Acusado de encobrir durante anos casos de abusos sexuais de dezenas de menores por padres em sua diocese na cidade de Buffalo, em Nova York, o bispo Richard J. Malone, de 73 anos, teve sua renúncia anunciada nesta quarta-feira, 4, pelo papa Francisco. Segundo o Vaticano, o papa apontou o bispo de Albany, Edward B. Scharfenberger, para administrar a diocese de Buffalo até que um novo sacerdote seja escolhido.
Há anos sob pressão para renunciar, Malone se afasta do cargo dois anos antes do tempo padrão de aposentadoria dos bispos. Ele nega as acusações e dizia até recentemente que não deixaria o cargo antes do tempo. Porém, em um comunicado divulgado nesta quarta, reconheceu “enorme turbulência” em sua diocese. “Alguns atribuíram isso às minhas próprias deficiências, mas a turbulência também reflete o auge de falhas sistêmicas ao longo de muitos anos em relação ao tratamento mundial sobre abuso sexual de menores por membros do clero”, afirmou.
“Conclui, após muita oração e reflexão, que as pessoas de Buffalo estarão melhores nas mãos de um novo bispo que seja mais hábil em trazer reconciliação, cura e renovação que é tão necessária”, disse ainda no comunicado. A renúncia de Malone ocorre meses após uma denúncia anônima ter revelado que o bispo escondia arquivos que provavam os abusos sexuais cometidos pelos religiosos. Áudios vazados pela imprensa em agosto deste ano ainda mostravam o bispo conversando sobre as denúncias e afirmando que a divulgação dos casos “seria o fim do meu bispado”.
Os abusos na diocese de Buffalo começaram a vir à tona em 2018, quando as primeiras vítimas denunciaram os assédios. Na época, alguns dos padres envolvidos no escândalo ainda atuavam na Igreja. Pressionado, Malone publicou uma lista com os nomes de 42 padres que estariam envolvidos no caso. Algum tempo depois, a imprensa local teve acesso a uma lista maior, de 117 nomes, que teria sido mantida em sigilo pelo bispo. Atualmente, a diocese enfrenta mais de 200 processos sobre abusos sexuais de menores na Justiça, e está sob investigação da Procuradoria Geral de Nova York e do FBI.
Em seu comunicado, Malone afirmou ter cometido erros ao não conduzir com agilidade as questões e concluiu dizendo que continuará a morar na cidade, apesar de sua ampla impopularidade em Buffalo. Em setembro, uma pesquisa realizada pelo jornal local Buffalo News apontou que de 85% dos católicos praticantes ou não-praticantes na região acreditavam que o bispo deveria renunciar. Além dos moradores da cidade, funcionários e religiosos da diocese já estavam se mobilizando para declarar o bispo como persona non grata e forçar sua renúncia.
(Com Reuters)