Coalizão de Netanyahu perde um partido e governo de Israel fica sob pressão
Em meio a disputa interna, premiê israelense fica com maioria apertada no parlamento e vê apoio político diminuir

Um dos partidos ultrarreligiosos que sustentam o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu em Israel deixou a coalizão, segundo cartas enviadas por seus membros nesta terça-feira, 15. Assim, a maioria que ele preserva no parlamento do país, o Knesset, caiu de 67 para 61 assentos, de um total de 120, reduzindo seu apoio político a uma margem fina.
Seis membros do Judaísmo Unido da Torá (UTJ) entregaram cartas de renúncia de seus cargos em comissões parlamentares e ministérios. A medida foi fruto de uma disputa interna na aliança de Bibi: os partidos religiosos defendem a continuidade da isenção do alistamento militar para estudantes de seminários ultraortodoxos, algo que o Knesset vem tentando derrubar.
O Shas, sigla intimamente ligada ao UTJ, pode seguir o exemplo e deixar o governo Netanyahu sem maioria parlamentar. O presidente da legenda, Aryeh Deri, já disse aos dirigentes do Shas para começarem a se preparar para renunciar ao governo nos próximos dias e se juntar à oposição.
Ultimato e crise interna
Os legisladores do UTJ disseram que sua saída entraria em vigor após 48 horas, dando a Netanyahu dois dias para tentar resolver a crise que assola sua coalizão há meses. Mesmo que isso não dê certo, o Knesset entra em recesso no final de julho, o que daria ao primeiro-ministro mais três meses para buscar uma solução antes que outras baixas possam ameaçar sua posição.
Netanyahu também enfrenta pressão de partidos de extrema direita em sua coalizão devido às negociações para um cessar-fogo em Gaza, que se desenrolam no Catar. As tratativas indiretas entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas se debruçam sobre um acordo, proposto pelos Estados Unidos, para interromper os combates por 60 dias, permitir que metade dos reféns ainda em cativeiro sejam libertados e abrir as fronteiras do enclave para ajuda humanitária. O pacto também daria início a uma nova fase de negociações, para encerrar a guerra de forma permanente.
Os ministros da Segurança Nacional e das Finanças, Itamar Ben-Gvir e Bezalel Smotrich, respectivamente – eles também líderes de partidos religiosos de extrema direita – querem que Israel prossiga com a guerra, mas Netanyahu provavelmente ainda teria votos suficientes no gabinete para garantir um cessar-fogo sem eles.
“Assim que o acordo certo estiver sobre a mesa, o primeiro-ministro poderá aprová-lo”, garantiu Topaz Luk, assessor próximo do premiê, à Rádio do Exército nesta terça-feira.
A disputa sobre isenções de recrutamento
A guerra em Gaza, que começou com um ataque surpresa do Hamas em 7 de outubro de 2023, com 1.200 mortos e 251 reféns, já se arrasta por 21 meses, gerando desgaste entre a população israelense e destruição no enclave palestino. A retaliação de Tel Aviv já ceifou mais de 58 mil vidas, segundo autoridades de saúde locais, deslocou quase toda a população de Gaza, levou a uma crise humanitária e deixou grande parte do território em ruínas.
Em paralelo, o conflito causou o maior número de mortes entre militares israelenses em décadas; cerca de 450 soldados foram mortos até o momento. Isso alimentou ainda mais o debate já explosivo sobre um novo projeto de lei de recrutamento, que está no centro da crise política de Netanyahu.
Estudantes de seminários ultraortodoxos há muito tempo desfrutam de uma isenção do serviço militar obrigatório. Líderes judeus sustentam que a dedicação integral ao estudo das escrituras sagradas é sacrossanta e temem que jovens se afastem da vida religiosa caso sejam convocados para o exército.
Grande parte da população em Israel, porém, está indignada com o que considera uma injustiça. No ano passado, a Suprema Corte ordenou o fim da isenção. O Knesset vem tentando elaborar um novo projeto de lei sobre o recrutamento, que até agora não atendeu às exigências do Tribunal de Justiça.