Como a imprensa internacional tem repercutido denúncia contra Bolsonaro
Caso ganhou destaque em uma série de veículos internacionais, incluindo o americano The New York Times, o britânico The Guardian e o espanhol El País

A Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciou nesta terça-feira, 18, o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado. Ele também foi acusado pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. A notícia ganhou destaque em uma série de veículos internacionais, incluindo o americano The New York Times, o britânico The Guardian e o espanhol El País.
Um dos principais jornais dos Estados Unidos, o NYT afirmou que as acusações, detalhadas em um documento de 272 páginas, “sugerem que o Brasil chegou muito perto de mergulhar de volta, na prática, em uma ditadura militar, quase quatro décadas após o início de sua democracia moderna”.
A reportagem destacou, ainda, que trata-se do “capítulo mais recente de uma saga de anos no Brasil que inclui o descrédito do Sr. Bolsonaro nos sistemas de votação do país; uma eleição tensa na qual o Sr. Bolsonaro nunca aceitou totalmente a derrota; uma invasão dos corredores do poder por seus apoiadores; e uma investigação de alto nível que deixou seu companheiro de chapa na prisão desde dezembro.”

O jornal britânico The Guardian indicou que “talvez o mais chocante seja que o relatório de 272 páginas do procurador-geral alegou que Bolsonaro estava ciente de uma suposta conspiração — que, segundo ele, “recebeu o nome sinistro de ‘Adaga Verde e Amarela'” — para semear o caos político por meio do assassinato de autoridades importantes, incluindo Lula e o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes”.
O texto também relembrou o ataque de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes, há dois anos, dizendo: “Bolsonaro perdeu a votação para Lula, mas se recusou a aceitar a derrota e, em 8 de janeiro de 2023, seus apoiadores mais ferrenhos fizeram um motim na capital Brasília, destruindo o palácio presidencial , o congresso e o supremo tribunal em uma tentativa de anular o resultado aceito internacionalmente”.

O espanhol El País, por sua vez, informou que outras “33 pessoas foram acusadas, incluindo vários de seus ministros e um ex-chefe da Marinha. Um dos acusados, o militar reformado Walter Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente, está preso por obstrução das investigações”, frisando que “nunca antes um general quatro estrelas brasileiro foi preso”. A matéria apontou que Bolsonaro “está a um passo de sentar no banco dos réus” e que ele seguiu a cartilha do presidente dos EUA, Donald Trump.
“O ex-militar foi derrotado nas eleições de novembro de 2022 por Lula no resultado eleitoral mais apertado da história do Brasil, menos de dois pontos. Meses antes da votação, ele lançou uma campanha para semear dúvidas sobre a segurança das urnas e abrir caminho para futuras reivindicações, seguindo o roteiro de seu principal ídolo, o presidente Donald Trump”,

O portal de notícias alemão Deutsche Welle relatou que “o suposto plano era envenenar Lula e matar a tiros o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, um dos antigos inimigos de Bolsonaro” e que “a organização criminosa liderada por Bolsonaro teria pressionado os chefes do Exército”. O francês Le Monde também salientou, no título, que um dos objetos da trama era “envenenar Lula” e que, agora, cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF) “pesar as acusações e decidir se vai iniciar procedimentos contra Bolsonaro”.
“O Supremo Tribunal condenou quase 400 pessoas pela invasão de assentos de poder”, acrescentou o Le Monde. “Horas antes das acusações serem apresentadas, Bolsonaro disse a jornalistas em Brasília que não tinha “nenhuma preocupação” sobre a possibilidade de ser indiciado.”
Também na Europa, o jornal italiano Corriere della Sera disse que “a hipótese é que uma rede de conspiradores, com elementos em posições-chave nas Forças Armadas e no governo, atuou em vários níveis para manter a direita no poder” e que “outras peças então se encaixaram no quebra-cabeça dos investigadores: Bolsonaro deixou o país pouco antes do fim de 2022 para se mudar para os Estados Unidos, evitando a entrega do poder a Lula”.