Coalizão conservadora que governa Japão perde maioria no Parlamento
Com pior resultado desde 2009 para o Partido Liberal Democrático (PLD), liderado primeiro-ministro Shigeru Ishiba, país sofre com incerteza política
A coalizão conservadora do primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, perdeu sua maioria parlamentar em uma derrota histórica nas eleições nacionais do domingo 27, aumentando a incerteza em relação à composição do próximo governo e o futuro da quarta maior economia do mundo.
O Partido Liberal Democrático (PLD), liderado por Ishiba, e seu parceiro de coalizão Komeito conquistaram 209 cadeiras na câmara baixa do parlamento. Foi uma queda expressiva em relação aos 279 assentos que os aliados tinham anteriormente, e 24 a menos que o mínimo necessário para assegurar a maioria.
Foi o pior desempenho da coalizão desde 2009, refletindo a insatisfação dos eleitores em relação ao aumento do custo de vida, à inflação e a um escândalo de financiamento de campanha envolvendo o PLD.
Reações iniciais
Ishiba afirmou nesta segunda-feira, 28, que seu partido deve “levar a sério” a “avaliação extremamente severa” que os eleitores fizeram do governo, embora tenha indicado que não pretende renunciar ao cargo de primeiro-ministro.
“Eu também voltarei ao início e promoverei reformas internas severas dentro do partido e outras mudanças drásticas em relação à situação política”, prometeu ele.
Enfraquecida, a coalizão governante pode ser forçada a formar alianças com outros partidos, ou governar por meio de um governo minoritário. Ambos os cenários ameaçam a estabilidade política do Japão, que já enfrenta desafios econômicos e tensões crescentes no Leste Asiático, em especial devido às ameaças da China e da Coreia do Norte.
Vitória da oposição
O principal partido de oposição ao governo conservador, o Partido Democrático Constitucional do Japão (CDPJ), emergiu como o grande vencedor do pleito de domingo, com 148 assentos no parlamento – um ganho de 50 deputados.
“Este não é o fim, mas o começo”, disse o líder do CDPJ, Yoshihiko Noda, após a divulgação dos resultados, acrescentando que seu partido trabalharia com outros membros da oposição em busca de uma mudança no governo. “Nosso objetivo era romper a maioria do partido no poder, e conseguimos, o que é uma grande conquista.”
Eleições antecipadas
Ishiba venceu uma disputa acirrada pela liderança do PLD no mês passado, em sua quinta tentativa de assumir o poder do partido conservador que governa o Japão quase continuamente desde 1955. Conhecido por ser um crítico dentro da própria legenda, o ex-ministro da Defesa se posiciona na ala mais progressista do PLD.
+ Em longa estagnação, Japão elege primeiro-ministro progressista
Logo após assumir o cargo, Ishiba dissolveu o Parlamento e convocou eleições antecipadas, alegando que seria uma oportunidade de “criar um novo Japão”. No sábado 26, o premiê prometeu que o PLD “começaria de novo como um partido justo, imparcial e sincero”. As promessas, porém, não foram suficientes para convencer os eleitores.
Nos meses antes do pleito, o PLD viveu um dos maiores escândalos políticos do Japão das últimas décadas, após a revelação de que o partido possui um fundo secreto de doações políticas não registradas feitas em eventos de arrecadação. A situação se agravou quando funcionários de alto escalão foram acusados de violações da lei eleitoral e de emitirem declarações ofensivas.