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‘Até que me matem’: Pressão sobre Lukashenko é cada vez maior

Presidente da Bielorrússia viu sua base de apoiadores se voltar contra ele; Resultado eleitoral é contestado pelo Ocidente

Por Da Redação
Atualizado em 17 ago 2020, 13h04 - Publicado em 17 ago 2020, 12h53
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  • Por 26 anos, Alexander Lukashenko governou praticamente incontestado a Bielorrússia com as facilidades que uma ditadura travestida de democracia proporcionam – supressão da oposição, jornalismo só com notícias boas e sem nenhuma crítica, além do populismo. No entanto, as eleições de 2020 chegaram e uma candidata opositora conseguiu, apesar da derrota nas urnas, mobilizar uma sociedade cansada do autocrata.

    Enquanto discursava em uma fábrica de tratores nesta segunda-feira, 17, Lukashenko foi recebido sob gritos de “mentiroso” e pedidos de renúncia. Pela primeira vez, o presidente viu sua base eleitoral se voltar contra ele. Funcionários que vestiam as cores brancas e vermelhas (símbolo das manifestações) e trabalhadores ao redor do país entraram em greve contra o governo pedindo novas eleições. Até a fachada da sede da televisão pública foi tomada por manifestantes.

    Vocês não viverão para ver o dia em que farei qualquer coisa sob pressão”, disse Lukashenko, no poder desde 1994, aos trabalhadores que gritavam palavras de ordem.

    De seu auto-exílio na Lituânia, citando temores pela segurança de seus filhos, a candidata opositora nas eleições presidenciais, Svetlana Tikhanovskaya, disse estar pronta para liderar o país. Lukashenko, porém, é irredutível.

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    Apesar de disposto a compartilhar o poder com outras lideranças políticas, para o presidente, novas eleições não vão ocorrer “até que me matem”. Segundo a agência estatal de notícias Belta, Lukashenko anunciou que poderia entregar o poder após um referendo sobre possíveis mudanças na Constituição. Segundo ele, as mudanças já estão em andamento, mas não aconteceram sob pressão.

    Desde a noite da eleição, no dia 9 de agosto, a ex-república soviética se tornou um constante palco de manifestações contra o resultado do pleito. Logo após a ida às urnas, o país de 9 milhões de habitantes viu a maior manifestação da oposição em sua história, com milhares de pessoas nas ruas da capital, Minsk, pedindo a renúncia do líder.

    Lukashenko, por sua vez, cita um plano apoiado por potências estrangeiras para desestabilizar a Bielorrússia. Ele afirma que os manifestantes são criminosos e desempregados.

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    O protesto do último domingo, 16, ocorreu pacificamente, em contraste com os anteriores que foram marcados por repressão, violência, ao menos 7.000 prisões, e uma morte. Alyaksandr Taraykouski foi morto no dia 10 de agosto, data seguinte às eleições. A versão da polícia diz que um explosivo detonou nas mãos do manifestante enquanto ele se preparava para atacar os agentes. Vídeos gravados no momento mostram outra história: a 10 metros da barreira policial, Taraykouski estava de braços levantados e, em instantes, sua mão desce para o peito, já ensanguentado. Ao cair no chão, ele é cercado por policiais.

    As autoridades, que no final de semana pareciam dar certos sinais de recuo, anunciaram a libertação de mais de 2.000 das 6.700 pessoas detidas durante as manifestações. Alguns manifestantes que foram liberados denunciaram torturas durante a detenção. Eles afirmaram que não tiveram acesso a água e comida, que foram agredidos e queimados com cigarros. Além disso, dezenas de pessoas foram colocadas em celas com capacidade para quatro ou seis detentos.

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    Nas redes sociais ao longo da última semana, dezenas de soldados bielorrussos jogaram fora seus uniformes, negando-se a participarem da repressão contra a população.

    De imediato, Lukashenko recebeu cumprimentos de aliados históricos, como a Rússia, após sua vitória. Lukashenko teve uma conversa telefônica com Vladimir Putin  no final de semana, na qual abordou os acontecimentos, que considera uma “agressão contra seu país e toda a região”. O presidente bielorrusso afirma que o seu país enfrenta uma “revolução colorida” – nome dado a várias revoltas registradas em países da ex-União Soviética nos últimos 20 anos – com “elementos de interferência externa”.

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    Lukashenko disse que ele e Putin concordaram com a necessidade de seguir fortalecendo as relações entre os dois países e rejeitou a possibilidade de mediação estrangeira. “Não precisamos de nenhum governo estrangeiro, de nenhum mediador”, afirmou Lukashenko, segundo a agência Belta.

    No entanto, o resultado da eleição não foi bem recebido no Ocidente. Nesta segunda-feira, o governo do Reino Unido afirmou que não aceita os resultados da eleição presidencial e deseja adotar sanções contra os responsáveis pela repressão no país. O governo britânico instou uma investigação da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), entidade internacional que fiscaliza eleições no continente europeu.

    Lukashenko e a OSCE possuem uma longa história. Em 2001, em sua primeira reeleição, a organização denunciou “falhas fundamentais” no processo eleitoral, entre elas censura da mídia. A Bielorrússia ocupa a 153ª posição, entre 180 países, no ranking de liberdade de imprensa feito pela organização Repórteres sem Fronteiras.

    Casos de intimidação a opositores e de bloqueios arbitrários de candidaturas já aconteciam em 2001, segundo a OSCE.  Nas últimas eleições parlamentares, em 2019, fiscais da OSCE relataram urnas fraudadas e, em alguns casos, foram explicitamente impedidos de checá-las. Na ocasião, todos os 110 assentos da câmara baixa do Parlamento foram conquistados por apoiadores de Lukashenko.

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