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Chanceler critica ONU e multilateralismo diante do Conselho de Segurança

Ernesto Araújo: 'Não permitamos que a saúde seja mais uma vítima a ser sequestrada por essa ideologia e pervertida para servir a objetivos totalitários'

Por Denise Chrispim Marin Atualizado em 8 Maio 2020, 22h09 - Publicado em 8 Maio 2020, 21h53

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, criticou o multilateralismo e a própria Organização das Nações Unidas em plena reunião informal do Conselho de Segurança da ONU para celebrar os 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Em seu discurso nesta sexta-feira, 8, o chanceler brasileiro teceu a defesa das soberanias nacionais sobre a ordem internacional regida, em sua visão, por organismos multilaterais e insinuou que as Nações Unidas tentam manter um equilíbrio entre o totalitarismo e a liberdade.

“Se a Organização das Nações Unidas ignorar os desafios reais de hoje e, em vez disso, optar por jargões politicamente corretos, seu papel estará diminuído”, afirmou, logo depois de afirmar que a ONU deve ser um “espaço de coordenação entre nações independentes, e não um instrumento para substituí-las”. “A ONU não deve ser um esforço para encontrar uma base comum entre liberdade e totalitarismo, e muito menos para promover o totalitarismo sub-repticiamente.”

O chanceler esquivou-se de mencionar quais países representam atualmente, de um lado, o totalitarismo, e de outro, a liberdade. As críticas do governo brasileiro à China, cujo regime político continua ancorado no comunismo, estão registradas em diferentes episódios. O país é um dos membros permanentes do Conselho de Segurança e o principal parceiro comercial do Brasil. “Vamos fazer das instituições multilaterais uma plataforma para trabalhar pela verdade e pela liberdade”, recomendou, sem explicar se, em seu ponto de visto, isso significaria a exclusão das nações ditas totalitárias ou comunistas e/ou uma reforma na Carta de São Francisco, que criou a ONU em 1945. “O multilateralismo não deve se tornar outro sistema de pensamento que nega a realidade e que tenta impor-se à realidade”, completou.

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Em sua fala, Araújo mencionou que a pandemia de Covid-19, a doença causada pelo coronavírus, vai gerar uma nova ordem internacional, cujo formato ainda não é conhecido. “Não vamos deixar outra forma de totalitarismo emergir agora, como a que emergiu após a Segunda Guerra Mundial”, declarou. Conforme lembrara pouco antes, outra forma de totalitarismo “lançou sua sombra sobre a humanidade” depois de encerrada a Segunda Guerra Mundial e tentou sequestrar e perverter a ONU. Referiu-se obviamente aos regimes soviético, cubano e maoista.

Sua lógica, porém, alcançou a Organização Mundial da Saúde (OMS), claramente contrariada com a forma como o governo de Jair Bolsonaro conduz a crise de saúde pública causada pela Covi-19. Também a OMS se vê duramente criticada pelo governo de Donald Trump, dos Estados Unidos, que alega ter a entidade se intimidado pela China no episódio da epidemia. O país cortou seus aportes de recursos como punição à organização.

“[Os regimes totalitários] Tentaram sequestrar e perverter causas e conceitos nobres, como direitos humanos, justiça, proteção ambiental. Não permitamos que a saúde seja mais uma vítima a ser sequestrada por essa ideologia e pervertida para servir a objetivos totalitários”, declarou.

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O discurso do chanceler se deu justamente no dia em que foi publicado nos principais jornais brasileiros um artigo assinado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ex-ministros das Relações Exteriores de diferentes governos e especialistas sobre os equívocos da Política Externa conduzida por Araújo. No texto, há dura crítica ao alinhamento do Itamaraty aos Estados Unidos e aos ataques do Brasil inexplicáveis à China e à OMS.

“O sectarismo dos ataques inexplicáveis à China e à Organização Mundial da Saúde, somado ao desrespeito à ciência e à insensibilidade às vidas humanas demonstrados pelo presidente da República, tornou o governo objeto de escárnio e repulsa internacional”, assinalaram os autores.

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