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Brasil é vítima de campanha de desinformação sobre Amazônia, diz Bolsonaro

Em discurso na ONU, presidente garantiu que mantém política de tolerância zero para crimes ambientais e culpou organizações por prejudicar seu governo

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 22 set 2020, 11h32 - Publicado em 22 set 2020, 10h55

Em discurso na 75ª Assembleia-Geral da ONU, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o Brasil é vítima de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”, mas mantém “política de tolerância zero para crimes ambientais”. O pronunciamento do presidente brasileiro foi gravado na semana passada e transmitido virtualmente nesta terça-feira, 22.

“A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima, isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiros, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”, afirmou Bolsonaro, que classificou a lei brasileira como a “melhor legislação ambiental do planeta”.

“O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos, e por isso há tanto interesse em propagar desinformação sobre nosso meio ambiente”, disse.

O presidente ainda afirmou que as queimadas na Floresta Amazônica e no Pantanal são causadas pelas altas temperaturas e acúmulo de massa orgânica em decomposição na região, além das queimadas em roçadas provocadas pelo “caboclo e o índio”.

“Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”, disse. “Os focos criminosos são combatidos com rigor e mantenho uma politica de tolerância zero do crime ambiental”. 

O Brasil tem alvo de críticas internacionais pela condução de sua política ambiental. Nesta terça, o vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, deixou claro que a União Europeia espera um “compromisso” do Mercosul de que o bloco irá respeitar a seção de “desenvolvimento sustentável” do acordo comercial negociado em 2019, e ainda não ratificado.

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A relutância na ratificação do acordo se deve em parte à pressão de setores que seriam afetados pelo texto, como a agropecuária. No entanto, a gestão ambiental brasileira se tornou uma barreira para o avanço do acordo. Devido às queimadas e o desmatamento da Floresta Amazônica em 2019, que desencadeou uma crise diplomática entre Brasil e França, e agora a devastação do Pantanal, o Brasil sofre com repetidos pedidos de boicote na sociedade europeia. Na sexta-feira 18, o presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou que seu país irá se opor à ratificação.

Bolsonaro ainda insinuou que o derramamento de óleo na costa brasileira em 2019 é de responsabilidade do governo da Venezuela, ainda que a investigação sobre o ocorrido não tenha chegado a conclusões definitivas. “Em 2019, o Brasil foi vítima de um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle, acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de pesca e turismo”, disse.

Pandemia de coronavírus

Além da questão ambiental, Bolsonaro ainda abordou o que considerou como progressos no combate à pandemia de coronavírus. Desde o princípio, alertei, em meu país, que tínhamos dois problemas para resolver, o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade”, disse.

“Não faltaram, nos hospitais, os meios para atender aos pacientes da Covid”, afirmou o presidente, apesar das inúmeras denúncias de falta de materiais e leitos para atender os brasileiros infectados.

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O presidente disse ainda que parcela da imprensa brasileira “politizou o vírus”, disseminando o pânico entre a população. “Sob o lema ‘fique em casa’ e ‘a economia a gente vê depois’, quase trouxeram o caos social ao país”, disse.

Economia e direitos humanos

Jair Bolsonaro ainda destacou o excelente desempenho do país na agropecuária, exportação de alimentos e desenvolvimento tecnológico. “O Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta e inovação, a exemplo da Indústria 4.0, da inteligência artificial, da nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa soberania e prezem pela liberdade e pela proteção de dados”, disse.

O Brasil atualmente é um dos focos da disputa global entre a China e os Estados Unidos pelo mercado de 5G. Enquanto a chinesa Huawei pressiona para instalar seus produtos no país, o governo americano acusa a empresa de roubar dados dos usuários e prejudicar a segurança nacional dos governos que permitem sua instalação.

O presidente ainda aproveitou seu discurso para defender a polícia humanitária de seu governo e exaltar a acolhido de refugiados venezuelanos. “No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da fronteira no Estado de Roraima”, disse.

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Jair Bolsonaro ainda tratou da ideologia que rege seu governo e, em uma declaração bastante inusitada e dirigida à sua base religiosa, falou em combater a cristofobia. “A liberdade é o bem maior da humanidade”, disse. “Faço um apelo a toda a comunidade internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia”.

“O Brasil é um país cristão e conservador, e tem na família sua base”, disse, para encerrar o pronunciamento. “Deus abençoe a todos”.

Virtual e pré-gravada

Todos os discursos de líderes mundiais previstos para esta 75ª Assembleia-Geral da ONU serão virtuais e pré-gravados com dias de antecedência, com a sede das Nações Unidas parcialmente vazia. Não acontecerão reuniões bilaterais sucessivas, nem a diplomacia “sob da mesa” para enfrentar o coronavírus, nem encontros à margem do evento dos ministros do Grupo de Lima para debater a crise na Venezuela, nem visitas do presidente cubano a uma igreja do norte de Nova York para criticar o capitalismo.

Nas próximas semanas, a ONU organizará várias reuniões temáticas virtuais sobre a Covid-19, a luta contra a mudança climática, o Líbano, Líbia, a biodiversidade, entre outros temas.

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Apesar do edifício da ONU estar praticamente vazio, barreiras de segurança foram instaladas ao redor da sede. Mas o bairro de Turtle Bay em Manhattan, que a cada setembro se transforma em um bunker protegido por centenas de policiais em função da visita de mais de 10.000 chefes de Estado e de Governo, ministros e diplomatas de todo o mundo, está excepcionalmente tranquilo.

Apenas os jornalistas que cobrem a ONU – que tem um escritório no edifício e uma credencial especial – podem trabalhar na sede. As cafeterias estão fechadas e os corredores silenciosos.

É tradição em todos os anos desde 1955 que o presidente do Brasil abra os discursos das lideranças na Assembleia Geral. Bolsonaro será seguido pelo americano Donald Trump.

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