Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99

Como ficam as negociações Israel-Hamas após onda de ataques contra Gaza?

Bombardeios mataram ao menos 404 pessoas, segundo autoridades palestinas, e ocorreram em meio a impasse nas conversas sobre futuro da trégua

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 18 mar 2025, 19h54 - Publicado em 18 mar 2025, 09h55

Faz semanas que as negociações entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas para estender o frágil cessar-fogo na Faixa de Gaza estão travadas. E com uma onda de violentos ataques aéreos israelenses contra o enclave, na madrugada desta terça-feira 18, a trégua parece ter entrado em colapso. Mas os bombardeios podem fazer parte de uma estratégia de Tel Aviv para quebrar o impasse.

As negociações paralisaram porque o Hamas se recusou a libertar reféns até que Israel prometa encerrar permanentemente a guerra — uma medida que se recusa a tomar a menos que o grupo palestino concorde em deixar o governo de Gaza para sempre.

Agora, embora as forças israelenses não tenham retomado (por enquanto) uma invasão terrestre, os ataques pesados ​​serviram de lembrete do risco que o Hamas e a população civil de Gaza enfrentam caso não haja consenso sobre uma extensão da fase 1 da trégua, que não inclui negociações sobre o fim permanente da guerra. A investida parece ser uma estratégia para pressionar o grupo a fazer concessões.

Estratégia de pressão

Maior ataque de Israel em meses, os bombardeios desta madrugada mataram ao menos 404 pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, que não faz distinção entre civis e combatentes. Autoridades do Hamas disseram que quatro dos mais altos membros civis do governo e chefes de polícia do território estão entre os mortos. São eles: Mahmoud Abu Wafah, subsecretário do Ministério do Interior, Issam al-Dalis, chefe de obras públicas do governo, Ahmed al-Hatta, subsecretário do Ministério da Justiça, e Bahjat Abu Sultan, diretor geral do serviço de segurança interna.

Pela manhã, o Exército israelense ordenou que os moradores de aldeias perto da fronteira com Israel (Beit Hanoun, Khirbet Khuza’a, Abasan al-Kabira e Abasan al-Jadida) fugissem de suas casas, sugerindo a possibilidade de uma invasão nos próximos dias. Mas, ao se concentrar inicialmente em ataques com mísseis, Tel Aviv está “pressionando o Hamas a mostrar mais flexibilidade”, afirmou ao jornal americano The New York Times o analista e ex-oficial de inteligência israelense Michael Milstein.

Continua após a publicidade

Concessões improváveis

Faltou combinar com o Hamas. Não está claro como o grupo palestino vai responder, e ao que tudo indica não há disposição para abrir mão de suas exigências.

Até agora, Israel não sofreu retaliação. Não está claro, porém, se isso se resume à degradação das capacidades militares do Hamas. Mas o grupo também não mostrou sinais de recuar de sua posição nas negociações. Em uma declaração, os militantes afirmaram que Israel havia condenado os reféns ainda em cativeiro a um “destino desconhecido por violar e anular totalmente o acordo”.

Equipes de negociação de Israel e Hamas estavam em Doha no último fim de semana, enquanto mediadores do Egito e do Catar tentavam garantir termos para as próximas fases do acordo de cessar-fogo paralisado.

Continua após a publicidade

Steve Witkoff, o enviado especial de Trump que tem liderado as negociações junto ao Egito e Catar, alertou no fim de semana que o Hamas deve libertar reféns vivos imediatamente “ou pagar um preço alto”. A Casa Branca afirmou nesta terça-feira que foi informada previamente dos ataques israelenses a Gaza.

Na fase inicial do cessar-fogo, 33 reféns israelenses e cinco tailandeses foram devolvidos em troca da libertação de cerca de 2.000 palestinos detidos em prisões israelenses. Com o apoio dos Estados Unidos, Israel vinha pressionando o Hamas pela soltura de todos os 59 reféns restantes em Gaza em troca de uma extensão da fase 1 da trégua, que teria interrompido os combates até, pelo menos, depois do mês do jejum muçulmano do Ramadã e do feriado da Páscoa judaica, em abril.

No entanto, o Hamas vinha insistindo em avançar para as negociações para um fim permanente da guerra e uma retirada total das forças israelenses de Gaza, de acordo com os termos do cessar-fogo original.

Continua após a publicidade

Ambos os lados acusaram-se mutuamente de não respeitarem o acordo, em vigor desde 19 de janeiro, com vários soluços durante a primeira fase. Israel bloqueou entregas de ajuda humanitária a Gaza e ameaçou em várias ocasiões retomar a guerra se o Hamas não concordasse em devolver todos os reféns. Mas, até agora, um retorno total aos combates havia sido evitado.

Manobra política

Em Israel, a retomada da guerra foi recebida com reações mistas. Para os parentes das 59 pessoas ainda em posse do Hamas, metade dos quais acredita-se estarem vivos, “o governo israelense escolheu abandonar os reféns”, disse o Fórum das Famílias de Reféns e Desaparecidos em postagem no X (antigo Twitter).

Mas a decisão foi elogiada por políticos de direita que são contra o cessar-fogo e há muito exigem um retorno à guerra, para garantir a “destruição total” do Hamas. Itamar Ben-Gvir, chefe de um dos partidos que faziam parte da coalizão do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e que deixou o governo em janeiro em protesto contra a trégua, anunciou que retornaria ao governo, dando mais força a Bibi.

Continua após a publicidade

Críticos avaliam que Netanyahu ordenou os ataques por razões políticas, tanto para garantir o apoio de Ben-Gvir durante as próximas votações acirradas no Knesset, o Parlamento israelense, sobre o orçamento de 2025 (sem o qual novas eleições seriam convocadas, ameaçando seu cargo), quanto para criar uma distração enquanto planeja demitir Ronen Bar, o chefe da agência de inteligência doméstica de Israel, o Shin Bet. A medida suscitou denúncias de que o órgão deixaria de ser independente e serviria ao primeiro-ministro.

Mas, em sua declaração oficial anunciando a ação militar, o gabinete de Netanyahu justificou a operação como um esforço para salvar os reféns e culpou o Hamas pelo colapso das negociações.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.