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Cientista de 104 anos canta Ode à Alegria na véspera do suicídio assistido

Impedido de pesquisar na universidade, o botânico David Goodall decidiu encerrar sua vida – e espera que seu ato ajude a mudar a lei na Austrália

Por Marcelo Soares
Atualizado em 9 Maio 2018, 19h49 - Publicado em 9 Maio 2018, 19h24

“Se eu tivesse de pedir uma música, acho que seria o último movimento da nona sinfonia de Beethoven“, disse o cientista David Goodall, 104 anos de idade, na entrevista coletiva que deu ao chegar à Suíça.

“Alegria, mais belo fulgor divino, filha de Elíseo! Ébrios de fogo entramos em teu santuário celeste!”, cantou ele, em alemão, os versos da “Ode à Alegria”. Foi aplaudido pelos jornalistas.

Nesta quinta-feira (10), ele entrará em processo de suicídio assistido, que é ilegal na Austrália, onde viveu seus últimos anos. Disse estar feliz pela oportunidade e espera que sua morte mude a lei.

No último ano, ele se tornou reconhecido mundialmente como um ativista do direito ao suicídio assistido. Segundo ele, os idosos precisam ter o direito de decidir como, quando e onde querem encerrar sua vida.

Goodall teve uma vida longa e próspera. Nasceu três meses antes da Primeira Guerra Mundial e completou seu doutorado durante a Segunda Guerra, quando a Alemanha bombardeava a Londres onde nasceu e se criou.

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Tornou-se um botânico e ecologista internacionalmente respeitado nos primórdios da informática – o que lhe permitiu ser um pioneiro do estudo quantitativo das plantas. Ao longo de sua carreira, publicou mais de 130 estudos em revistas acadêmicas.

Já em 1964, ele publicava na Nature uma carta propondo uma metodologia para classificação probabilística de espécies utilizando a linguagem Fortran. Hoje, nos mais modernos cursos de machine learning, os alunos utilizam um banco de dados que classifica espécies de plantas, publicado no tempo em que Goodall era estudante. Ele fazia algo semelhante muito antes de estar na moda.

Apesar de ter se aposentado em 1979, continuava ativo em 2016, quando a Edith Cowan University, onde era professor emérito, pediu que ele passasse a fazer suas pesquisas de casa. Não queriam que ele sofresse uma queda no campus. Ele deu entrevista a um jornal australiano reclamando de ter de trabalhar de casa. Em dezembro daquele ano, sua contribuição encerraria. Após o recurso de Goodall, que teve apoio da opinião pública, a decisão foi revertida. Continuou pesquisando até recentemente.

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Depois da segunda aposentadoria, Goodall se viu sem perspectivas. Tentou o suicídio por três vezes, sem sucesso. Depois, sofreu uma queda e seu estado físico piorou muito. Ele diz não sofrer de nenhuma doença, exceto as limitações de mobilidade e um princípio de perda de visão e audição.

Querendo muito encerrar sua vida, mas sem poder recorrer ao suicídio assistido na Austrália ele procurou a organização Exit, que bancou sua ida à Suíça. Ele chegou ao país ao lado de alguns familiares que o acompanharão em seus últimos momentos.

“É a minha própria decisão. Quero pôr fim à minha vida e fico grato que isto seja possível na Suíça”, declarou perante dezenas de jornalistas. Disse que se alegrava de poder se ver aliviado dos problemas de visão e audição reduzida.

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Nesta segunda-feira, Goodall foi avaliado por dois médicos — um deles psiquiatra —, que aprovaram o ato de suicídio assistido.

Seu último gesto será o de injetar-se o remédio fatal. Talvez ao som de Beethoven.

(Com a agência EFE)

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