A viagem de integrantes do governo de Jair Bolsonaro a Israel e a posição do Brasil contra a decisão do Tribunal Penal Internacional (TPI) de investigar possíveis crimes de guerra nos territórios palestinos ocupados anunciada no último final de semana marcaram uma aproximação ainda mais profunda entre as duas nações.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gabi Ashkenazi, agradeceu neste domingo a “clara posição” do Brasil em relação à investigação do TPI, durante encontro com o chanceler Ernesto Araújo em Jerusalém. O brasileiro não tocou no assunto durante seu pronunciamento, mas Ashkenazi afirmou que a decisão, tomada na última semana, distorce a lei internacional e atrapalha as negociações de paz com os palestinos.
Na semana passada, a promotora do TPI, Fatou Bensouda, anunciou a abertura do inquérito sobre eventuais crimes de guerra nos territórios palestinos envolvendo dirigentes de Israel e milícias lideradas pelo Hamas. A decisão foi tomada depois que o tribunal decidiu, em 5 de fevereiro, que tinha jurisdição em tais casos.
“Eu agradeço o Brasil e as lideranças brasileiras pela posição clara de que a Corte não tem jurisdição ou autoridade para discutir esse assunto”, declarou Ashkenazi neste domingo 7. Após o encontro, uma declaração conjunta dos dois ministros afirmou que o israelense “expressou o profundo apreço de Israel pela posição consistente e de princípio do Brasil de que a abertura de uma investigação no TPI é um desserviço à causa da justiça, o que enfraquecerá as perspectivas de um acordo negociado para o conflito israelense-palestino”.
Após o encontro com Ashkenazi, Ernesto Araújo também se reuniu com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nesta segunda-feira 8, para debater o aumento da cooperação econômica e em defesa dos dois países. O deputado Eduardo Bolsonaro também participou da reunião.
O compromisso para seguir avançando nas já próximas relações acompanha uma série de acordos bilaterais firmados na capital israelense, que abordam a luta contra o novo coronavírus, e também temas sobre os setores tecnológico, agrícola, científico, de segurança, entre outros.
O apoio brasileiro ao governo de Netanyahu consolida a aproximação entre os dois países, iniciada após a posse de Bolsonaro. Em maio de 2019, o presidente brasileiro visitou Israel e anunciou a abertura de um escritório de negócios em Jerusalém, em uma demonstração de reconhecimento da cidade santa como capital do país judeu.
A posição contra o TPI é também estratégica para o Brasil, já que o próprio governo de Bolsonaro é alvo de denúncias por parte de entidades da sociedade civil. Em dezembro, o Tribunal aceitou uma denúncia por violações contra o meio ambiente e povos indígenas, e agora investiga a questão de forma preliminar.
Pandemia e constrangimento
O principal objetivo da viagem, de acordo com o governo brasileiro, foi a ampliação da cooperação na área médica e científica. A comitiva brasileira se encontrou com dirigentes do Centro Médico Sourasky (conhecido como Hospital Ichilov), que estuda a eficácia do spray nasal EXO-CD 24 contra a Covid-19.
Em sua reunião, Netanyahu e o chanceler brasileiro discutiram também assuntos relacionados à área de saúde. “Ajudaremos o Brasil de todas as formas possíveis e avaliaremos formas de ampliar a pesquisa e o desenvolvimento de medicamentos e outras soluções para combater o vírus”, disse Gabi Ashkenazi no domingo.
Apesar de ser o motivador da visita, o combate ao novo coronavírus não poupou os integrantes da comitiva brasileira de alguns constrangimentos pelo descuido nas medidas de proteção. Durante a cerimônia de boas-vindas ao grupo, logo após a chegada, Ernesto Araújo foi advertido a colocar a máscara antes de se aproximar de Gabi Ashkenazi para uma fotografia.
Diferentemente do colega, o brasileiro não usava a proteção. Ele foi advertido pelo locutor do evento, que falou em inglês: “Nós precisamos fazer isso com a máscara”. “Oh, yeah!”, respondeu Araújo demonstrando constrangimento, para logo depois colocar a máscara.
O comportamento do chanceler reflete a resistência de autoridades federais brasileiras em usar a proteção. Ao deixar o Brasil, por exemplo, todos os integrantes da comitiva foram fotografados com os rostos descobertos. O próprio deputado Eduardo Bolsonaro, durante encontro com Netanyahu na segunda, usou a máscara de forma equivocada, sem cobrir o nariz.
Ainda segundo o site de notícias israelense Ynet, o governo israelense determinou que a delegação brasileira deveria ficar confinada em seu hotel durante toda a visita, exceto nos encontros com Netanyahu e com ministro das Relações Exteriores Gabi Ashkenazi, devido aos riscos de contaminação.