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Como os ataques de Netanyahu contra o Hezbollah aumentam risco de guerra ampla

Sem encerrar o conflito contra o Hamas na Faixa de Gaza, Israel abre novo front, desta vez no Líbano

Por Ernesto Neves Atualizado em 27 set 2024, 12h03 - Publicado em 27 set 2024, 06h00

Na geopolítica internacional há poucas certezas, mas uma delas está mais do que comprovada: no Oriente Médio, a situação sempre pode piorar. Ocupando com tropas, blindados e bombardeios quase diários a Faixa de Gaza há quase um ano, em um conflito com o grupo palestino Hamas que já matou mais de 40 000 pessoas, o governo de Israel pôs em andamento uma nova ofensiva, contra o Hez­bollah, a milícia xiita que tem seu quartel-general no Líbano. Aliado de primeira hora do Hamas (ambos patrocinados pelo Irã), o Hezbollah, que domina o lado libanês da fronteira norte de Israel, vinha trocando mísseis e drones com as forças de defesa do Estado judaico desde 7 de outubro de 2023, quando um ataque-surpresa de comandos terroristas vindos de Gaza chacinou 1 200 pessoas. Nos últimos dias, porém, a temperatura neste explosivo naco de terra subiu a um ponto tal que, na quinta-feira 26, o governo israelense avisou que estava despachando soldados para a conflituosa vizinhança com o Líbano para uma possível invasão por terra.

Alegando estar agindo em prol do retorno para casa dos moradores deslocados desta porção fronteiriça, uns 80 000 israelenses ao todo, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ordenou, na segunda-feira 23, uma série de bombardeios que alcançou a capital, Beirute, e deixou 620 mortos — entre eles, os adolescentes brasileiros Ali Kamal Abdallah e Mirna Raef Nasser e outras cinquenta crianças — e 2 000 feridos. “Se não entenderam o recado, entenderão agora”, disse Netanyahu, em entrevista dada em abrigo militar subterrâneo. As estradas para Beirute ficaram congestionadas de carros, registrando uma multidão que já chega a quase 1 milhão de pessoas em fuga dos bombardeios, que deixaram o pior saldo de vítimas em um único dia desde a prolongada guerra civil libanesa (1975-1990). O Hezbollah reagiu, na quarta-feira 25, disparando um míssil (logo interceptado) contra a sede do Mossad, a agência de espionagem israelense, em Tel Aviv. Em 24 horas, veio a resposta de Israel na forma de um novo bombardeio na fronteira com a Síria.

ÊXODO - Libaneses pegam a estrada: quase 1 milhão de pessoas já fugiram da área sob bombas ao sul do país
ÊXODO - Libaneses pegam a estrada: quase 1 milhão de pessoas já fugiram da área sob bombas ao sul do país (//EFE)

Poucos dias antes, a cúpula militar israelense havia anunciado que ampliaria a ação militar na fronteira norte. E assim o fez. Numa ação que chocou por sua extensão e método, centenas de pagers e radiotransmissores usados pelo Hezbollah explodiram nas mãos dos usuários, causando a morte de quase quarenta pessoas e deixando outras 3 000 feridas. Tel Aviv não confirma envolvimento com o atentado, mas tudo indica que o Mossad plantou explosivos dentro de 5 000 aparelhos eletrônicos importados de Taiwan pela milícia.

Não está clara a intenção do governo de Israel ao escalar uma guerra que pode explodir em um conflito de dimensões no mínimo regionais. Um dos efeitos óbvios, no entanto, é desviar as atenções da operação em Gaza. Foi alheio à pressão da sociedade israelense, à frente de protestos semanais para que o governo faça um acordo de libertação dos reféns capturados durante o ataque terrorista do ano passado, e da comunidade internacional, inclusive aliados como o governo americano, hoje insistindo em um cessar-fogo, que o ministro da Defesa, Yoav Gallant, declarou que a guerra entrou em nova fase.

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SEM RECUO - Netanyahu: torcendo pela vitória de Donald Trump
SEM RECUO – Netanyahu: torcendo pela vitória de Donald Trump (Governo de Israel/Divulgação)

A indefinição em relação ao dia seguinte das ofensivas militares de Israel ajuda também a esticar o conflito enquanto não se define o próximo ocupante da Casa Branca, na eleição de 5 de novembro. Uma vitória de Donald Trump contra Kamala Harris seria benéfica para Netanyahu — o republicano é muito mais próximo dele e poderia garantir a sobrevivência do hoje impopular primeiro-ministro. “É provável que Netanyahu atrase qualquer solução até que Joe Biden deixe o poder”, afirma Steven Cook, do Council on Foreign Relations, de Nova York. “Com Trump, ele sabe que pode conseguir um acordo em termos muito mais vantajosos.”

Em seu derradeiro discurso na Assembleia Geral da ONU (leia na seção Imagem da Semana), na terça-feira 24, Biden afirmou que as pessoas em Gaza “estão passando pelo inferno” e que a solução definitiva para a paz virá com a criação do Estado palestino. A Casa Branca trabalha com mediadores do Egito, do Catar e da União Europeia para chegar a uma proposta de calma temporária, mas o governo de Bibi, ao menos por ora, rechaçou o plano. A luta contra o Hamas trouxe graves consequências para os israelenses, que lidam com a fadiga de militares, o baque na economia e a ansiedade pela volta dos reféns. “Além disso, o Hezbollah traz perigo muito superior ao Hamas”, diz Yoel Guzansky, do Instituto de Estudos de Segurança Nacional, de Tel Aviv. “É um Estado dentro do Estado, com capacidades militares sofisticadas.” Não há dúvida: o Oriente Médio vive no equilíbrio da corda bamba.

Publicado em VEJA de 27 de setembro de 2024, edição nº 2912

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