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Colômbia vai às urnas hoje polarizada e com paz ainda frágil

Iván Duque, da direita, e o ex-guerrilheiro Gustavo Petro deverão disputar o segundo turno em 17 de junho

Por Julia Braun e Denise Chrispim Marin
Atualizado em 27 Maio 2018, 08h00 - Publicado em 27 Maio 2018, 08h00
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  • Os colombianos vão às urnas neste domingo (27) em meio a um cenário político extremamente polarizado. Os dois principais candidatos da corrida presidencial, Iván Duque e Gustavo Petro, defendem propostas divergentes e discordam sobre um do ponto-chave do futuro do país: o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), de 2016.

    Duque representa a coalizão conservadora liderada pelo Centro Democrático, da qual também fazem parte grupos evangélicos. Conta com o apoio do ainda popular ex-presidente Álvaro Uribe e insiste em modificar o tratado de paz assinado por seu sucessor, Juan Manuel Santos, em 2016. O acordo impede que ex-guerrilheiros responsáveis por crimes graves cheguem ao Congresso.

    Pela esquerda concorre Gustavo Petro, ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19) que promove uma campanha contra a violência e aposta no acordo para os próximos anos.

    “Esse cenário polarizado não é muito habitual na Colômbia”, diz Yann Basset, diretor do Observatório de Representação Política da Universidade do Rosário em Bogotá. “O normal é haver candidaturas hegemônicas, que conseguem atrair todo o espectro político”, completa.

    Entre os outros candidatos estão Germán Vargas Lleras, apoiado por Juan Manuel Santos; Humberto de la Calle, do Partido Liberal; e Sergio Fajardo, da Coalizão Colômbia. De la Calle, que foi o negociador com as Farc, é o mais firme defensor do acordo. Porém, tem pouco peso nas pesquisas de opinião, com apenas 3% das intenções de voto.

    Duque aparece em primeiro lugar nas pesquisas, com 41,5% dos votos, segundo a última pesquisa do Invamer Gallup, realizada entre os dias 12 e 16 de maio com entrevistas 1.200 pessoas. Petro conta com um respaldo de 29,5% dos eleitores. Os dois devem se enfrentar em um segundo turno, marcado para 17 de junho. O instituto de pesquisa, para esse caso, prevê a vitória de Duque, com 53,5% dos votos. O ex-guerrilheiro do M-19 teria 43,4%.

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    Acordo de paz

    O pacto assinado pelo governo de Santos com as Farc em 2016 é ponto central da corrida. O acordo, denominado pelo governo como “Processo de Paz”, tem como principal objetivo o fim da luta armada com as guerrilhas, que se arrasta há mais de 50 anos, e a garantia de uma transição que possibilite a atuação política das Farc como partido regularmente constituído e formalmente reconhecido. A reinserção dos guerrilheiros na sociedade é outro tópico relevante.

    A implementação do tratado – questionada por ex-guerrilheiros, que acusam o Estado de violações, e por parte da população – será uma das principais tarefas do próximo governo. Porém, os flagelos do narcotráfico, a corrupção e a desigualdade dificultam a consolidação de uma paz ainda frágil.

    Para Peter Hakim, do think-tank Diálogo Interamericano, de Washington, a presença do acordo de paz como tema central nas eleições deste domingo deve-se ao fato de que a adoção de seus termos foi precária e superficial. O governo Santos não conseguiu, nos últimos dois anos, reconstruir a infraestrutura das regiões dominadas por décadas pelas Farcs e promover o desenvolvimento desses locais, de forma a permitir o retorno de centenas de milhares de deslocados. A violência ainda impera nessas áreas.

    “Muito esforço foi feito na negociação e conclusão do acordo. Mas muito pouco foi feito depois para o retorno dos que fugiram dos conflitos, a reintegração dos soldados da guerrilha à sociedade e para impedir o acesso de narcotraficantes às antigas áreas de combate”, explicou.

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    A Colômbia foi duramente abalada por uma guerra interna que, em meio século, confrontou guerrilheiros, paramilitares de direita e agentes de segurança do Estado. Esses conflitos deixaram de 260.000 mortos e 7 milhões de deslocados.

    Diante de tamanha insegurança e traumas ao longo das décadas, a população ainda teme o retorno do conflito e reprovou o acordo no primeiro plebiscito popular realizado pelo governo em outubro de 2016. Nas eleições legislativas de março passado, a população igualmente deu pouco apoio às Farc, transformadas no partido com a mesma sigla.

    A nova Farc (Força Alternativa Revolucionária do Comum) teve  apenas 0,5% do total dos votos parlamentares, embora o pacto lhes garanta dez assentos cativos. Seu candidato à Presidência, Rodrigo Londoño, que comandou a guerrilha sob o pseudônimo de Timochenko, desistiu da campanha em março passado depois de sofrer um infarto.

    O que está em jogo

    Duque é apoiado pelo ex-presidente Uribe, um dos maiores opositores do acordo de paz assinado por Santos. Da mesma forma, o economista e candidato da direita também acredita que o pacto deixa impunes ex-guerrilheiros que cometeram crimes durante a guerra. Essa também é uma questão para boa parte dos colombianos, que se indignam de ver agora livres e engajados na política os responsáveis por crimes hediondos.

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    O candidato promete impedir que lideranças das Farc assumam cargos políticos antes de cumprirem pena por seus crimes. Também acena com uma reforma constitucional para acabar com uma benevolência ao narcotráfico, atualmente considerado um delito anistiável.

    Muitos temem, contudo, que Duque possa alterar partes centrais do acordo e colocar em risco a aparente estabilidade na qual vive o país.

    “Acredito que, em caso de uma vitória, Duque poderia colocar em questão alguns aspectos do acordo relacionados às reformas estruturais, como a reforma agrária e a reforma eleitoral”, diz Yann Basset. “Mas não deve modificar o coração do acordo, como como a desmobilização das FARC, os benefícios jurídicos e os procedimentos de reinserção”, argumenta.

    Peter Hakim concorda com essa visão e considera Duque um político mais pragmático do que seu padrinho, Uribe, o presidente Santos e seu principal concorrente nesta eleição. Petro, para Hakim, ainda está preso à ideologia de esquerda, mas tem clara noção de que há limites para a reforma do acordo.

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    “Duque não vai desfazer o acordo”, afirmou Hakim. Ele lembrou o fato de Santos ter sido ministro de Defesa e candidato de Uribe à sua sucessão, mas desvinculou-se de seu padrinho e insistiu na conclusão do acordo de paz. Uribe e Santos são hoje inimigos políticos.

    Santos, porém, tornou-se uma espécie de fantasmo político, ao final de seus oito anos de poder. Não conseguiu fazer decolar seu candidato, Germán Vargas Llera, seu vice-presidente. Em boa medida, esse fato se deve a seu empenho na conclusão do acordo. Embora a paz fosse o desejo de quase 100% da população colombiana, os termos do tratado não agradaram nenhum dos segmentos sociais, como ficou claro no referendo de 2016.

    “A qualidade de vida pode ter melhorado em Bogotá, mas no interior do país a violência ainda é enorme e a pobreza prevalece”, disse Hakim. “Santos não tem capacidade de entusiasmar os colombianos comuns, fez escolhas ruins e é visto como vaidoso e arrogante demais.”

    O governo Santos conseguiu, de fato, reduzir a pobreza de 37,2% para 26,9%, entre 2010 e 2017. A extrema pobreza caiu de 12,3% para 7,4%. Mas cerca de 13 milhões dos 46,8 milhões de colombianos continuavam a viver na pobreza, segundo dados oficiais, e a alimentar a criminalidade.

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