O secretário-geral da ONU, António Guterres, conversou nesta sexta-feira, 20, com o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e manifestou preocupação com a situação no país após as eleições presidenciais de 28 de julho, que tiveram os resultados contestados pela oposição.
O gabinete de Guterres destacou que o secretário-geral “expressou preocupação com relatos de violência pós-eleitoral e violações dos direitos humanos e enfatizou a necessidade de resolver quaisquer disputas políticas de forma pacífica, através de um diálogo genuíno e inclusivo”. Ele também discutiu as posições do presidente venezuelano sobre a situação no país.
Guterres já havia solicitado que a Venezuela apresentasse os resultados detalhados das eleições, o que não ocorreu, e lamentou a falta de transparência por parte das autoridades. Ele também afirmou que as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos “não ajudam” a resolver a crise.
Cenário de crise
A Venezuela está vivendo uma crise após as eleições, marcada pelo aumento da repressão contra opositores que contestam a vitória de Maduro e alegam fraude. Essa situação levou o ex-candidato e principal rival de Maduro, Edmundo González, a deixar o país e solicitar asilo na Espanha.
O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro vencedor para um terceiro mandato (2025-2031), decisão ratificada pelo Supremo Tribunal de Justiça, embora sem registros de votação que comprovassem a vitória. Ambas as instituições são acusadas de servir aos interesses do governo.
Após a proclamação de Maduro como vencedor, protestos eclodiram no país e deixaram 27 pessoas mortas, 192 feridas e cerca de 2.400 pessoas detidas, de acordo com fontes oficiais.
A oposição, liderada por María Corina Machado, denunciou fraudes e publicou cópias de 80% dos registros eleitorais que, segundo ela, indicam a vitória de González.
Risco de desintegração do Estado de direito
A Missão de Estabelecimento de Fatos da ONU para a Venezuela alertou para o alto risco de desintegração do Estado de direito no país, diante do agravamento das condições de direitos humanos e do aumento da repressão por parte do chavismo.
Em relatório apresentado nesta sexta-feira, a instituição documentou abusos, como detenções arbitrárias e tortura, reiterando que essas ações podem ser classificadas como crimes contra a humanidade. Durante a campanha eleitoral, a equipe da ONU registrou até 121 detenções de indivíduos que prestaram apoio a eventos da oposição, muitas das quais resultaram em tortura e desaparecimentos forçados.
A presidente da Missão, Marta Valiñas, afirmou que as violações documentadas fazem parte de um plano sistemático para silenciar a oposição e deslegitimar vozes críticas ao governo.
“Estas violações são o resultado de um plano previamente concebido e executado através de diferentes modalidades de repressão: um plano para desencorajar, silenciar e anular a oposição política e as vozes críticas ao Governo do Presidente Maduro ou daqueles que exigem transparência dos resultados eleitorais”, disse a presidente da missão.