China acusa EUA de ‘sabotagem’ e ‘difamação’ após saída do Panamá da ‘Nova Rota da Seda’
Decisão foi anunciada após sucessivas pressões de Donald Trump para reduzir influência chinesa no Canal do Panamá, uma importante rota comercial marítima

A China se opõe firmemente à “difamação e sabotagem” dos Estados Unidos envolvendo a Iniciativa Cinturão e Rota, disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, nesta sexta-feira, 7. Na véspera, o Panamá cancelou sua participação no megaprojeto econômico chinês que estabelece investimentos e rotas comerciais ao redor do globo, em uma decisão anunciada após sucessivas pressões do presidente americano, Donald Trump, para reduzir a influência chinesa no Canal do Panamá, uma importante rota comercial marítima.
“Esperamos que o Panamá tome a decisão certa com base na situação geral das relações bilaterais e nos interesses de longo prazo dos dois povos, e elimine a interferência externa”, disse Lin Jian, alertando que a decisão teria sido tomada por “pressão e coerção”.
O porta-voz ressaltou ainda que mais de 20 países da América Latina estão entre as mais de 150 nações que participam da Iniciativa Cinturão e Rota. Em novembro de 2017, o Panamá foi o primeiro país latino-americano a entrar oficialmente no projeto, que prevê financiamentos e investimentos com orçamento na casa dos trilhões de dólares.
Decisão do Panamá
Na quinta-feira, o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, comunicou que a Embaixada do Panamá em Pequim apresentou o documento requerido para “anunciar o cancelamento com 90 dias de antecedência”, como estabelece o acordo, que expiraria em dois a três anos. O anúncio veio uma semana depois de o mandatário se reunir com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, na Cidade do Panamá.
Ele negou, porém, que isso se trate de uma exigência de Washington. “Essa é uma decisão que tomei”, declarou Mulino.
Apesar da decisão, tanto o governo panamenho quanto a Autoridade do Canal do Panamá (ACP) desmentiram na quinta-feira uma declaração do Departamento de Estado americano que afirmava que embarcações dos Estados Unidos teriam “passe livre” pela hidrovia.
Mulino chamou a afirmação de “intolerável” e “falsidade absoluta”, além de pedir que o embaixador panamenho em Washington tome “atitudes firmes” para lidar com a situação.
Ameaças de Trump
Desde sua vitória nas eleições, em novembro do ano passado, Trump tem afirmado repetidamente que o Panamá violou acordos de tratados que exigem neutralidade nas operações do canal, além de lançar ameaças de que os Estados Unidos tomariam controle da hidrovia. Ele criticou as taxas “ridículas” cobradas pelo país e disse que o empreendimento não deve cair em “mãos erradas.”
“Navios americanos estão sendo severamente sobrecarregados e não estão sendo tratados de forma justa, e isso inclui a Marinha dos Estados Unidos”, afirmou Trump em seu discurso de posse, em 20 de janeiro. “E, acima de tudo, a China está operando no Canal do Panamá, e nós não o demos à China. Nós o demos ao Panamá. E vamos tomá-lo de volta.”
A construção do canal foi finalizada pelos americanos em 1914, com o objetivo de facilitar o traslado de cargas entre os oceanos Atlântico e Pacífico. Há 25 anos, o controle do atalho foi completamente cedido ao Panamá, mas, entre os acordos envolvidos no pacto de cessão, o ex-presidente Jimmy Carter garantiu aos Estados Unidos o direito de defender a neutralidade do local.
Hoje, os americanos são os principais usuários do atalho, responsáveis por cerca de três quartos de toda a carga transportada. Eles são seguidos pela China, o segundo maior cliente, o que gera preocupação do presidente eleito. Hoje, porém, o canal não é controlado pelos chineses, mas uma empresa com sede em Hong Kong é responsável por dois dos cinco portões do atalho, um na entrada do Caribe e outro na entrada do Pacífico.