte de uma equipe de altos funcionários disposta a fazer uma “resistência silenciosa” e a “frustrar partes da agenda e as piores inclinações” do presidente dos Estados Unidos.

    “O dilema – que ele não entende totalmente – é que muitos dos altos funcionários de seu governo estão trabalhando diligentemente de dentro para frustrar partes de sua agenda e suas piores inclinações. Eu sei. Eu sou um deles”, escreveu. “O resultado é uma presidência dividida em dois”, completou.

    No texto, o autor relata os sussurros de colegas de trabalho que, diante da instabilidade gerada pelo comando de Trump, cogitaram evocar a 25ª Emenda Constitucional para iniciar um processo legal de remoção do presidente de seu cargo.

    Com o título “Sou parte da resistência dentro do governo Trump”, o artigo foi publicado com uma ressalva do jornal. Em um parágrafo destacado, o Times diz ter dado um “passo raro” e explica que o deu a pedido do autor, cujo emprego poderia ser ameaçado pela publicação.

    “Nós cremos que publicar este artigo anonimamente é a única maneira de trazer uma perspectiva importante aos nossos leitores”, assinalou o jornal.

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    O autor justifica ser principal dever para com o país – e não para com o presidente, a quem acusa de “agir continuamente de maneira prejudicial à saúde na nossa República”. Também alega que Trump não mantém vínculos com os ideais conservadores que defendeu em sua campanha aos eleitores, como a liberdade de expressão, de imprensa, de mercados.

    Ao contrário, diz o texto, Trump ataca o livre comércio, a democracia e trata a imprensa como “inimiga do povo”. Seus “sucessos” em temas como a desregulamentação, a reforma tributária e o fortalecimento da área militar, na opinião do autor, se deram “apesar do estilo de liderança do presidente”.

    “A raiz do problema é a amoralidade do presidente. Qualquer um que trabalhe com ele sabe que ele não está atrelado a nenhum princípio básico de discernimento que guie sua tomada de decisão”, resume o assessor anônimo.

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    “Por isso, muitos dos indicados por Trump se comprometeram a fazer o que puder para preservar nossas instituições democráticas enquanto frustram os impulsos mais equivocados do senhor Trump até que ele esteja fora do cargo.”

    No artigo, o assessor anônimo argumenta que muitos funcionários da Casa Branca estão trabalhando para proteger seus projetos dos “caprichos” do presidente. Relata ainda a queixa de um colega, exasperado com as mudanças de ideias de Trump sobre as políticas do governo de um minuto para o outro.

    O autor se vale de adjetivos como errático, impulsivo, competitivo, mesquinho e ineficaz para descrever o presidente dos Estados Unidos. Oferece ainda exemplos de atitudes reprováveis tomadas por Trump na seara da Política Externa. Para o assessor, o líder americano demonstra clara preferência por autocratas e ditadores, como os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

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    Enquanto o governo atua para capturar e punir espiões russos, argumenta o assessor, Trump reluta em expulsá-los. O presidente americano também teria sido contrário à imposição de mais sanções sobre Moscou como represália ao envenenamento, no Reino Unido, de um ex-espião russo.

    “Mas sua equipe de Segurança Nacional conhecia melhor – essas medidas tinham de ser tomadas, para impor a responsabilidade a Moscou”, afirmou.

    O artigo foi publicado um dia depois das reportagens sobre o novo livro do jornalista Bob Woodward, Fear: Trump in the White House (Medo: Trump na Casa Branca, em tradução livre), a ser lançado em 11 de setembro. A obra traça um perfil do presidente americano e narra sua tomada de decisões. Entre outros, relata justamente como várias autoridades do governo roubam documentos de sua mesa para impedir que os assine.  O jornalista descreve esses atos como “golpes de Estado administrativos”. 

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    Questionado sobre o artigo, Trump atacou o Times e o chamou repetidamente de “fracassado”. Ao lado de xerifes que recebera na Casa Branca, o presidente dos Estados Unidos repetiu seus insultos favoritos contra a imprensa americana.

    “Isso é o que temos que lidar. E vocês sabem, a mídia desonesta (…) é realmente uma desgraça. Eu vou dizer uma coisa: ninguém fez o que este governo tem feito para aprovar (os projetos)”, declarou, para em seguida elogiar sua própria gestão. “E o New York Times está fracassando. Se eu não estivesse aqui, eu acreditaria que o New York Times provavelmente não existiria.”

    Em um comunicado, a Secretaria de Imprensa da Casa Branca alegou que o jornal deve se desculpar pela publicação do artigo anônimo. “Nós estamos desapontados, mas não surpresos, que o jornal tenha escolhido publicar este artigo patético, temerário e egoísta”, afirmou. “Este é apenas mais um exemplo do esforço concertado da mídia liberal para desacreditar o presidente.”

    A Secretaria chama o autor anônimo do artigo de “covarde”, o acusa de colocar “seu próprio ego na frente do povo americano” e o desafia a pedir demissão.

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