A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, visitou antigo campo de extermínio nazista de Auschwitz pela primeira vez nos seus 14 anos de governo nesta sexta-feira, 6. A líder alemã doou 60 milhões de euros para ajudar a conservar o local. A visita, a primeira de um chanceler alemão desde 1995, coincide com a ascensão do antissemitismo e da extrema-direita na Europa, no momento em que muitas das últimas testemunhas dos horrores de Auschwitz não estão mais vivas para transmissão das memórias.
No início da manhã, Merkel atravessou o portão do campo de concentração, onde ainda há o slogan nazista: “Arbeit macht frei” (“O trabalho liberta”). A chanceler estava acompanhada do primeiro-ministro polonês Mateusz Morawiecki, de um sobrevivente de Auschwitz, Stanislaw Bartnikowski, de 87 anos, e de representantes da comunidade judaica.
Na quinta-feira, Merkel anunciou a concessão de 60 milhões de euros à Fundação Auschwitz-Birkenau para a manutenção do local onde mais de 1,1 milhão de pessoas foram mortas entre 1940 e 1945. A maioria morreu pouco depois de chegar ao campo de concentração e extermínio nazista, localizado na atual Polônia.
A visita da chanceler, nascida nove anos após a Segunda Guerra Mundial, ocorre pouco antes da comemoração do 75º aniversário da libertação de Auschwitz pelo Exército Vermelho russo, em 27 de janeiro de 1945. Merkel fez um minuto de silêncio em frente ao Muro da Morte, onde dezenas de milhares de detidos foram fuzilados.
Ressurgimento do antissemitismo
Em seguida, a chanceler visitou Birkenau, também conhecido como Auschwitz II, a três quilômetros do campo principal. O campo de extermínio anexo ao original de Auschwitz começou a ser construído em 1941, para descongestionar o primeiro.
Maior que Auschwitz I, mais pessoas passaram por seus portões que pelo campo original. Merkel visitou a rampa onde os deportados eram “selecionados” quando desciam dos trens de transporte de animais: os mais jovens, os mais velhos e os mais frágeis eram enviados diretamente para a morte. A chanceler fará um discurso durante a tarde.
Na Alemanha, a memória do Holocausto está no centro da reconstrução de sua identidade pós-guerra, mas as autoridades estão preocupadas com o aumento de atos antissemitas.
Na quinta-feira, Merkel reiterou que a “luta contra o antissemitismo e contra todas as formas de ódio” é uma das prioridades de seu governo. Também insistiu na “determinação” das autoridades para que a crescente comunidade judaica se desenvolva plenamente na Alemanha.
Em outubro, um ataque fracassado a uma sinagoga em Halle chocou o país. O autor, que matou duas pessoas aleatoriamente, é um jovem seguidor das teses negacionistas. O partido de extrema-direita AfD, que entrou no Bundestag (Parlamento) há dois anos, defende o fim da cultura do arrependimento.
Últimas testemunhas
O nome de Auschwitz se tornou um símbolo do mal absoluto. Judeus de toda a Europa, da Hungria à Grécia, foram exterminados neste lugar. Muitos detidos, incluindo crianças, foram submetidos a experiências hediondas pelo dr. Josef Mengele, o “anjo da morte”. Também neste campo, que continha três câmaras de gás e quatro crematórios, o gás Zyklon B foi usado pela primeira vez em 1941.
Para o presidente do Conselho Judaico Central da Alemanha, Josef Schuster, “não há outro lugar de memória que mostre tão nitidamente o que aconteceu no Holocausto”. “O assassinato industrial em massa continua a abalar os visitantes”, disse Schuster.
Mas as últimas testemunhas dessa infâmia humana, conhecidas ou menos conhecidas, estão desaparecendo. Leon Schwarzbaum, de 98 anos, e um dos últimos sobreviventes vivos, lembra as “chaminés que cuspiam fogo quando as pessoas eram queimadas e os gritos horríveis” das vítimas durante o extermínio dos ciganos em agosto de 1944.
Antes de Merkel, seus antecessores Helmut Schmidt, em 1977, e Helmut Kohl, em 1989 e 1995, visitaram Auschwitz. Em 14 anos no poder, a chanceler visitou Ravensbrück, Dachau, Buchenwald e o Museu do Holocausto Yad Vashem em Jerusalém. Em 2008, foi a primeira chefe de governo alemão a proferir um discurso no Knesset, o Parlamento de Israel. Na ocasião, lembrou a “vergonha” que mancha os alemães. Há 23 anos, o dia 27 de janeiro é o dia da Recordação das Vítimas do Nazismo na Alemanha.