Carta ao Leitor: Um drama sem fim
Conhecer as dores e os argumentos dos dois lados, Israel e Hamas, é a trilha mais adequada para acabar com o conflito

O mundo assiste, atônito e sem esperança, ao conflito entre Israel e Gaza. Parece não haver sensatez em horizonte próximo. O quadro é cada vez mais terrível. Na estreita faixa de apenas 40 quilômetros de comprimento e no máximo 12 quilômetros de largura, mais de 60% dos edifícios foram destruídos, com 2 milhões de pessoas deslocadas de seus lares e agora amontoadas. A fome é real, registrada em imagens devastadoras que percorrem o planeta. Nos últimos dias, como breve interregno, longe de representar a saída definitiva da crise, Israel anunciou a abertura de corredores humanitários para o transporte de alimentos e remédios por meio de comboios da ONU. É pouco, muito pouco.

As Forças de Defesa de Israel (IDF) controlam cerca de 70% de Gaza. O Hamas está derrotado e tem hoje uma pequeníssima força em relação ao que ostentava em 7 de outubro de 2023, quando os terroristas provocaram a morte de pelo menos 1 200 cidadãos de Israel. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não baixa as armas porque depende do belicismo para se manter no poder. O Hamas não devolve os reféns porque se alimenta de seres humanos e da violência para ser ouvido. A solução, imediata e urgente, seria o cessar-fogo, a devolução dos sequestrados e a retomada da diplomacia a caminho da solução de dois Estados. Nesse acordo, os Estados Unidos de Donald Trump teriam papel fundamental — e ao menos nesse caso seria muito bem-vinda voracidade equivalente à que o governo americano emprega para mexer com as taxas de comércio internacional. A pressão da Casa Branca pôs fim à maioria das guerras de Israel desde a criação do país, em 1948.

Não há modo mais fidedigno de enxergar a complexa situação — e iluminar o equilíbrio compulsório para chegar à paz possível — do que ver o palco do conflito de perto. A editora-executiva de VEJA Monica Weinberg esteve uma semana em Israel. Percorreu o país de norte a sul. Na fronteira com Gaza, acompanhou um ponto de distribuição de comida, a pouco menos de 2 quilômetros de distância dos ataques mais mortais de 2023, na região do kibutz Nir Oz. Do lado israelense, ouviu políticos e cidadãos comuns. Ainda antes da viagem, conversou com moradores de Gaza e membros da ONG Médicos sem Fronteiras. “Israel é uma nação polarizada que se une numa ideia: o fim da guerra, defendido por mais de 70% da população”, diz Monica. A cuidadosa reportagem transporta uma mensagem: conhecer as dores e os argumentos dos dois lados, sem fundamentalismo, é a trilha mais adequada para acabar com os conflitos. Vale lembrar de uma frase do escritor Amós Oz (1939-2018): “O que vivemos não é um choque de civilizações, é um choque entre os fanáticos e o resto de nós”.
Publicado em VEJA de 1º de agosto de 2025, edição nº 2955