Destino preferido de imigrantes e turistas brasileiros, a Flórida pode se tornar os centros das atenções mundiais na próxima semana por outro motivo que não seus parques de diversão e belíssimas praias. A menos de uma semana das eleições presidenciais, a contagem das urnas no estado do sul dos Estados Unidos pode ser o primeiro grande indicativo do vencedor da corrida pela Casa Branca.
A organização da votação na Flórida acredita que o estado deve ser um dos primeiros a liberar os resultados parciais no dia 3 de novembro. E a história recente mostra que o candidato declarado vencedor por ali tem grandes chances de ser declarado o ganhador nacional.
Em outros estados como Pensilvânia e Wisconsin, a contagem dos votos pelo correio pode levar dias após o fechamento das urnas. Já na Flórida as cédulas estão sendo contabilizadas assim que chegam ao órgão eleitoral, o que deve adiantar muito a divulgação do resultado local.
Tanto a campanha do candidato do Partido Democrata, Joe Biden, quanto a do presidente Donald Trump, que busca a reeleição, vêm investindo pesado em anúncios no estado. Mas Biden – que arrecadou consideravelmente mais do que Trump desde o verão – apostou ainda mais alto que seu adversário republicano, na esperança de alterar a ligeira vantagem dos conservadores nas últimas disputas na região.
Segundo a média das principais pesquisas nacionais calculada na tarde desta quarta-feira, 28, o atual presidente lidera na Flórida com uma vantagem de aproximadamente 0,2 pontos percentuais. Poucos dias atrás, porém, a vantagem era do seu concorrente, o ex-vice-presidente de Barack Obama.
Para analistas políticos, se Biden vencer no estado do sul, Trump precisará de um desempenho ainda mais extraordinário no restante do país para compensar a perda, já que o democrata também lidera em outros estados-chave como Arizona, Michigan e Pensilvânia.
“Saberemos dos resultados na Flórida no próprio dia da eleição ou no dia seguinte”, diz o analista político e sociólogo da Universidade Columbia, Robert Y. Shapiro. “Trump tem que ganhar no estado como fez em 2016, ou sua posição estará em grande risco”.
A eleição do magnata há quatro anos foi atribuída em grande parte à sua capacidade de conquistar votos em estados que alternam frequentemente sua preferência entre republicanos e democratas, como a Flórida.
Diferentemente do Brasil, o voto nos Estados Unidos não vai diretamente para os candidatos escolhidos pela população. O que os competidores buscam é conquistar a maioria dos votos dos delegados que compõem o Colégio Eleitoral.
Nesse sistema, cada estado recebe um certo número de delegados baseado no tamanho de sua população. Em geral, o candidato que receber mais votos populares em uma região leva todos os representantes eleitorais correspondentes. Ao final, aquele que tiver 270 ou mais delegados é declarado vencedor.
Dessa forma, o vencedor não é sempre o candidato que tem mais votos em nível nacional, e sim o que conquista mais eleitores em estados-chave. Todos os anos eleitorais, a Flórida entra na lista de regiões mais importantes, já que dá ao seu vencedor recebe 29 delegados no Colégio Eleitoral.
“A Flórida é importante porque, além da competição estar muito acirrada no estado, o candidato que ganhar por aqui receberá muitos delegados, mais até do que em outros estados pêndulos”, diz Hans Hassell, cientista político e professor da Universidade do Estado da Flórida.
“Só Califórnia, Nova York e Texas dão mais ou a mesma quantidade de delegados”, avalia Shapiro. “Vinte e nove é muita coisa no contexto atual”.
O voto antecipado no estado foi aberto na segunda-feira 19. Por conta da pandemia, muitos eleitores deciram votar antecipadamente em centros instalados em escolas e ginásios ou enviar seus votos pelo correio.
Disputa acirrada
Apesar da vantagem de Trump nas pesquisas, ainda é cedo demais para o atual presidente cantar vitória no Estado. Ali, em todos os pleitos recentes a diferença entre republicanos e democratas variou em torno de 1% – e por isso os resultados dificilmente podem ser previstos.
Porém, nas eleições de 2018 e 2016, os conservadores levaram a melhor. Há dois anos, o atual governador Ron DeSantis, aliado de Trump, venceu o candidato democrata Andrew Gillum na disputa pelo governo estadual por 49,59% contra 49,19%. Naquele mesmo ano, na briga pelo Senado, o ex-governador republicano Rick Scott derrotou o senador Bill Nelson por 50,06% contra 49,93%. Os resultados ficaram em disputa por 12 dias seguindo a recomendação legal de recontagem quando a margem de vitória é menor de 0,5%.
Em 2016, Trump venceu no estado com 49,02% contra 47,82% de Hillary Clinton. Uma margem de apenas 1,2%. Em 2012, na mas recente vitória democrata, Barack Obama ganhou do republicano Mitt Romney por uma margem ainda menor: 50,01% contra 49,13%.
O que está em jogo
“Os temas que importam para os eleitores da Flórida são os mesmos em voga no resto do país: a recuperação econômica, a pandemia de coronavírus e a violência dos protestos de junho”, diz Hans Hassell. “Biden e Trump tentam se aproveitar de seus pontos fortes em cada um desses tópicos”.
Na Flórida, 14% dos eleitores habilitados são afro-americanos. A expectativa em 2020 é que a maior parte da população negra vote em Biden, que também atrai mais latinos, imigrantes de outras nacionalidades e mulheres.
“Creio que mais eleitores negros se prepararam para votar neste ano do que em 2016″, disse Larry Walker, professor da Universidade Central da Flórida ao canal de televisão Denver Channel. Nos Estados Unidos o voto não é obrigatório, o que torna o comparecimento às urnas um fator importante no momento de determinar o vencedor.
Já os latinos compõe 20% do eleitorado desse estado que há décadas atrai imigrantes da América Central e do Sul. Justamente por isso o tema da imigração é um dos tópicos mais importantes na Flórida.
Durante seus quatro anos de mandato, Donald Trump foi um dos mais ferozes presidente na luta contra a imigração legal. Endureceu as regras para a solicitação de refúgio no país e tentou acabar com o programa que garantia trabalho e visto de permanência para jovens cujos país vieram de outros países. Sua gestão ainda foi marcada por recordes nas prisões de imigrantes na fronteira – 460.294 entre abril e outubro de 2019 –, e em denúncias de violações de direitos humanos em centros de detenção superlotados e com péssimas condições de vida.
Por essas razões, o atual presidente encontra mais resistência entre algumas comunidades latinas. Biden, por outro lado, advoga por uma política imigratória menos agressiva. O democrata apoia uma reforma abrangente, com o fim das políticas do governo Trump e o fechamento dos centros de detenção privados, e por isso pode obter mais simpatizantes no estado.
Não há, porém, uma uniformidade. No sul da Flórida, por exemplo, há uma grande população de descendência cubana, que tende a ser mais conservadora e pende para o Partido Republicano. “Os partidos podem tentar passar mensagens específicas para essa população, mas em geral padronizam sua campanha de forma que todos os estados sejam atingidos”, diz Hassell.