Baixaria nas redes sociais marca fim de ‘lua de mel’ de Trump e Musk
Após deixar governo dos EUA, bilionário mudou de tom e aumentou o furor das críticas contra o presidente americano, seu antigo aliado

Após uma saída amigável do governo dos Estados Unidos, o magnata Elon Musk mudou de tom e passou a criticar, sem papas na língua, o plano de corte de gastos e impostos do presidente americano, Donald Trump, ao longo desta semana. Em apenas um dia, na quarta-feira, 4, o bilionário fez uma sequência de 25 publicações no X, rede social da qual é dono, contra a proposta de Trump. O republicano, por sua vez, não ficou calado e disse estar “muito decepcionado” com o seu antigo consigliere.
“Elon e eu tínhamos um ótimo relacionamento. Não sei se ainda temos”, afirmou Trump durante encontro com o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz no Salão Oval, da Casa Branca, nesta quinta-feira, 5. “Ele disse coisas maravilhosas sobre mim e nunca falou mal de mim pessoalmente, mas tenho certeza de que isso virá a seguir. Mas estou muito decepcionado com Elon. Eu o ajudei muito.”
“Ele não é o primeiro”, continuou o líder americano, sobre as críticas de Musk. “As pessoas deixam o meu governo. Depois, em algum momento, sentem tanta falta que algumas delas passam a abraçá-lo e outras até se tornam hostis.”
O fim da boa relação virou, inclusive, capa do jornal americano New York Post. O título, repleto de ironia, brada: “Eu odeio o meu X”, um trocadilho com a rede social comprada por Musk, o antigo Twitter, e “ex-namorado”. A lua de mel entre os dois parece ter acabado — e de maneira turbulenta, com direito a baixaria nas redes sociais.

De tarifas a Jeffrey Epstein
E não parou por aí. Enquanto o empresário apoiava no X o impeachment de Trump, o republicano usou a sua própria rede social, a Truth Social, para dar um ultimato ao ex-parceiro, escrevendo: “O jeito mais fácil de economizar dinheiro em nosso Orçamento, bilhões e bilhões de dólares, é acabar com os contratos e subsídios do governo com Elon. Eu que fiquei surpreso que (Joe) Biden não tenha feito isso”.
Musk, em contrapartida, argumenta que o projeto de Trump levará ao ao aumento do déficit público e à expansão da dívida americana, hoje projetada para ultrapassar US$ 2,5 trilhões (mais de R$ 14 trilhões). Mas as suas críticas não se restringiram apenas o plano de cortes, ampliando para um pessimismo geral com o governo dos EUA. Ele disse que “as tarifas de Trump causarão uma recessão no segundo semestre deste ano”.
Em seguida, ele adicionou uma nova bomba à confusão: “É tempo de soltar a verdadeira grande bomba: Trump está nos arquivos (Jeffrey) Epstein. Essa é a razão de não terem sido publicados”, alegou, em referência ao caso do bilionário acusado de tráfico sexual de adolescentes, encontrado morto por suicídio na prisão em 2019.
Fim do ‘relacionamento’
A postura de Musk marca uma mudança significativa em relação ao período em que esteve à frente do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE, na sigla em inglês), embora já manifestasse desaprovação à política fiscal da gestão republicana. Nos bastidores, o distanciamento entre Musk e a administração Trump já vinha se aprofundando antes de sua saída do governo na última sexta-feira, 30.
O empresário criticou a redução do crédito fiscal para veículos elétricos, medida que atinge diretamente sua empresa, a Tesla, e expressou frustração com acordos envolvendo inteligência artificial, supostamente favorecendo sua concorrente OpenAI, segundo fontes ouvidas pela emissora americana ABC News.
Na cerimônia que marcou a saída de Musk, republicano frisou, em diferentes momentos, a sua admiração pelo “amigo” e seu sucesso como fundador da empresa de veículos elétricos Tesla. Trump também deu a chave da Casa Branca ao bilionário e agradeceu a ele por liderar o DOGE, adiantando: “Elon realmente não vai embora, ele vai ficar indo e voltando, eu acho”. Parece que as expectativas do presidente dos EUA serão frustradas. Musk, ao que tudo indica, não passará mais pela porta da sede da Presidência, ainda que tenha as chaves.