Depois de visitarem os centros de detenção na fronteira dos Estados Unidos com o México, congressistas americanos denunciaram nesta terça-feira, 2, as condições de vida “terríveis” de imigrantes indocumentados. A conclusão dos parlamentares coloca em situação ainda mais delicada a Patrulha de Fronteira, corporação responsável pelos detidos.
Na segunda-feira 1, os congressistas democratas visitaram os centros detenção em El Paso e Clint, duas cidades do Texas, na fronteira com o México, onde estão detidos imigrantes que entraram de forma irregular nos Estados Unidos.
Esta visita aconteceu depois que o site de notícias independente ProPublica revelou a existência de um grupo no Facebook administrado por agentes e ex-agentes da Patrulha de Fronteira. Nele, há comentários jocosos e insultos aos imigrantes, assim como aos congressistas contrários ao programa anti-imigração do presidente Donald Trump.
A diretora da Patrulha da Fronteira, Carla Provost, denunciou as mensagens “completamente inadequadas” e “contrárias à honra e à ética” dos agentes. O Serviço Federal de Proteção das Fronteiras anunciou a abertura de uma investigação sobre esse grupo no Facebook.
A polêmica contribuiu para reforçar as tensões provocadas por casos dramáticos na fronteira. Além da foto dos corpos do salvadorenho Óscar Martínez Ramírez e de sua filha Valéria, que se afogaram ao tentar a travessia do Rio Grande, a organização não-governamental Human Rights Watch também denunciou a falta de higiene e a superlotação no centro de Clint, que mantinha 300 menores isolados.
Desde a denúncia, as autoridades transferiram a maioria dos menores para outros abrigos.
O chefe da delegação de congressistas, o democrata Joaquín Castro, relatou na segunda-feira 1 as condições de vida das mulheres em El Paso, entre as de doentes, após dois meses presas nesse Centro de Detenção da Patrulha de Fronteira.
Na conversa com a imprensa, ele descreveu locais “sem água potável”, onde os imigrantes têm de “beber água do banheiro”.
Centros lotados
Em um vídeo gravado escondido em uma instalação sem cama, o congressista mostra mulheres em sacos de dormir no chão. Elas contam que não podem tomar banho e não têm acesso a medicamentos.
A também democrata Judy Chu denunciou condições de detenção “assustadoras e repugnantes”, enquanto Madeleine Dean, do mesmo partido, citou “a hostilidade dos agentes” em relação à delegação.
“Posso apenas destacar como é preocupante que agentes da Patrulha da Fronteira tenham, abertamente, uma falta de respeito para com os congressistas”, tuitou nesta terça-feira a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, denunciando a corporação como uma “agência-bandida”.
Uma das opositoras mais ferrenhas da política migratória do atual governo, Ocasio-Cortez foi um dos alvos do grupo de agentes e ex-agendas da Patrulha no Facebook.
A entrevista dos congressistas à imprensa foi perturbada por manifestantes que gritavam palavras de ordem a favor do presidente Donald Trump.
Com 144.000 pessoas detidas em maio, as estruturas dos centros de detenção estão “supersaturadas” porque “não foram feitas para administrar o volume de migrantes que chega”, alegou o subchefe da Agência de Vigilância de Fronteiras, Robert Perez, em entrevista à CNN.
Ele rebateu as acusações de maus-tratos e de falta de higiene dos detidos, garantindo que há “normas muito estritas” para o acesso à água e a produtos de higiene.
Para enfrentar a crise migratória, o Congresso aprovou a liberação de 4,6 bilhões de dólares na semana passada, em caráter de urgência. A dotação orçamentária prevê que os recursos sejam destinados para abrigos para menores, mas também para o controle da fronteira.
(Com AFP)