‘Coletes amarelos’ voltam às ruas da França neste sábado
Anúncio de benesses pelo presidente Macron não é suficiente para aplacar descontentes; 8.000 policiais estão mobilizados em Paris
O anúncio desta semana do presidente da França, Emmanuel Macron, de benesses para assalariados e aposentados não parece ter aplacado os “coletes amarelos”. O movimento deverá retomar as ruas do país neste sábado, 15, para apresentar demandas sociais ao governo pela quinta semana consecutiva.
Diante desse risco, Paris organizou um dispositivo de segurança com 8.000 policiais e catorze veículos blindados.
Nesta sexta-feira, Macron insistiu que a França “precisa retornar ao seu funcionamento normal”. Mas o movimento, que começou em novembro como protesto contra a adoção de um imposto sobre combustíveis fósseis para reduzir as emissões de gás carbônico, ampliou-se com outras demandas e a adesão de segmentos diferentes da sociedade francesa, como os estudantes e os agricultores.
“Não é o momento de se render, devemos continuar”, exortou na quinta-feira 13 um dos iniciadores do movimento, Eric Drouet, em um vídeo no Facebook. “O que Macron fez na segunda-feira nos faz querer continuar, porque ele começou a ceder e vindo dele é incomum”, completou, referindo-se ao anúncio de medidas econômico-sociais.
Na última segunda-feira 10, Macron prometera um aumento de 100 euros no salário mínimo, atualmente de 1.498 euros ao mês, a isenção de um recém-criado imposto para aposentados com renda inferior a 2.000 euros mensais e o fim de tributos sobre as horas extras.
Na quinta-feira 13, antes da morte do terrorista Chérif Chekatt em Estrasburgo, o governo francês havia pedido aos manifestantes que se abstivessem de sair às ruas para protestar neste sábado. O apelo esvaiu-se com o anúncio da “neutralização” de Chekatt.
No Facebook, principal canal de mobilização dos “coletes amarelos”, milhares de pessoas já responderam aos apelos para se manifestarem pelo quinto sábado consecutivo. “O terrorista foi morto, já não há nenhum obstáculo para se manifestar. Coletes amarelos unidos no sábado!”, dizia uma mensagem em um dos grupos do movimento na rede social.
No entanto, depois de quatro sábados de protestos, dos quais três derivaram para violência com barricadas armadas nas ruas e saques de lojas, há manifestantes em favor de uma trégua.
A associação Robin des Bus, que levou em seus ônibus “coletes amarelos” do norte da França até Paris, cancelou as viagens programadas para o sábado. É um sinal de que os manifestantes “não têm intenção de ir a Paris”, disse seu presidente, Thibault Vayron.
Barricadas
Após o ataque em Estrasburgo, várias vozes se levantaram para exigir que os protestos cessassem. No último sábado, 136.000 pessoas se manifestaram em toda a França, segundo dados do Ministério do Interior. Nesse dia, houve um recorde de 2.000 prisões, mais de 320 feridos e danos materiais em várias cidades. Entre elas, Paris, Bordeaux e Toulouse.
“Eu preferiria que as forças de segurança fizessem seu verdadeiro trabalho. Isto é, perseguir os criminosos e diminuir o risco de terrorismo, em vez de ficar nos piquetes em rotatórias”, declarou nesta sexta-feira o ministro do Interior da França, Christophe Castaner.
Figura conhecida do partido conservador, Xavier Bertrand expressou sua preocupação com “novas cenas de violência”. “Toda vez que os ‘coletes amarelos’ querem se manifestar, outros vêm atrás deles (…) e destroem tudo”.
Desde o início das manifestações, em 17 de novembro, seis pessoas morreram e centenas ficaram feridas em acidentes relacionados aos bloqueios e protestos. Os novos protestos preocupam os comerciantes, que foram afetados por essa revolta às vésperas das festas de final de ano.
A economia francesa já foi afetada. A atividade no setor privado caiu ao seu nível mais baixo em dois anos e meio em dezembro, de acordo com um índice provisório publicado pela IHS Markit. “É dramático. Dezembro normalmente representa 25% das minhas vendas”, lamentou Anne Sicher, proprietária de uma loja de acessórios em Bordeaux.
Louvre
Diversos monumentos e museus de Paris fecharão novamente neste sábado como medida de segurança. O Arco do Triunfo, o Panteão, a Santa Capela, as torres de Notre-Dame, a Conciergerie, a Capela Expiatória e o Palácio Real e seus jardins, todos dependentes do Centro de Monumentos Nacionais, não abrirão suas portas.
Também serão fechados o Petit Palais, próximo à Avenida Champs-Élysées, o epicentro dos protestos em Paris, o Museu de Arte Moderna e o Cernuschi, dedicado às artes asiáticas.
Algumas instituições que no sábado passado decidiram fechar suas portas, no entanto, prometem abri-las. Entre elas, o Museu do Louvre, a Ópera da Bastilha, a Ópera Garnier, o Museu do Homem e as lojas de departamento Printemps.
O comissário regional da polícia de Paris, Michel Delpuech, explicou nesta sexta-feira que o dispositivo de segurança será “parecido com o da semana passada”, quando mobilizou 8.000 policiais apoiados por caminhões com jatos de água e blindados da Gendarmaria para desmontar barricadas. Em toda a França, em 8 de dezembro, foram convocados 89.000 policiais. O contingente não impediu as cenas de conflito urbano.
(AFP e EFE)