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Com pautas quentes, Lula se reúne com chefe da diplomacia dos EUA

Antony Blinken foi a Brasília antes de encontro de chanceleres do G20 no Rio; bilateral abordou pontos de discordância, como Ucrânia e Israel

Por Da Redação
Atualizado em 7 Maio 2024, 17h07 - Publicado em 21 fev 2024, 10h25
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  • O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, chefe da diplomacia do país, se reuniu nesta quarta-feira, 21, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois do encontro, que durou 1h50, o petista disse que os dois conversaram sobre uma série de temas comuns à agenda de ambos os países, como a iniciativa pela melhoria da condição dos trabalhadores – lançada em conjunto com o presidente americano, Joe Biden – e a questão climática e da transição à uma economia com energia limpa. Mas também registrou que abordaram assuntos em que Brasília e Washington estão menos alinhados: as guerras na Ucrânia e em Gaza.

    “Recebi o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken. Conversamos sobre o G20, a iniciativa pela melhoria da condição dos trabalhadores que lançamos com o presidente Biden, a proteção do meio ambiente, a transição energética, a ampliação dos laços de investimento e cooperação entre nossos países e sobre a paz na Ucrânia e em Gaza”, escreveu Lula no X, antigo Twitter.

    Os dois foram acompanhados por pelo assessor especial para relações internacionais, o embaixador Celso Amorim, e pela embaixadora americana no Brasil, Elizabeth Bagley.

    A reunião ocorreu em meio a uma crise diplomática entre Brasil e Israel, desencadeada por uma fala em que Lula comparou as ações militares israelenses contra os palestinos em Gaza ao Holocausto, que matou mais de 6 milhões de judeus durante o regime nazista de Adolf Hitler. “Sabe, o que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não existe em nenhum outro momento histórico. Aliás, existiu quando Hitler resolveu matar os judeus”, disse o presidente brasileiro.

    O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, já havia declarado na terça-feira 20 que os Estados Unidos, maiores aliados de Israel, “obviamente discordam” das críticas do mandatário brasileiro. “Fomos bastante claros que não acreditamos que um genocídio ocorreu em Gaza. Queremos ver o conflito encerrado quando for possível. Queremos ver o aumento de ajuda humanitária para civis em Gaza. Mas não concordamos com esses comentários”, declarou Miller.

    Acredita-se que Blinken tenha abordado durante a reunião o caso que continua quente. Segundo o Itamaraty, o presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim do conflito em Gaza, e “ambos concordaram com a necessidade de criação de um Estado palestino”.

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    Subida de tom

    Na segunda-feira 19, em resposta a Lula, o governo israelense declarou o presidente persona non gratano país e convocou o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para uma reprimenda.

    + A primeira reunião do fórum de negócios do G20 sob presidência do Brasil

    Depois disso, o governo Lula chamou Meyer de volta ao Brasil, como adiantou o Itamaraty a VEJA na segunda-feira, para “consultas”. O Itamaraty também anunciou na segunda-feira que convocou o embaixador israelense em Brasília, Daniel Zonshine, para comparecer a uma reunião com o chanceler Mauro Vieira.

    Na terça-feira, Katz deu sinal de que a briga está longe do fim. Numa postagem no X, antigo Twitter, o chanceler israelense subiu o tom com Lula e exigiu uma retratação por sua fala, que qualificou como “promíscua, delirante”, além de “um cuspe no rosto dos judeus brasileiros”. O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, devolveu: disse que os comentários de Katz foram “inaceitáveis”, “mentirosos” e “vergonhosos para a história diplomática de Israel”.

    + O duro ataque do chanceler israelense a Lula: ‘Cuspiu no rosto dos judeus’

    Guerra na Ucrânia

    Blinken também vai participar nesta quarta-feira do encontro dos chanceleres do G20, grupo que reúne as maiores economias do mundo, no Rio, onde ficará cara a cara com o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov. No momento, as relações entre Washington e Moscou estão bastante tensionadas. Além da guerra na Ucrânia, na qual os americanos tomaram partido do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, as tensões se elevaram na semana passada por conta da morte do líder opositor russo Alexey Navalny.

