O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou nesta sexta-feira, 18, estar convencido de que o presidente russo, Vladimir Putin, já tomou a decisão de invadir a Ucrânia, e que a ação, incluindo um ataque contra Kiev, pode acontecer dentro de dias. Mesmo assim, o democrata disse que ainda há espaço para diplomacia.
De acordo com análises da inteligência americana, Moscou já teria reunido até 190.000 soldados, incluindo unidades de elite e separatistas pró-Rússia, nos arredores da Ucrânia, no que seria a mobilização militar mais significativa desde a II Guerra Mundial.
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“Neste momento, estou convencido de que ele tomou a decisão, nós temos razões para acreditar nisso”, disse Biden quando perguntado se Putin já havia se decidido a invadir o país vizinho.
A fala é uma mudança significativa no posicionamento do presidente e segue o anúncio de Moscou de exercícios neste sábado com mísseis balísticos e de cruzeiro com capacidade nuclear. Em declarações anteriores, Biden disse acreditar que o líder russo ainda não havia tomado a decisão, mas que havia grande possibilidade.
O anúncio das atividades russas se dá também em meio ao acirramento de tensões entre o país e o Ocidente. Enquanto a Rússia afirma ter retirado parte de suas tropas da fronteira com a Ucrânia e da Crimeia, os Estados Unidos e aliados da Otan, principal aliança militar ocidental, dizem estar analisando o movimento contrário, com a mobilização de grupos táticos.
Os treinamentos foram vistos pelo Ocidente como mais um pretexto para Moscou aumentar ainda mais o número de tropas ao longo da divisa com território ucraniano. Durante sua fala, Biden citou especificamente métodos de desinformação que serviriam para criar este pretexto, incluindo violações ao cessar-fogo na região de Donbas. Nesta sexta-feira, rebeldes pró-Rússia anunciaram uma retirada de civis, citando temores de uma ação das forças de Kiev.
A Rússia nega as acusações de que a retirada serviria para uma eventual invasão.
“Ao longo dos últimos dias, vimos relatos de um grande aumento em violações do cessar-fogo por combatentes apoiados pela Rússia que tentam provocar a Ucrânia em Donbas”, disse Biden, dizendo que as queixas feitas por russos “simplesmente não fazem sentido”.
Na quinta-feira, em meio à tensão política, diplomática e militar, o governo ucraniano e grupos separatistas apoiados por Moscou já haviam se acusado mutualmente de violações ao regime de cessar-fogo em Donbas, onde ficam as províncias separatistas de Donetsk e Luhansk e onde confrontos desde 2014 já deixaram mais de 14.000 mortos.
“Desafia a lógica básica acreditar que os ucranianos escolheriam este momento – com bem mais de 150.000 soldados organizados em suas fronteiras – para agravar um conflito de anos”, disse Biden.
Embora o pacto de não agressão na região de Donbas estivesse sendo desrespeitado desde que foi firmado, sete anos atrás, com maiores ou menores incidentes, que são relatados para a Missão Especial da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), o agravamento recente é visto com mais atenção por autoridades.
Ambos os lados disseram que uso de armas aumentou dramaticamente nas últimas 48 horas, embora não haja relatos de mortes até o momento. Na quinta-feira, a OSCE, que normalmente registra dezenas de pequenas violações por dia, disse que houve quase 600 violações, incluindo mais de 300 explosões de quarta para quinta-feira.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse estar “extremamente preocupado” com os relatos de uma escalada. Ele já havia alertado que uma concentração de tropas ucranianas perto das linhas de frente de Donbas poderiam soar como provocação.
Kiev, no entanto, negou estar reunindo soldados na região e rebateu afirmando que separatistas russos estão atirando projéteis em vários locais, incluindo jardins de infância e escolas.
O Kremlin é contra a possível adesão de Kiev à aliança militar da Otan e vem alertando que uma confirmação terá consequências graves. Segundo Putin, uma eventual adesão do país vizinho à Otan é uma ameaça não apenas à Rússia, “mas também a todos os países do mundo”. De acordo com ele, uma Ucrânia próxima ao Ocidente pode ocasionar uma guerra para recuperar a Crimeia – território anexado pelo governo russo em 2014 –, levando a um conflito armado.
A aliança, por sua vez, afirma que “a relação com a Ucrânia será decidida pelos trinta aliados e pela própria Ucrânia, mais ninguém” e acusa a Rússia de enviar tanques, artilharia e soldados à fronteira para preparar um ataque.