Não são poucos os diplomatas que lamentam o amadorismo dos tempos atuais no Itamaraty. Dentre os muitos exemplos a citar está o fato de o presidente Jair Bolsonaro ter se apresentado aos encontros oficiais com o líder chinês, Xi Jinping, e outras autoridades de Pequim sem levar consigo um intérprete confiável de mandarim-português. O Itamaraty permitiu que as conversas fossem traduzidas apenas por profissionais chineses.
O fato não tira o mérito dons bons resultados da visita oficial à China, como as parcerias em prol do salto de produtividade do campo e o interesse chinês em criar parques agroindustriais no Brasil. É difícil pensar, porém, que intérpretes a serviço do governo chinês não tenham atuado como filtros adicionais a qualquer ruído na conversa. Não deixa de ser uma atitude simplória depender do tradutor do interlocutor, em vez de levar um profissional da confiança do Planalto, e ignorar os intérpretes residentes no Brasil.
Responsável pela contratação dos intérpretes que servem ao presidente da República, o Itamaraty contratou para essa viagem Diana Zhang e a Estela Qi para atuarem nos eventos brasileiros, como a visita de Bolsonaro à Muralha da China e o jantar que lhe foi oferecido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
A regra de carregar um intérprete tem sido cumprida à risca nas últimas décadas nas viagens internacionais dos presidentes da República. Sérgio Ferreira, intérprete de inglês e espanhol de Luiz Inácio Lula da Silva, chegava a mimetizar-se com o então presidente. Em algumas situações, como nos encontros de Lula com George W. Bush, acudia também o colega americano. Mesmo Fernando Henrique Cardoso, fluente em espanhol, inglês e francês, carregava consigo o próprio tradutor. Podia até dispensá-lo do trabalho, mas o tinha ali à disposição.