Bombardeios israelenses matam 70 em Gaza e exército inicia operação terrestre
Com tanques e bulldozers, Tel Aviv ordenou que civis ficassem longe da estrada Salahuddin, a principal rota norte-sul do enclave, e fugissem pela costa

Pelo menos 70 palestinos foram mortos e dezenas ficaram feridos por ataques aéreos israelenses em Gaza nesta quinta-feira, 20, segundo autoridades locais, ao passo que as forças de Tel Aviv afirmaram que iniciaram uma prometida operação terrestre no norte do enclave. Israel retomou os combates na terça-feira 17, afundando o já frágil cessar-fogo com o Hamas.
Médicos em Gaza disseram que ataques israelenses atingiram várias casas nas áreas norte e sul do território. Os militares israelenses disseram que estavam investigando os relatos.
As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) disseram nesta quinta-feira que, nas últimas 24 horas, se dedicaram ao que descreveram como uma operação terrestre direcionada para expandir uma “zona de amortecimento” que separa as metades norte e sul de Gaza, conhecida como corredor Netzarim.
Tel Aviv ordenou que os moradores ficassem longe da estrada Salahuddin, a principal rota norte-sul, e orientou que fugissem pela costa.
Retomada da guerra
O primeiro dia de ataques aéreos após dois meses de cessar-fogo matou mais de 400 palestinos, enquanto o total de mortos nos últimos três dias é de pelo menos 510, disse Khalil Al-Deqran, porta-voz do Ministério da Saúde do território, à agência de notícias Reuters. O órgão não faz distinção entre civis e combatentes, mas afirmou que mais da metade das vítimas são mulheres e crianças.
Em um golpe para o Hamas, que buscava se reagrupar e organizar sua gestão em Gaza durante a trégua, os bombardeios desta semana mataram algumas de suas principais figuras administrativas, incluindo o chefe do governo, o chefe dos serviços de segurança, seu assessor e o vice-chefe do Ministério da Justiça.
O Hamas, enfraquecido, mas ainda de pé, não reagiu, embora o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, tenha alertado que o último ataque foi “apenas o começo”. Não se sabe se o motivo da espera é por estratégia ou falta de capacidade de fogo.
O grupo militante caracterizou a operação terrestre israelense e a incursão no corredor Netzarim como uma “nova e perigosa violação” do cessar-fogo. Em uma declaração, o grupo reafirmou seu compromisso com o acordo e pediu que os mediadores, Estados Unidos, Egito e Catar, “assumissem suas responsabilidades”.
Antes da retomada dos ataques, a fase 1 do cessar-fogo terminou no início deste mês. O Hamas quer avançar para a segunda etapa, sob a qual Israel seria obrigado a negociar o fim permanente da guerra e a retirada total de suas tropas de Gaza, enquanto todos os reféns israelenses ainda em posse dos terroristas seriam trocados por prisioneiros palestinos. Tel Aviv ofereceu apenas uma extensão temporária da primeira fase da trégua, e cortou todos os suprimentos para Gaza para pressionar o grupo palestino a aceitar, mas sem sucesso. Netanyahu justificou a volta da campanha militar como uma maneira de forçar o Hamas a libertar todos os cativos restantes.
Operação terrestre
Alguns palestinos que tentaram usar a estrada Salahuddin para fugir dos bombardeios no norte do enclave disseram que viram carros sendo alvejados por soldados israelenses avançando em direção ao corredor Netzarim. “Bulldozers protegidos por tanques estavam indo para oeste, vindos das áreas onde estão estacionados perto da cerca a leste da estrada Salahuddin”, disse um motorista de táxi à agência Reuters. Ele acrescentou que inspetores egípcios e estrangeiros estacionados no local, sob o cessar-fogo, se retiraram abruptamente.
Alguns moradores recorreram às redes sociais para relatar o desaparecimento de alguns parentes, enquanto outros denunciaram casos ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Na quarta-feira, o Hamas disse que ainda está comprometido em retomar o cessar-fogo. Mas admitiu nesta quinta que “nenhum avanço foi feito ainda”, segundo a Reuters.