O primeiro-ministro da Austrália, Scott Morrison, propôs que a Organização Mundial da Saúde (OMS) tenha poder para enviar investigadores para os epicentros de doenças, sem prévia autorização do país afetado, para evitar novas pandemias como a de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus.
Aliado de primeira hora do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Morrison não se juntou ao boicote promovido pela Casa Branca contra a OMS. No dia 15 de abril, o líder americano congelou o financiamento de 400 milhões de dólares por concluir que a OMS fora complacente com a China e não teria agido de forma correta na administração da crise. Mas o primeiro-ministro australiano se juntou ao coro de governantes que questionaram a eficácia da direção da OMS em gerir grandes operações e sugeriu que uma autoridade independente audite a organização.
O movimento de Morrison em favor do fortalecimento da OMS surgiu depois de China ter condenado o pedido da Austrália de uma investigação independente sobre as circunstâncias que geraram a Covid-19. Segundo a imprensa australiana, o primeiro-ministro pediu apoio do presidente da França, Emmanuel Macron, da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, do presidente dos Estados Unidos,, e do bilionário Bill Gates, um dos maiores financiadores privados da OMS.
Publicamente, somente o governo francês comentou a proposta australiana de reformulação da organização. “A urgência agora é para a coesão, e essa não é a hora para falar sobre isso”, disse um porta-voz da Presidência. Um recado adicional de Macron, porém, foi dirigido à China, acusada de maquiar os números de mortes na cidade de Wuhan, onde o vírus começou a se espalhar em dezembro de 2019. “Ele (Macron) reafirmou a necessidade de transparência de todos, não somente da OMS”.
Fundada em 1948, a OMS é uma organização técnica e consultiva sem poder de decisão ou de impor uma diretriz aos países-membros. A entidade se limita a fazer recomendações aos governos. No caso da atual pandemia, defende o isolamento e o distanciamento social. A proposta de Morrison daria à organização o poder de enviar agentes para um país, sem a autorização do governo local, para investigarem os fatos por trás de um surto de uma nova doença.
Solidariedade comunista
Em diferentes tons, autoridades pelo mundo criticaram a OMS. Algumas de forma construtiva, outras mais incisivas e com acusações mais duras, como Trump. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Ernesto Araújo, chegou a afirmar nesta quarta-feira que o fortalecimento da OMS seria o “primeiro passo na construção da solidariedade comunista planetária”.
Tanto Trump quanto Morrison são criticados em seus respectivos países devido a uma resposta inicial lenta da OMS para a pandemia. Enquanto o australiano tem um histórico de responder a emergências nacionais de forma dúbia e controversa, como durante os incêndios florestais no país, Trump parece buscar na China ou na OMS um culpado para o número de infectados e mortos nos Estados Unidos.