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Brasileiros temem guerra civil e falta de comida na Bolívia

'Me sinto vivendo em um regime semiaberto', relata Edson Pádua, engenheiro agrônomo que se mudou do Mato Grosso para o país vizinho neste ano

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 nov 2019, 07h53 - Publicado em 12 nov 2019, 20h26

A onda de violência provocada pela crise política na Bolívia — que levou Evo Morales a renunciar à presidência e se asilar no México — assusta os brasileiros que moram no país vizinho. Elcio Machowski, que se mudou para Santa Cruz de la Sierra há sete anos para fazer faculdade de medicina, afirma que o clima é de tensão. Ele e a mulher, a boliviana Erika Roman, não saem de casa há dias.

“O consulado brasileiro tem nos orientado a não sair e a não ir às manifestações. Bandidos estão saqueando, incendiando e instalando o terror em várias partes do país. Nós nos sentimos acuados, com medo de que uma guerra civil se instale”, diz Machowski.

Elcio Machowski
Elcio Machowski: ‘Me mantenho otimista e acredito que a situação se normalizará logo’ (Facebook/Reprodução)

O médico planeja voltar para o Brasil em 20 dias. Ele diz que o motivo não é a crise política, mas um desejo de voltar a se estabelecer no Brasil, agora com a mulher. Machowski, no entanto, teme que os planos sejam frustrados: “No momento, o país está bloqueado. Ninguém entra nem sai da Bolívia por meio terrestre”, diz. “Me mantenho otimista e acredito que a situação se normalizará logo.”

O publicitário Guido Velasco também espera que caos no país tenha um fim rápido, embora esteja assustado com a violência. Ele vive há 15 anos com a família em La Paz, cenário da noite de violência logo após a renúncia de Evo, na madrugada de segunda-feira 11.

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“Ninguém sabe ao certo o que está acontecendo. Em alguns bairros, a TV saiu do ar, porque destruíram as antenas, e o centro está tomado por gangues, militares e pela polícia. Também há caças da Força Aérea sobrevoando a cidade. Muitas pessoas ficaram em casa para garantir que seus lares não fossem invadidos”, diz. 

Guido Velasco
Guido Velasco: ‘Muitas pessoas ficaram em casa para garantir que seus lares não fossem invadidos’ (Facebook/Reprodução)
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Além da violência, Velasco relata que há desabastecimento da cidade. “Já começou a faltar comida. Não dá nem para pensar em fazer um estoque, porque todo o comércio está fechado. Não tem transporte, não tem nada na rua”, afirma.

O engenheiro agrônomo Edson Pádua, que se mudou neste ano de Tangará da Serra, no Mato Grosso, para a Santa Cruz, também foi afetado pela falta de produtos: “As lojas podem abrir as portas até as 13h, mas nem sempre encontramos o que realmente precisamos. E quando encontramos, os preços estão elevados”.

Pádua tem planos para voltar ao Brasil, mas o aumento no preço de passagens aéreas impediram que ele fizesse as malas. “Já estou mais tranquilo com a situação, mas mesmo assim me sinto vivendo em um regime semiaberto”, relata. Nesta terça-feira, as ruas da cidade continuam tomadas por barreiras feitas de galhos, escombros e caminhões atravessados. “Muitas pessoas estão espalhando terror, jogando pedras, paus, e dinamites caseiros”, conta.

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Embora a Bolívia ainda esteja caótica, os brasileiros estão esperançosos. “A situação deve estar controlada até quinta ou sexta-feira”, diz Luciano Bertanha, brasileiro, estudante de medicina, que há 10 anos se estabeleceu no país vizinho. Sua maior preocupação é que o dinheiro não acabe até que se decida o próximo presidente boliviano: “Estou torcendo para o país voltar ao normal, para que eu possa voltar a trabalhar”, diz ele, que é dono de uma boate.

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