A população do Reino Unido vai às urnas nesta quinta-feira, 5, em eleições regionais para representantes dos conselhos municipais, distritais e outras divisões da política local. Em um contexto mais amplo, no entanto, o pleito servirá como uma espécie de teste de popularidade do governo do primeiro-ministro Boris Johnson, envolvido em escândalos e crises que fizeram com que membros de seu próprio partido pedissem a renúncia do premiê.
A imagem de Boris Johnson está sendo continuamente arranhada desde que o escândalo do “Partygate” se tornou público no final do ano passado. Na ocasião, o premiê britânico foi acusado de realizar 17 festas na residência oficial do governo britânico, Downing Street, violando o lockdown que ele mesmo sancionou durante o período mais restritivo da Covid-19 no país.
Como consequência, o líder britânico acabou sendo multado pela Polícia Metropolitana de Londres em meados de abril deste ano, e começou a sofrer pressões dos partidos de oposição e também de membros de seu próprio Partido Conservador, que exigiram que Johnson renunciasse ao cargo.
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Apesar de ter se desculpado pelo incidente, e ter declarado que não iria ceder à pressões de renúncia, o primeiro-ministro continuou envolvido em outras polêmicas.
Na semana passada, um membro de seu partido foi acusado de misoginia, depois de sugerir ao jornal Mail on Sunday que Angela Rayner, vice-líder do Partido Trabalhista, de oposição, tentou seduzir Johnson no Parlamento ao cruzar as pernas. O político então comparou a situação ao ato da personagem de Sharon Stone no filme Instinto Selvagem (1992).
O premiê tentou se esquivar do escândalo, e condenou as declarações como “terríveis”. No entanto, no último sábado, 30, outro legislador do Partido Conservador, Neil Parish, renunciou após admitir ter assistido a conteúdos pornográficos várias vezes na Câmara dos Comuns, a câmara baixa do Parlamento britânico. Outros 56 membros do Parlamento, incluindo políticos do gabinete de Johnson, foram denunciados por assédio e sexismo.
Paralelamente, o primeiro-ministro enfrenta uma grave crise econômica, com a mais alta inflação no Reino Unido em 30 anos. Embora a crise do custo de vida seja impulsionada por vários fatores, incluindo a recuperação da pandemia e a guerra na Ucrânia, o cenário caótico está sendo atribuído ao Brexit, cuja campanha foi liderada por Johnson.
Um relatório da semana passada do UK in a Changing Europe, uma organização de pesquisa independente, estimou que desde que, após o Brexit, quando o Reino Unido deixou o mercado único e a união aduaneira da União Europeia em janeiro de 2021, os preços dos alimentos aumentaram 6%.
Apesar disso, alguns analistas estimam que os resultados das eleições locais que começaram hoje podem não refletir a ampla insatisfação dos eleitores com Johnson, que está presente nas pesquisas de opinião praticamente todas as semanas.
“Nas eleições locais, os eleitores avaliam critérios diferentes dos critérios das eleições nacionais”, explica Chris Curtis, chefe de pesquisas políticas da Opinium Research.
Em geral, grandes temas internacionais não costumam ter grande influência em pleitos locais. Em circunstâncias normais, pouco importa para o eleitor que vai escolher um novo conselheiro municipal em uma cidadezinha no norte da Inglaterra se o primeiro-ministro vai enviar ajuda militar à Ucrânia.
Contudo, há quem especule que os desdobramentos da guerra na dinâmica local, como o aumento do custo de vida, são, sim, determinantes na hora de votar. Será ainda o primeiro pleito regional nesta nova fase da pandemia e as lideranças locais serão julgadas por sua conduta no período.