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Com cautela, países do Brics criticam fala de Trump sobre tarifa adicional de 10%

Presidente americano prometeu retaliações ao bloco, que está reunido no Rio até esta segunda-feira

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 jul 2025, 10h13 - Publicado em 7 jul 2025, 10h01

Os países do Brics, que reúne as principais economias emergentes do mundo, reagiram nesta segunda-feira, 7, com críticas cautelosas ao anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre uma tarifa adicional de 10% aos membros do bloco, que ele acusou de sustentar “políticas antiamericanas”.

A China adotou o tom mais forte, embora ainda calculado, ao declarar que se opõe ao uso de tarifas como uma ferramenta de coerção. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país, Mao Ning, disse a repórteres que a taxação “não serve a ninguém”, ecoando os posicionamentos anteriores de Pequim sobre a guerra comercial “não ter vencedores”.

O Ministério do Comércio da África do Sul, por sua vez, emitiu comunicado para enfatizar que “não é antiamericana”. Segundo a pasta, o país tem interesse em negociar um acordo comercial bilateral com os Estados Unidos, um projeto que começou em maio, quando o líder americano recebeu o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, para conversas na Casa Branca. Washington sustenta que quaisquer nações que não firmarem um pacto até esta quarta-feira, 9, serão punidas com taxações a partir de 1º de agosto.

“Ainda aguardamos uma comunicação formal dos Estados Unidos a respeito de nosso acordo comercial, mas nossas conversas continuam construtivas e frutíferas”, disse à agência de notícias Reuters o porta-voz do ministério, Kaamil Alli. “Como já comunicamos anteriormente, não somos antiamericanos”, sublinhou.

A Rússia, enquanto isso, declarou que o Brics nunca trabalhou para prejudicar outros países.

“É muito importante observar aqui que a singularidade de um grupo como o Brics é que ele é um grupo de países que compartilham abordagens comuns e uma visão de mundo comum sobre como cooperar com base em seus próprios interesses”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, quando questionado por repórteres sobre as falas de Trump. “E essa cooperação dentro do Brics nunca foi e nunca será direcionada contra terceiros países”, completou.

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Ao tomar nota da nova ameaça dos Estados Unidos, a Malásia, que foi aceita como país parceiro (não como membro efetivo) do Brics em outubro passado, afirmou que mantém uma política externa e econômica independente e está focada na facilitação do comércio, não no alinhamento ideológico.

Tarifas de 10%

O presidente Trump ameaçou, na noite de domingo 6, impor uma taxa adicional aos países que se alinharem às políticas dos países do Brics, após o grupo expressar “sérias preocupações” com a imposição de tarifas unilaterais.

“Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics pagará uma tarifa ADICIONAL de 10%. Não haverá exceções a essa política”, disse em uma publicação na Truth Social, sua rede social.

Bem em seu estilo, ele não deu mais informações sobre quais nações seriam atingidas com a nova taxa. O político republicano também não explicou o que quis dizer com “políticas antiamericanas”.

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Os países do Brics — originalmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, e recentemente expandido para incluir Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã — iniciaram uma cúpula de dois dias no domingo, no Rio de Janeiro. O grupo emitiu um comunicado que alfinetou as tarifas e a política externa do governo Trump, mas sem mencionar diretamente o presidente ou os Estados Unidos.

O comunicado afirmou que as tarifas unilaterais reduziram o comércio global, interromperam as cadeias de suprimentos e introduziram incerteza no comércio internacional. E condenou os ataques militares ao Irã no mês passado, chamando-os de “uma violação do direito internacional”. Washington se juntou a Israel no ataque ao Irã, que ambos os países justificaram como uma campanha voltada às instalações nucleares de Teerã para impedir que a nação desenvolva uma bomba atômica.

Declaração do Brics

No domingo 6, a cúpula de líderes do Brics divulgou uma declaração final que, embora condene os ataques recentes ao Irã, evita responsabilizar diretamente os Estados Unidos e Israel, principais autores das ofensivas contra o país persa. O texto optou por uma linguagem diplomática mais amena, suavizando a participação americana em conflitos recentes e evitando críticas à Rússia em relação à guerra na Ucrânia.

Na cláusula 21, a declaração “condena os ataques militares contra a República Islâmica do Irã desde 13 de junho de 2025”, classificando-os como violações do direito internacional e da Carta das Nações Unidas. “Expressamos profunda preocupação com a subsequente escalada da situação de segurança no Oriente Médio”. No entanto, os nomes de Israel e EUA não aparecem diretamente no texto – a crítica se limita a uma condenação genérica de ações contra a infraestrutura civil e instalações nucleares iranianas.

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O texto visa preservar a imagem do Brics para que fosse rotulado como anti-Ocidente ou contrário a Trump. Países como Índia, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e até o Brasil trabalharam para suavizar o tom exigido pelo Irã, que pressionava por uma responsabilização direta de Washington e Tel Aviv nos conflitos contra o país.

Sobre a guerra da Ucrânia, o documento final sequer a menciona ou faz algum tipo de censura à Rússia, silêncio que evidencia a cautela do grupo em confrontar Moscou, membro influente do Brics. A ausência de referências ao conflito reforça o equilíbrio buscado pelos líderes do bloco, que preferiram evitar tensões ao adotar uma abordagem mais genérica em sua declaração oficial.

As negociações, marcadas por divergências internas, deixaram claro os desafios trazidos pela expansão do Brics com a entrada de novos membros do Oriente Médio, cujas visões políticas sobre temas delicados, como Israel e Palestina, são bastante distintas. O texto final, contudo, reafirma o apoio do bloco à adesão plena da Palestina às Nações Unidas e à criação de dois Estados como saída para o conflito.

Embora mencione os termos “Israel” ou “israelense”, o comunicado oficial deixa de lado qualquer evidente responsabilização dos EUA e evita completamente o tema da guerra na Ucrânia, em clara tentativa de projetar uma imagem menos polarizada no cenário internacional classificado como “adverso” pelo presidente Lula, em discurso, mais cedo.

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