Carta ao Leitor: A receita chinesa
O país que receberá Lula mira estratégias para empurrar a economia e trabalha com disciplina total para chegar ao topo
A visita de líderes políticos ocidentais à China foi sempre ímã de imenso interesse — dadas a cultura em tudo diferente e a névoa de dúvidas imposta pela ditadura comunista. O encontro de Richard Nixon com Mao Tsé-tung, em 1972, no auge da Guerra Fria, foi tratado como um evento histórico — a primeira janela aberta da nação oriental, o primeiríssimo passo de abertura econômica, cujo símbolo foi a chegada da Pepsi-Cola a Pequim. De lá para cá, apesar de alguma transparência, todo aperto de mãos entre políticos chineses e autoridades do lado de cá da civilização atrai justificada atenção. Não será diferente com o presidente Lula, que fará missão oficial entre os dias 26 e 31 de março, com uma vasta comitiva de ministros e empresários.
Hoje, o Brasil tem mais negócios com a China do que com os Estados Unidos, o que torna essa visita estratégica por vários aspectos. Na pauta com Xi Jinping, o autocrata que vem afiando cada vez mais suas garras para manter a China sob rígidas rédeas, estão temas como a expansão das exportações de commodities e produtos brasileiros. Os chineses também parecem interessados, já que, segundo uma pesquisa recente, 90% das grandes empresas locais afirmam considerar o solo brasileiro como atalho para se firmar nas Américas.
Para entender em detalhes o funcionamento de uma das maiores potências econômicas do planeta, com crescimento de 5% previsto para 2023, VEJA enviou para a China o editor Ricardo Ferraz. Nas duas últimas semanas, ele esteve entre a capital e Xangai. Nesse fascinante mergulho na nação asiática, o jornalista conversou com executivos de companhias, analistas de renome e especialistas em relações internacionais — mas, sobretudo, circulou pelas ruas, em conversas com a população, de modo a entender o cotidiano entre a reabertura do país aos estrangeiros e a mão dura do Estado. “Isso aqui é outro planeta”, diz Ferraz, que rodou por lá mais de uma centena de quilômetros de bicicleta, como ainda fazem milhões de habitantes na terra de Xi. “O país mira estratégias para empurrar a economia e trabalha com disciplina total para chegar ao topo.” Eis a receita chinesa.
Ao embarcar para a Ásia, na antessala da visita de Lula, VEJA faz o que o jornalismo de alta qualidade tem como missão: ir ao encontro da notícia, ver de perto as sociedades e, a partir dessa experiência, chegar a conclusões. Com a eclosão da pandemia de Covid-19 — cujo primeiro epicentro foi a cidade de Wuhan — e a imposição de severos lockdowns, a China pareceu estar ainda mais apartada dos olhos do mundo, embora a engrenagem de negócios internacionais nunca tenha cessado. Redescobrir o país depois do período de exceção foi uma investigação extraordinária. Nos próximos dias, além do conteúdo impresso, VEJA continuará a revelar informações sobre a China e a visita do mandatário brasileiro em nosso site, com textos e vídeos. É material inigualável para acompanhar as nuances de uma nação que, goste-se ou não dos seus métodos, ganhou tração econômica exuberante e faz parte de nosso dia a dia.
Publicado em VEJA de 29 de março de 2023, edição nº 2834