O Sri Lanka iniciou investigação sobre conexões de grupos terroristas estrangeiros aos responsáveis pelos oito ataques suicidas em igrejas, condomínios residenciais e hotéis no último domingo 21. O americano FBI e a Interpol enviaram equipes para ajudar na tarefa. O maior atentado terrorista da história do país deixou 290 mortos e cerca 500 feridos no dia anterior e foi atribuído pelo governo à organização extremista islâmica National Thowheet Jama’ath (NTJ).
O governo do Sri Lanka decretou estado de emergência desde a meia-noite (15h30, em Brasília) desta segunda-feira, 22, em nome da “segurança pública”. As autoridades cingalesas anunciaram a detenção de 24 pessoas, mas não revelaram detalhes sobre nenhuma delas, e temem haver outros atentados em preparação.
O porta-voz do governo do Sri Lanka, que apontou a autoria do grupo NTJ, disse não entender “como uma pequena organização neste país poderia fazer tudo isto”. “Estamos investigando sobre uma possível ajuda estrangeira e seus outros vínculos, como formaram homens-bomba, como produziram as bombas”, completou.
O NJT se tornou conhecido no ano passado por atos de vandalismo contra estátuas budistas. A polícia foi alertada há 10 dias que o grupo preparava atentados suicidas contra igrejas e a embaixada da Índia em Colombo.
“Os serviços de inteligência informaram que há grupos terroristas internacionais por trás dos terroristas locais”, afirmou o presidente cingalês, Maithripala Sirisena, durante um encontro com diplomatas estrangeiros.
No domingo de Páscoa, atentados suicidas coordenados espalharam o terror em hotéis e igrejas que celebravam a missa em vários pontos da ilha do sudeste da Ásia. O Sri Lanka não registrava tanta violência desde o fim da guerra civil, há 10 anos. Os ataques não foram reivindicados até o momento, apesar de o governo apontar o NTJ.
Ao menos 31 estrangeiros – indianos, portugueses, turcos, britânicos, australianos, japoneses, quatro americanos, dinamarqueses e um francês – foram mortos nos atentados. Outros 14 continuam desaparecidos e podem estar entre as vítimas ainda não identificadas.
Entre os dinamarqueses estão três dos quatros filhos do bilionário Anders Holch Povlsen, dono do grupo de moda Bestseller e acionista majoritário da marca ASOS.
Novas explosões
Destino turístico muito procurado por suas praias idílicas e natureza selvagem, o Sri Lanka foi palco de oito explosões. Quatro deles se deram em Colombo – nos hotéis de luxo à beira-mar Cinnamon Grand Hotel, Shangri La e Kingsbury e na igreja de Santo Antônio. Também foram detonadas bombas na igreja de São Sebastião de Negombo e na cidade de Batticaloa, na costa leste da ilha.
Poucas horas depois aconteceram outras duas explosões. A primeira, no hotel Dehiwala, no subúrbio de Colombo, e a segunda, em Orugodawatta, zona norte da capital, onde um homem-bomba detonou sua carga durante uma operação policial.
No domingo à noite, uma bomba de fabricação caseira foi encontrada e desativada na estrada que segue até o aeroporto de Colombo. Nesta segunda-feira, a polícia do Sri Lanka anunciou ter encontrado 87 detonadores na rodoviária de Bastian Mawatha, em Pettah, bairro da capital que fica entre os hotéis e as igrejas atingidos pelas explosões.
Também foi registrada uma explosão na capital durante uma operação para desativar uma bomba em uma caminhonete estacionada perto de uma das igrejas atacadas no domingo. As autoridades não informaram sobre vítimas.
Do Vaticano aos Estados Unidos, passando pela Índia, o mundo condenou de maneira unânime os atentados. Quase 1,2 milhão de católicos vivem no Sri Lanka, um país de 21 milhões de habitantes, onde os cristãos representam apenas 7% da população, majoritariamente budista (70%). O país também tem 12% de hinduístas e 10% de muçulmanos.
Desolação
Nesta segunda-feira, o necrotério de Colombo registrou inúmeras cenas de desolação. “A situação não tem precedentes”, disse um funcionário que pediu anonimato. “Pedimos aos parentes que apresentem mostras de DNA para nos ajudar a identificar alguns corpos muito mutilados”.
Dilip Fernando, um católico de Negombo, cidade a 30 quilômetros de Colombo, capital do Sri Lanka, estava parado diante da igreja de São Sebastião. Ele não entrou no templo no domingo porque estava lotado e, por isso, escapou do massacre causado por um suicida.
“Se a igreja estivesse aberta, eu entraria. Não temos medo. Não vamos deixar que os terroristas ganhem. Nunca! Vou continuar frequentando a igreja”, declarou.
Dezenas de pares de calçados pertencentes às vítimas estavam no chão, diante do templo. Dentro, as telhas caídas se misturavam aos escombros. As paredes e as imagens de santos estavam repletas de estilhaços.
No Aeroporto Internacional de Colombo, turistas nervosos e exaustos aguardavam na fila enquanto soldados fortemente armados vigiavam a entrada principal e vários acessos. O objetivo dos estrangeiros é sair o mais rápido possível do Sri Lanka.
Martin Ewest, um professor alemão de 44 anos, chegou à ilha há alguns dias para umas férias relaxantes com a família. “Queremos sair o mais rápido possível”, disse ele, que enfrenta a a resistência da companhia aérea para antecipar seu retorno e a falta de ajuda do hotel e da embaixada. “É uma situação difícil, somos alvos fáceis, até podermos partir na próxima semana.”
(Com AFP)