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Austrália inicia investigação sobre os incêndios florestais de 2019

Inquérito durará seis meses e tem como objetivo melhorar a resposta do país em futuras queimadas, que virão cada vez mais potentes

Por Da Redação
25 Maio 2020, 17h30

A Austrália começou nesta segunda-feira, 25, as primeiras audiências sobre os incêndios florestais que mataram 33 pessoas, destruíram milhões de hectares e ceifaram a vida de incontáveis animais. Segundo o primeiro-ministro, Scott Morrison, o inquérito busca preparar o país para a nova temporada do fogo e ver se há necessidade de alteração das leis para melhorar resposta a esse tipo de situação, uma vez que os incêndios tendem a ser cada vez piores.

“A perda trágica de vidas, a destruição de casas, a perda significante da vida selvagem e os milhões de hectares da floresta que foram devastados continuam a afetar duramente a recuperação das pessoas”, disse Mark Binksin, relator do inquérito, à emissora Al Jazzera.

O inquérito terá duração de seis meses. Nas próximas duas semanas serão ouvidos especialistas sobre o risco de desastres naturais e o desafio que a mudança climática impõe ao país.

Na primeira audiência, nesta segunda, o chefe da agência meteorológica do país, Karl Braganza, disse que este não é um evento único. “Na verdade, desde os incêndios de 2003, em Caberra, todas as juridições na Austrália testemunharam incêndios significantes que desafiaram a capacidade resposta, mas (os incêndios de 2019) realmente desafiaram nossa percepção sobre como era o clima que precedia esse período”.

Brangaza disse que as projeções climáticas e meteorológicas previram com precisão a intensidade dos incêndios e que, em meados de 2019, antes da temporada das chamas começar, ele tornou os relatórios disponíveis para o governo. A causa dos incêndios, cada vez mais graves no país, está na mudança climática.

Helen Cleugh, pesquisadora sênior da Organização de Pesquisa Científica e Industrial da Commonwealth (CSIRO), afirmou que a frequência de eventos meteorológicos no oceano Pacífico, como o El Niño e La Niña, no aumento da temperatura global irão intensificar os incêndios, que não poderão ser mitigados ou previstos, como no passado. “A mudança climática significa que o passado não é mais um guia para entender os impactos e riscos de eventos futuros relacionados ao clima”, afirmou.

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Cleugh defendeu os modelos criados pelo CSIRO em 1992, que se demonstraram “muito consistentes” com as mudanças climáticas que ocorreram desde então. “O meu argumento é que essas projeções climáticas são críveis e salientes, e o mais importante: elas ainda se mostram atuais em 2020.”

Apesar de o governo ter sido munido de informação que mostrava a relação entre os incêndios e a mudança climática, o primeiro-ministro fez de tudo para mitigar o papel que a indústria de carvão do país, uma das maiores do mundo, teve nos incêndios florestais.

As cinzas das florestas que ardiam se estenderam por todo o Oceano Pacífico, seja tingindo o topo de geleiras na Nova Zelândia com uma cor de cobre ou aterrissando a Argentina, país que também recebia pelos ventos os restos da maior floresta tropical do mundo.

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Smoke and haze over glaciers in the Westland Tai Poutini National Park
As geleiras da Nova Zelândia amanheceram “caramelizadas” pela fuligem proveniente dos incêndios florestais na Austrália – 01/01/2020 (Redes Sociais/Reuters)

Não foram somente as matas australianas que queimaram em 2019, mas as amazônicas também. Puxada pelo desmatamento desenfreado, pelo garimpo ilegal e pela expansão agricola, o fogo na floresta atingiu repercussão internacional e preocupação em torno da negligência do Brasil, país que possui a maior porção da Amazônia em seu território, à crise climática.

O presidente Jair Bolsonaro é um notório negacionista da mudança climática, tanto que colocou na pasta do Meio Ambiente Ricardo Salles, recentemente expulso do partido NOVO. Durante a reunião ministerial de 24 de abril, divulgada pelo Supremo Tribunal Federal, Salles disse que era hora de aproveitar a cobertura da mídia focada na pandemia de Covid-19 e “ir passando a boiada”. Referia-se à adoção de regulamentacões de atividades econômicas na região das florestas.

Enquanto a Austrália se prepara para uma nova onda de incêndios cada vez mais intensos, o desmatamento da Amazônia brasileiro voltou a disparar em abril deste ano. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Imazon, o desmate da floresta foi o maior em dez anos, atingindo uma área equivalente à da cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Uma coisa, no entanto, une os dois países: a temporada do fogo começa a partir do segundo semestre.

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