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    Já Lula se coloca como uma espécie de moderador nas discussões de política externa, tentando adotar uma voz neutra. Portanto, evitou acusar o presidente russo, Vladimir Putin, pela morte de Navalny, como fizeram os Estados Unidos.

    A questão venezuelana

    Os Estados Unidos, no ano passado, decidiram suspender temporariamente as sanções sobre o setor energético da Venezuela como parte de um acordo que previa a libertação de presos políticos pelo regime de Nicolás Maduro e também como um incentivo para a realização de eleições livres e justas. Alguns presos foram soltos, no entanto, o líder venezuelano não retirou restrições contra candidatos opositores, ainda impedidos de figurarem nas urnas, o que levou Washington a retomar o bloqueio econômico.

    Na última sexta-feira, 16, o secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Brian Nichols, afirmou que o Brasil tem “importantes laços e conexões com as autoridades de Maduro e é capaz de lhes enviar mensagens-chave”.

    Lula, porém, permanece em silêncio diante dos obstáculos impostos a opositores por Maduro, que, pelo andar da carruagem, deve vencer as eleições previstas para o segundo semestre deste ano. O petista já disse que a ditadura venezuelana é uma “narrativa” construída.

    O presidente brasileiro também se esquivou de comentar as denúncias recentes à Venezuela, como as prisões de opositores a Maduro e a expulsão de agentes das Nações Unidas. Esse assunto deve ser abordado durante a reunião do G20.

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    Em comunicado, o Itamaraty afirmou que Blinken, durante a reunião com Lula “agradeceu a atuação do Brasil pelo diálogo entre Venezuela e a Guiana”.

    Aliado na América Latina

    Também esperava-se que Blinken falasse com o Brasil sobre o apoio ao Haiti, que enfrenta uma grave crise humanitária e de segurança. A comunidade internacional luta para formar uma força policial multinacional, que ficaria sob comando do Quênia, para lidar com o país tomado por gangues.

    Em dezembro passado, Blinken conversou com o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, sobre o assunto. Os diplomatas discutiram o apoio à Missão Multinacional de Segurança no Haiti. Em outubro, as Nações Unidas chancelaram o envio de uma força ao país, liderada pelo Quênia, para cooperar com a polícia nacional.

    Brasil-EUA

    Blinken chegou a Brasília na noite de terça-feira 20, dando largada à viagem que também o levará ao Rio, para o encontro dos chanceleres do G20, grupo das maiores economias do mundo, e à Argentina, para uma reunião com o presidente Javier Milei.

    O Departamento de Estado americano adiantou que Lula e Blinken tratariam de assuntos bilaterais e globais, e o secretário pretende demonstrar o apoio dos Estados Unidos à presidência inédita do Brasil no G20. Além disso, neste ano, os países celebram 200 anos de relações diplomáticas.

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    Durante a visita, Blinken vai “reafirmar nosso interesse mútuo [do Brasil e dos Estados Unidos] em garantir a paz internacional, reconhecer os direitos dos trabalhadores, promover a igualdade racial e acabar com o desflorestamento”, disse o Departamento de Estado antes do encontro, mas esperava-se que ele abordasse o atrito diplomático entre Brasília e Tel Aviv.

    Esta é a primeira visita de Blinken como secretário de Estado ao país. As relações entre os Estados Unidos e o Brasil melhoraram após Jair Bolsonaro (PL) deixar o poder, dada a incompatibilidade entre ele e Biden – o ex-presidente brasileiro era mais próximo ideologicamente do republicano Donald Trump.

    No entanto, o presidente americano, Joe Biden, nunca veio ao país desde que assumiu a Casa Branca, em 2021, apesar dos convites do Planalto. Uma das primeiras visitas de Estado de Lula, no ano passado, foi a Washington – lá, ele e Biden focaram apenas no que tem em comum, como o combate às mudanças climáticas e a defesa da democracia.

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