Carta ao Leitor: Rascunho da história
Desde sua primeira edição, em 1968, VEJA acompanha os confrontos globais. O objetivo: ver de perto para discernir as mentiras das verdades

“Guerra é ruim, mas sem jornalismo é pior.” A frase, de José Hamilton Ribeiro, um dos mais premiados repórteres brasileiros, que cobriu o conflito do Vietnã para a revista Realidade, da Editora Abril, é retrato preciso da relevância da atividade profissional comumente traduzida como um “rascunho da história”. Desde sua primeira edição, em 1968, VEJA trilha esse caminho de informação, ao acompanhar os confrontos globais com especial cuidado — enviados da revista estiveram em Hanói e Saigon, as capitais da disputa asiática, no fim dos anos 1960 e início dos 1970; em Israel, na Arábia Saudita e no Kuwait durante a primeira Guerra do Golfo, em 1991; na guerra civil de Sarajevo, em 1992; e, mais recentemente, em Tel Aviv e na fronteira com a Faixa de Gaza. O objetivo: ver de perto o que há, os humores e temores, de modo a discernir as mentiras das verdades.


Era fundamental, portanto, na trilha vocacional de VEJA, seguir olho no olho a mais duradoura contenda de hoje, entre a Rússia de Vladimir Putin e a Ucrânia de Volodymyr Zelensky, iniciada em fevereiro de 2022, com a invasão russa — e que foi tema de sucessivas capas da revista. Do início a meados de setembro, o repórter Caio Saad esteve duas semanas na Ucrânia e na Polônia. Viu os estragos, em Kiev, do primeiro ataque a um prédio governamental desde o início do conflito; mísseis na sede da missão diplomática da União Europeia; e, na fronteira polonesa, o desfile de drones. Durante a Cúpula de Primeiras-Damas e Primeiros-Cavalheiros promovida por Olena Zelenska, um alarme levou o grupo — inclusive Saad — ao bunker, em momentos de preocupação aliviados por comentários de conforto feitos pela primeira-dama ucraniana, em cena quase cômica, não fosse trágica. “Há dois países distintos”, diz Saad. De dia, conta ele, a vida segue praticamente normal em áreas um pouco mais afastadas do front, desde que seja possível ignorar a alta presença militar. “À noite, há toque de recolher e sucessivos alertas de mísseis, assustadores”, completa. Reportagem da edição retrata, com impressionante riqueza de detalhes, o cotidiano de uma nação ameaçada, que busca sobreviver com o apoio de jornalistas imbuídos de tirar o pó das inverdades.
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962