Ativistas pró-democracia são presos em Hong Kong
Caso acontece depois de polícia proibir a realização de uma manifestação prevista para sábado e da China movimentar suas tropas na fronteira
Vários proeminentes ativistas pró-democracia foram presos nesta sexta-feira, 30, em Hong Kong, no dia em que a polícia proibiu a realização de uma manifestação que estava prevista para o sábado, 31. Entre os políticos detidos está Joshua Wong, secretário-geral do partido Demosisto e rosto do Movimento dos Guarda-Chuvas de 2014.
“Nosso secretário-geral Joshua Wong foi preso esta manhã por volta das 7h30″, postou no Twitter o Demosisto. “Ele foi empurrado à força para dentro de uma van particular na rua em plena luz do dia. Nossos advogados estão trabalhando no caso agora”, acrescentou.
Além de Wong, Agnes Chow, outra conhecida representante da legenda, também foi detida nesta sexta. Os dois foram soltos, após pagarem fiança.
O ativista independente Andy Chan foi preso no aeroporto na quinta-feira 29 ao tentar embarcar em um avião para o Japão.
O deputado Cheng Chung-tai, do partido Civic Passion, também foi detido, segundo a legenda. Não ficou claro porque ele foi colocado sob custódia.
A polícia Hong Kong proibiu uma nova manifestação pró-democracia convocada para sábado, alegando razões de segurança e eventuais atos de violência.
A manifestação de sábado foi convocada pela Frente Civil dos Direitos Humanos (FCDH), uma organização pacífica responsável pelas maiores concentrações dos últimos meses na ex-colônia britânica, sobretudo a de 18 de agosto que reuniu 1,7 milhão de pessoas – segundo os organizadores -, sem incidentes.
Em uma carta dirigida ao FCDH, a polícia afirma temer que alguns manifestantes cometam “violência ou atos de destruição”.
A polícia destacou que em protestos anteriores alguns participantes provocaram “incêndios, bloquearam avenidas, usaram bombas incendiárias, tijolos, barras de metal e diversas armas artesanais para destruir bens públicos em grande escala, perturbar a ordem social e provocar ferimentos em outros”.
A proibição foi anunciada quatro dias depois do uso por parte da polícia de jatos de água e, pela primeira vez, de um tiro de advertência com arma de fogo em um protesto autorizado que havia resultado em violência.
“Podem ver que a polícia acelera seu plano de ação e que Carrie Lam (chefe do Executivo de Hong Kong) não tem nenhuma intenção de permitir que Hong Kong recupere a paz. Pelo contrário, busca atiçar a ira dos cidadãos com medidas duras”, declarou Jimmy Sham, líder da FCDH.
A Frente havia convocado os manifestantes para uma concentração no sábado no centro de Hong Kong e uma passeata em direção ao escritório de representação do governo chinês na ex-colônia britânica. Mas as duas atividades foram proibidas. A FCDH pretende apelar contra decisão.
A manifestação de sábado marcaria o quinto aniversário da recusa da China a aceitar reformas políticas em Hong Kong. A resistência do governo a aplicar o sufrágio universal e outras demandas da população desencadeou o chamado Movimento dos Guarda-chuvas, com protestos que ocuparam as ruas da megalópole durante 79 dias, sem nenhuma concessão por parte de Pequim.
Hong Kong, região semiautônoma do sul da China, vive sua maior crise política desde a devolução pelo Reino Unido em 1997, com ações quase diárias nas quais os manifestantes denunciam um retrocesso das liberdades e uma crescente interferência de Pequim.
Os protestos começaram com as críticas a um projeto de lei que autorizaria extradições à China. Apesar da suspensão do mesmo pelas autoridades de Hong Kong, o movimento ampliou as reivindicações para pedir mais democracia e a proteção das liberdades.
Desde o começo de junho, mais de 900 pessoas já foram presas em Hong Kong. Ontem, após proibir a manifestação de sábado, o governo chinês transportou dezenas de caminhões, veículos blindados e navios para Hong Kong, no que chamou de um rodízio de rotina de tropas.
As imagens dos equipamentos militares e tropas entrando na região semiautônoma foram transmitidas pela televisão estatal chinesa e foram interpretadas pela comunidade internacional como um alerta para os manifestantes que tentarem desafiar a proibição às manifestações imposta pelo governo.
(Com AFP)