Bolsonaro: “Vocês querem que eu coloque Celso Amorim na embaixada?”
Em live no Facebook, presidente insiste não haver nepotismo em sua indicação do filho Eduardo para embaixada em Washington
O presidente Jair Bolsonaro aproveitou as visitas ao Planalto de dois líderes evangélicos nesta sexta-feira, 12, para gravar um live no Facebook em defesa da nomeação de seu filho, o deputado Eduardo (PSL-SP), como embaixador do Brasil em Washington. Bolsonaro, o pai, insistiu que não se incomoda com as “lenhadinhas” da imprensa sobre o fato de seu filho 03 não ser diplomata de carreira e rejeitou a alusão dessa escolha como ato de nepotismo.
“Vocês querem que eu coloque o Celso Amorim, que é do Itamaraty? exclamou, referindo-se ao chanceler dos dois mandatos presidenciais do petista Luiz Inácio Lula da Silva que jamais aceitaria um convite de Bolsonaro. “Simples, né? Quem foi o último ministro das Relações Exteriores? Aloysio Nunes (Ferreira, do PSDB). Ninguém falou nada. Foi aqui chefe das Relações Exteriores do país. Não tinha nenhuma formação nessa área. Inclusive, foi no passado motorista do Mariguella“, completou, desta vez fazendo menção ao guerrilheiro urbano assassinado pelo regime militar em 1969.
Na filmagem de 24 minutos e 27 segundos, Bolsonaro valeu-se de argumentos dos mais descabidos para qualificar seu filho para a posição mais importante do serviço diplomático do Brasil no exterior. A seu lado estavam o fundador da Igreja Mundial do Poder de Deus, “apóstolo” Valdemiro Santiago, e o deputado “missionário” José Olímpio (DEM-SP).
Assim como na quinta-feira 11, quando confirmou à imprensa que indicaria o deputado Eduardo para o posto, o presidente elencou os requisitos cumpridos pelo filho. “O garoto fala inglês, fala espanhol, tem vivência no mundo todo, é amigo da família do presidente Donald Trump. Tá certo?”, defendeu. Mais adiante, acrescentou os fato de o deputado estar fazendo “um bom trabalho” na Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
“Ele não é um aventureiro. Acabou de se casar, inclusive”, destacou, olhando para Valdemiro. “Eu também colocaria uma de minhas filhas porque conheço bem o caráter e a competência”, rebateu o “apóstolo”.
Nepotismo
Até as 16h desta sexta-feira, a live no Facebook tinha recebido 556.000 visualizações, 39.000 comentários e 4.700 compartilhamentos. Usualmente, Bolsonaro faz filmagens nessa rede social nas noites de quinta-feira. Desta vez, tornou-se meio de expor diretamente suas convicções sobre sua indicação.
“Essa posição não tem nepotismo. Jamais faria isso”, insistiu, contrariando a súmula vinculante número 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que orienta os juízes sobre o tratamento sobre o tema. “A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal”, diz o texto.
De fato, não é preciso ser diplomata de carreira nem para ser embaixador do Brasil em outro país nem para ser ministro das Relações Exteriores. Mas há décadas, com algumas exceções, governos de diferentes colorações ideológicas e políticas têm preferido escolher diplomatas para ambas as funções. Para conduzir o Itamaraty, Michel Temer escolheu dois veteranos do PSDB – primeiro, José Serra, e depois, Nunes Ferreira. Todos os anteriores foram diplomatas desde Fernando Henrique Cardoso, chanceler entre 1992 e 1993.
No caso dos embaixadores, que também são escolhidos pelo presidente da República, houve preferência por experientes diplomatas de carreira desde 1967, quando o ex-governador da Bahia Juracy Magalhães deixou o posto. Dentre todos os que passaram pela embaixada em Washington, sete foram ministros de Estado.
Bolsonaro fechou seu live no Facebook vestindo o chapéu branco avaliado em 5.000 reais que recebera do “apóstolo” Valdemiro na Marcha para Jesus, em São Paulo, em junho passado, quando admitiu que disputará a reeleição em 2022. Na discussão sobre o valor com o pastor evangélico, presidente fez graça sobre a sucessão na chefia de sua equipe econômica. “Se o Paulo Guedes cair, você vai ser o meu ministro da Economia.”