O presidente Jair Bolsonaro foi denunciado nesta terça-feira, 7, no Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) por seus ataques contra mulheres jornalistas. Organizações da sociedade civil apresentaram 54 casos de ofensivas do governo contra as profissionais.
Um dos casos apresentados pelas organizações brasileiras é o da jornalista Bianca Santana, que em maio foi acusada pelo presidente de escrever ‘fake news’ na mesma semana em que publicou um artigo sobre a relação entre familiares e amigos de Bolsonaro com os acusados de assassinar a vereadora Marielle Franco. Santana discursou em uma sessão online do Conselho nesta terça.
As organizações apontam também a gravidade de um cenário em que agressões são reafirmadas, legitimadas e praticadas por autoridades públicas, inclusive pela cúpula do governo federal. Segundo a denúncia, os casos, que envolvem declarações públicas, ataques virtuais e consequências concretas na vida e na saúde de mulheres comunicadoras, criam um ambiente ainda mais hostil para o exercício da atividade profissional das jornalistas e para a liberdade de imprensa.
“O Estado brasileiro tem a obrigação de garantir um ambiente seguro para as mulheres jornalistas”, disse Bianca Santana, durante depoimento enviado por vídeo ao Conselho.
O depoimento à ONU é apoiada por pelo menos dezenove organizações da sociedade civil, entre coletivos de comunicação e dos movimentos negro e feminista. A violência contra mulheres jornalistas está no foco do documento apresentado pela relatora especial das Nações Unidas sobre a Violência contra a Mulher, suas Causas e Consequência, Dubravka Šimonovic, que aborda ferramentas frequentemente usadas para desonrar, desacreditar e humilhar as jornalistas.
Esta não é a primeira vez que Bolsonaro é denunciado nas Nações Unidas. Em abril, relatores da ONU fizeram sua declaração mais dura contra o atual governo, ao denunciar o que chamam de “políticas irresponsáveis” durante a pandemia da Covid-19. A nota emitida declarava que “as políticas econômicas e sociais irresponsáveis do Brasil colocam milhões de vidas em risco”.
Também em abril, Jair Bolsonaro foi denunciado por organizações jurídicas por crime contra a humanidade no TPI (Tribunal Penal Internacional). Segundo a denúncia protocolada na corte de Haia (Holanda), a atitude do presidente nessa crise do coronavírus expõe “a vida de cidadãos brasileiros, com ações concretas que estimulam o contágio e a proliferação do vírus”. Bolsonaro já havia sido denunciado ao TPI no ano passado por “estímulo ao genocídio de povos indígenas”.