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Com ajuda de influencers brasileiras, Rússia recruta mulheres para fabricar drones no país

Atraídas por promessa de salários altos e cobertura dos custos de viagem, vítimas do 'Alabuga Start' acabam no Tartaristão, trabalhando em condições precárias

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 out 2025, 14h10 - Publicado em 1 out 2025, 13h51

“Você já pensou em morar fora, trabalhar e ainda receber por isso?” É com essa frase de efeito que uma série de influencers brasileiras começam vídeos publicados em redes sociais para divulgar o que chamam de “oportunidade única” de emprego na Rússia. Segundo elas, signatários receberiam salários de até US$ 680 dólares por mês, com todas as despesas de acomodação e passagens aéreas pagas, seguro médico, “documentação garantida”, além de aulas de russo, para atuar ao longo de dois anos nas áreas de “hospitalidade, alimentação, produção e logística”.

A promessa é muito diferente da realidade.

O que influenciadoras como Isabella Duarte e a MC Thammy Caroline chamam de “Programa Start” é, na prática, o Alabuga Start, uma iniciativa de recrutamento vinculada à Zona Econômica Especial de Alabuga, no Tartaristão, Rússia. Oficialmente, o programa é vendido como uma oportunidade para jovens da África, Ásia e América Latina. Mas múltiplas investigações apontam outro destino: a linha de montagem de drones militares usados pelo exército russo na guerra na Ucrânia.

Como funciona o esquema

O alvo principal são mulheres entre 18 e 22 anos, especialmente em países com alto índice de desemprego. A propaganda circula de forma maciça em redes sociais como TikTok, Telegram e Facebook, muitas vezes impulsionada por influenciadoras pagas para divulgar os benefícios. Algumas falam ainda em supostas experiências pessoais positivas no Tartaristão.

A promessa inclui cobertura de custos de viagem, hospedagem, curso de idioma e salários acima da média nos países de origem das candidatas. O discurso oficial fala em vagas na hotelaria, alimentação e outros setores civis.

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Ao chegar à Rússia, porém, diversas participantes relatam ter sido forçadas a trabalhar em fábricas de drones militares, de acordo com relatório da Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional publicado em maio. Denúncias citam condições duras de trabalho, jornadas extenuantes, salários muito inferiores aos prometidos, exposição a produtos químicos perigosos e vigilância constante. Dentro da zona econômica especial, o deslocamento também é restrito, com limitação severa da liberdade de movimento. Há relatos de que alguns passaportes de trabalhadoras foram retidos para impedir sua saída.

Produção de drones

De acordo com o Serviço de Inteligência Estrangeira da Ucrânia (FISU), em 2024, mulheres de 44 países, incluindo Moçambique, Colômbia, Mali e Sri Lanka, participaram do programa “Start”. A meta para este ano é atingir 77 países. A agência destacou que a Rússia enfrenta escassez de mão de obra devido à mobilização militar pela guerra, ao declínio demográfico e às restrições à migração de trabalhadores da Ásia Central. Segundo autoridades ucranianas, Alabuga está construindo moradias para 41 mil pessoas, o que indica planos em larga escala para a produção de drones. Mais de 90% dos participantes do “Start” já trabalham neste setor, diz o FISU.

Em dezembro passado, a emissora americana CNN informou que a fábrica de drones de Alabuga, a maior da Rússia, havia produzido mais de 5.700 unidades do modelo iraniano Shahed entre janeiro e setembro de 2024, mais do que o dobro do que foi fabricado ao longo de 2023. A sua meta é chegar a 10 mil drones do tipo Gerbera, de acordo com fontes de inteligência de defesa ucranianas. A mesma fábrica chamou atenção em julho, depois de reportagem transmitida pelo canal Zvezda, que exibiu diversos adolescentes ajudando na montagem dos equipamentos.

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Alabuga, localizada a mais de 1.000 quilômetros da fronteira entre Rússia e Ucrânia, foi alvo de pelo menos dois ataques de drones ucranianos até o mês de abril deste ano.

Risco de tráfico humano

As práticas do programa já despertaram a atenção da Interpol e de entidades de direitos humanos, que classificam o caso como possível tráfico humano — crime de repercussão internacional. Organizações como o Business & Human Rights Resource Centre questionam abertamente empresas como Meta, TikTok e Telegram, cobrando responsabilidades pelo papel de suas plataformas na promoção do Alabuga. Em abril, a filial da Interpol em Botsuana iniciou um inquérito sobre o programa, bem como alguns países, como África do Sul e Quênia. Na Argentina, uma ação judicial foi movida contra dois ex-participantes de um programa de TV que filmaram comerciais para o “Start”.

O governo sul-africano já emitiu alertas públicos a jovens mulheres sobre anúncios de vagas vinculados ao programa e afirmou que, a depender dos resultados de sua investigação, há possibilidade de medidas diplomáticas. O Ministério da Mulher e da Juventude no país expressou “grave preocupação com os recentes relatos de supostas ofertas de emprego que circulam nas redes sociais e que têm como alvo jovens sul-africanas de 18 a 22 anos em busca de oportunidades de emprego na Rússia”.

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A resposta oficial do Kremlin foi previsível. A embaixada russa em Pretoria e autoridades locais negaram qualquer irregularidade, descrevendo as denúncias como “acusações infundadas” e parte de uma “campanha de desinformação do Ocidente”. O site do programa, que não contém CNPJ nem telefone de contato no Brasil, continua a vendê-lo como uma “oportunidade de carreira”.

Reações das influencers

Nesta quarta-feira, MC Thammy foi aos stories do Instagram para se retratar. Ela apagou o vídeo em que promovia o Abaluga Start no TikTok e afirmou ter rompido o contrato com a empresa.

“Eu nunca concordaria nem apoiaria nada que fosse prejudicial às pessoas. Fiz a publi contratada, porque mostraram muitas coisas pra comprovar que, de fato, o programa existe, inclusive apresentando documentações. Também verificamos que essa publi estava sendo feita por influenciadores muitos grandes”, escreveu no Instagram. “Assim que surgiram acusações e ataques e após a repercussão negativa, eu já apaguei, devolvi e ativei a equipe jurídica para cuidar do caso e estamos acompanhando tudo de perto.”

Contatada pela reportagem de VEJA, Isabella Duarte ainda não se pronunciou.

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