Brasil bate recorde de exportações aos EUA apesar do cenário de tarifas
Amchan aponta aumento de 4,2% nas vendas do primeiro semestre com estratégia de antecipação de embarques antes da sobretaxa de 50%

Tudo anda muito incerto no cenário do comércio exterior com os Estados Unidos após o presidente Donald Trump implementar oficialmente, na semana passada, uma sobretaxa de 50% a uma longa lista de produtos brasileiros. Dados da Amcham, a Câmara de Comércio americana, porém, revelaram que no período que antecipou o “tarifaço”, as exportações do Brasil para território americano entre janeiro e julho registraram crescimento de 4,2% sobre o mesmo período de 2024, somando US$ 23,7 bilhões (R$ 128,27 bilhões, na cotação atual), o maior valor já registrado para o período.
Segundo edição especial do Monitor do Comércio Brasil-EUA, elaborado pela Amcham, as importações também avançaram, com alta de 12,6%, alcançando US$ 26,0 bilhões. Isso ampliou o superávit americano no comércio com o Brasil para US$ 2,3 bilhões no acumulado do ano, uma expressiva alta de 607,9% frente ao mesmo período de 2024.
O resultado sustenta a tendência de vantagem americana nos negócios com o Brasil, que há 15 anos têm déficit na balança comercial com os Estados Unidos. Apesar disso, mercadorias brasileiras tornaram-se alvo da maior alíquota do tarifaço, de 50%, enquanto outras nações que mantém superávit com Washington são alvo de taxas que variam entre 10% e 30%. Para aplicar tarifas aos produtos tupiniquins, outra justificativa, infundada, foi usada pelo governo Trump: a de que há uma “ditadura judicial” no Brasil, e que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, réu no caso da trama golpista, seria uma “caça às bruxas”.
Embora uma lista de quase 700 produtos brasileiros tenha sido poupada da tarifa de 50%, exportações importantes como açúcar e café ficaram expostas. Ainda não há sinal de negociação entre os governos Trump e Lula, que afirmou recentemente que não vai se “humilhar” para abrir um canal com o presidente dos Estados Unidos, e estados estudam criar programas para proteger a indústria nacional. A maior esperança, por ora, é que os setores privados americano e brasileiro possam conversar e fazer o meio de campo num eventual processo de tratativas.
“As exportações brasileiras para os Estados Unidos seguem resilientes e em trajetória de crescimento até julho. Nosso compromisso é seguir trabalhando de forma coordenada com os dois governos para preservar esse comércio, que impulsiona empregos e oportunidades em ambos os países, sobretudo diante dos desafios adicionais que o aumento das tarifas trará daqui para frente”, afirma Abrão Neto, presidente da Amcham Brasil.
Embarques antecipados
Em julho, mês em que os Estados Unidos já aplicavam uma sobretaxa de 10%, chamada “base”, e anunciaram o aumento para 50% a partir de agosto, as exportações brasileiras atingiram US$ 3,7 bilhões (mais de R$ 20 bilhões), alta de 3,8% na comparação anual, também um recorde para o mês.
A quantidade embarcada subiu 7,3%, refletindo, segundo a Amcham, uma possível estratégia de antecipação de vendas para evitar o impacto das novas tarifas. Do lado americano, as importações pelo Brasil cresceram em ritmo mais forte. O aumento foi de 18,2% no mês, atingindo US$ 4,3 bilhões (R$ 23,27 bilhões), o segundo maior valor da década.
Entre os dez principais produtos exportados, seis registraram alta em julho, com destaque para:
- Aeronaves: +159,0%
- Ferro-gusa: +62,5%
- Cal e cimento: +46,3%
- Petróleo: +39,9%
- Suco de frutas: +32,2%
No acumulado do ano, os maiores avanços vieram de carne bovina (+118,1%), sucos de frutas (+61,7%), café (+34,6%) e aeronaves (+31,7%).
Alguns setores, porém, já sentiram os efeitos das tarifas e da concorrência internacional. Entre as principais quedas estão:
- Celulose: -14,8% (pressão de produtos canadenses)
- Óleos de petróleo: -18,0%
- Equipamentos de engenharia: -20,8%
- Semi-acabados de ferro ou aço: -8,0% (queda de 64% só em julho)
- Açúcar: -49,6% no valor e -51,7% na quantidade, já sob novas tarifas de 50% desde 6 de agosto
Enquanto o déficit dos Estados Unidos no comércio global de bens aumentou 27,8% no primeiro semestre, o Brasil segue como um dos poucos países com os quais Washington mantêm superávit comercial, o quinto maior da lista, que cresceu 57,9% de 2024 para 2025. Ao comparar apenas o mês de junho, por outro lado, o déficit americano diminuiu 8,3%, já demonstrando um possível efeito da aplicação das tarifas recíprocas.